Luiza Trajano estava ansiosa nas últimas semanas. Depois de meses de negociação com a família Maia, a presidente do Magazine Luiza assinou na noite de quinta-feira, em São Paulo, a compra da Lojas Maia, uma das maiores varejistas do Nordeste. Arnaldo Maia, presidente da rede paraibana, vendeu o negócio de meio século sem ter que submetê-lo a uma auditoria, ou "due dilligence", prática mais do que recomendada em aquisições. Maia só apresentou o balanço de 2009, auditado pela Deloitte, e números gerenciais deste ano, segundo apurou o Valor.
O escritório de advocacia Mattos Filho, que atendeu o Magazine, começou a trabalhar no contrato apenas na quarta-feira. Um dos sócios do Demarest & Almeida, que há anos assessora a Lojas Maia, interrompeu as férias esta semana para voltar a São Paulo, uma vez que o fechamento do acordo não estava previsto. Nenhuma das reuniões aconteceu em João Pessoa, sede da Maia, para não despertar atenção. Na sexta-feira, nem assessores da diretoria na Paraíba sabiam que a empresa havia sido vendida.
O contrato foi fechado às pressas porque Luiza Trajano temia perder mais um negócio de peso que a faria ganhar escala no varejo nacional. Foi o que aconteceu em junho de 2009, quando o Pão de Açúcar comprou o Ponto Frio, cobiçado pelo Magazine. A rede paulista, com sede em Franca, também sondou a mato-grossense City Lar, que mês passado se uniu à Máquina de Vendas, segunda maior varejista de móveis, eletroeletrônicos e eletrodomésticos do país. Este ano, o Magazine chegou a conversar com a carioca Casa & Vídeo, que entabulou negociações mais próximas com a Lojas Americanas.
Pela Lojas Maia, o Magazine pagou R$ 290 milhões, mas desse total só R$ 100 milhões foram para os cinco acionistas da família. A maior parte do dinheiro será usada para liquidar dívidas da Maia, dona de 147 lojas nos nove Estados do Nordeste. A empresa já estava à venda há dois anos. Arnaldo Maia, de 68 anos, filho do fundador, Francisco, queria se dedicar a outros negócios, como suas fábricas de móveis e colchões. Com a crise, as propostas analisadas pelos Maia secaram. Há cerca de cinco anos, a rede havia recusado uma oferta da Casas Bahia, que só desembarcou no Nordeste no ano passado.
A região é estratégica para os varejistas. "O Nordeste é o mercado que mais cresce em bens duráveis", diz Oliver Römerscheidt, da consultoria GfK. Cerca de 14% da venda de linha branca está no Nordeste. Nos quatro primeiros meses do ano, a região saltou da quinta para a segunda posição na venda nacional de geladeiras, categoria responsável por mais da metade do faturamento de linha branca. O Nordeste representou 15% das vendas em unidades e 12% das vendas em valor de refrigeradores, perdendo só para o interior paulista (21%). A procura nordestina por geladeiras superou a da Grande São Paulo, que levou 14,7% das unidades no período.
Procurada pelo Valor, Eliza Maia, diretora comercial da Lojas Maia, recusou-se a falar sobre o assunto. Além dela e de Arnaldo (que estava em viagem na sexta-feira), também trabalham na empresa o marido de Eliza, Delci, e o sobrinho, Marcelo, filho de outra irmã que não está na operação, Míriam. Pelo contrato assinado na semana passada, não há indicação de que a família vá continuar no negócio. Mas é provável que a bandeira Lojas Maia seja mantida, pelo menos agora, uma vez que o nome Magazine Luiza é quase desconhecido do público nordestino. A maior concorrente é a baiana Insinuante, que integra a Máquina de Vendas.
Questionado sobre a compra, o Magazine limitou-se a enviar um convite à imprensa para "participar de um almoço com sabor bem brasileiro", hoje, no restaurante Brasil a Gosto, de Ana Luiza Trajano, filha de Luiza. "Na ocasião, esclareceremos todas as notícias relacionadas ao Magazine Luiza", diz o texto.
"Havia grande pressão sobre a Luiza para que ela fechasse uma compra", diz um consultor. A pressão foi reforçada no fim de 2009, quando o Pão de Açúcar se uniu a Casas Bahia, formando a Globex, maior rede de eletromóvel do país. Em março, com a criação da Máquina de Vendas (união de Ricardo Eletro e Insinuante), o Magazine caiu para a terceira posição no ranking.
No mesmo mês, em entrevista ao Valor, o superintendente do Magazine, Marcelo Silva, refutou qualquer chance de fusão. "Não acredito nesse negócio de juntar cobra com jacaré", disse à época, numa alusão à união entre Pão de Açúcar e Casas Bahia, que passou seis meses indefinida.
Veículo: Valor Econômico