Em um mês, preço do trigo aumenta 50%

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Mercado: Seca na Rússia e Europa explica alta; com proximidade da colheita, cotações no Brasil seguem estáveis


   
A longa estiagem nas lavouras de trigo da Rússia e em outras regiões da Europa está causando uma explosão nos preços internacionais do cereal. Ontem, os contratos de segunda posição na bolsa de Chicago subiram 4,29%, fechando a US$ 7,2350 o bushel. Trata-se do maior preço desde 26 de setembro de 2008. Desde 1º de julho, o mesmo contrato já se valorizou 50,65%, segundo o Valor Data. Apesar da disparada de preços, o mercado brasileiro continua inerte ao movimento externo. A razão para a "apatia" é que os moinhos nacionais estão abastecidos e a colheita no Brasil se aproxima.

 

A deficiente capacidade de armazenagem no país pode evitar que os preços por aqui sejam "contaminados" pelo mercado internacional, acreditam analistas. Ainda há armazens ocupados com o trigo de qualidade ruim da safra passada, além de soja e milho do ciclo 2009/10. Assim, sem espaço para abrigar o trigo que será colhido, o agricultor pode ser pressionado a vendê-lo mais cedo que imaginava.

 

Apesar das sucessivas valorizações da commodity nas bolsas internacionais - em Kansas, a segunda posição fechou ontem a US$ 7,6575 o bushel, alta de 3,69% no dia e de 44,56% desde 1º de julho, - no mercado interno, os preços do cereal continuam há mais de um mês nos mesmos patamares. No Paraná, a tonelada está em R$ 410, segundo informações da Safras & Mercado.

 

"Trigo de muito boa qualidade está sendo negociado a R$ 430, mas são negócios bem pontuais", esclarece Élcio Bento, analista da Safras & Mercado. Enquanto isso, a paridade de importação está em R$ 573 a tonelada, 25,6% maior do que em 1º de julho.

 

Neste momento, a maior oferta de trigo no mundo está concentrada nos Estados Unidos. Como é o mercado onde há o maior volume de negócios, é também o local em que se registram as maiores altas atualmente. A tonelada de trigo americano posto FOB (Free on Board) Golfo do México que estava em US$ 178 em 1º de julho, fechou ontem a US$ 266, alta de 49%, segundo a Safras.

 

Diante da forte alta, os moinhos brasileiros - que ainda estão abastecidos - saíram do mercado comprador, mas já se preocupam com a alta dos custos. "As indústrias estão abastecidas até meados de setembro e se os preços continuarem neste patamar até lá, não haverá saída. Vamos pagar mais", diz Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico. Por outro lado, acredita, isso aliviaria os cofres do governo que poderá reduzir os leilões para escoar trigo.

 

Os preços do trigo começaram a subir na primeira semana de julho com a forte estiagem na Rússia, na Europa e com inundações no Canadá. O Centro de Hidrometeorologia russo afirmou que as temperaturas no centro do país irão alcançar 42 graus até 7 de agosto. O Ministro da Agricultura russo disse à Bloomberg que irá reduzir a previsão de produção, que era de 85 milhões de toneladas de grãos, para menos de 72 milhões de toneladas se a seca persistir.

 

Em seu último levantamento, o Departamento de Agricultura dos EUA previu produção de 651 milhões de toneladas, o que significará uma redução de 29 milhões de toneladas em relação à colheita de 2009/10, encerrada em maio deste ano. Ainda que essa quebra se confirme, o quadro não será de escassez, pois os estoques mundiais continuarão confortáveis.

 

A estimativa é de estoque entre 175 milhões e 178 milhões de toneladas, o equivalente a 27% do consumo mundial, ante os 124 milhões de toneladas registrados na crítica safra de 2007/08, quando a relação estoque-consumo ficou entre as mais baixas da história, em 20%. Para Bento, a valorização atual é exagerada. "Uma forte realização de lucros pode estar a caminho", avalia
 


Se clima ajudar, Paraná poderá iniciar colheita de cereal na próxima semana

 

Se o tempo for favorável, a colheita de trigo pode começar nesta semana no Paraná, segundo previsão do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Secretaria de Agicultura. Trata-se ainda de uma parcela pequena da lavoura, em torno de 5%, mas que começa a avançar a partir da próxima semana, segundo Otmar Hubner, agrônomo do Deral. "As lavouras estão muito boas e se o tempo continuar favorável, teremos um trigo de boa qualidade", diz.

 

Por isso, mesmo com uma área plantada 15% menor - de 1,311 milhão de hectares para 1,145 milhão de hectare -, a produção de trigo paranaense deve ser 15% superior à registrada na temporada passada e atingir 3,068 milhões de toneladas.

 

No Rio Grande do Sul, o segundo maior produtor do cereal depois do Paraná, as lavouras também seguem bem desenvolvidas, segundo Rui Polidoro, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grando do Sul. "A área também foi 8% menor, mas a produção deve ser a mesma do ciclo anterior, ou seja, de 1,5 milhão de toneladas", diz Polidoro.

 

O quadro só muda, se o clima for desfavorável, por exemplo, com a ocorrência de geadas. Mas, de acordo com a Somar Meteorologia, não há previsão de geadas neste momento, nem para o Paraná e nem para o Rio Grande do Sul, até 15 de agosto. "Neste momento faz frio nos dois Estados, mas a partir de quinta-feira o tempo abre e assim permanece até meados do mês", diz Celso Oliveira, meteorologista da Somar. (FB)
 

 

Veículo: Valor Econômico


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