Reunião do setor de citros sobre conselho de formação de preços da laranja não chegou a resultado concreto
A discussão entre a indústria de suco de laranja e citricultores para a criação do Consecitrus parece estar longe do fim. Nos moldes do que é o Consecana para o setor canavieiro, a proposta do Consecitrus é funcionar como um conselho com representantes da cadeia produtiva do suco de laranja para estabelecer mecanismos que norteiem o preço da fruta fornecida para a indústria do suco.
Na semana passada, membros da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), da Federação de Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) e da Sociedade Rural Brasileira (SRB) reuniram-se na Secretaria de Agricultura sob a mediação do secretário de Agricultura, João Sampaio, com a Associação Nacional das Exportadoras de Sucos Cítricos (CitrusBR) para discutir o estatuto do conselho e avaliar propostas sobre os parâmetros de remuneração para os produtores.
Após mais de uma hora de reunião, nada foi decidido, porém. Conforme o secretário, a decisão foi prorrogada por três semanas, a pedido do presidente da Faesp, Fábio Meirelles, que solicitou mais tempo para avaliar, com as demais entidades que representam os produtores (Associtrus e SRB), o estatuto proposto pela secretaria.
Segundo Sampaio, apesar do adiamento, o saldo da reunião foi positivo, pois serviu para "lavar a roupa suja" e colocar na mesa todos os questionamentos dos citricultores em relação à criação conselho. "Não avançamos concretamente, mas a reunião foi produtiva. Pude questionar um por um sobre o desejo de formar o Consecitrus e obtive o sim de todos os presentes", declarou Sampaio.
Conforme o secretário, uma das principais divergências para a criação do conselho diz respeito à obrigatoriedade de operar pelo modelo estabelecido. "Essa foi uma questão levantada pela Faesp e já estabelecemos que o modelo não será imposto, negociará com base nele quem quiser."
Cartel. Segundo Sampaio, a questão de a criação do Consecitrus extinguir o processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) - que investiga a formação de cartel pelas indústrias do suco de laranja - foi posta na mesa pela Associtrus. "Esclarecemos porém que o Consecitrus não trata de questões passadas, portanto sua criação não extingue a investigação de cartel."
Após a reunião, o diretor-executivo da CitrusBR, Christian Lohbauer, se mostrou frustrado. "Trouxemos a nossa proposta para desconstrução dos preços, mas ainda não houve ambiente para debatê-la. Estamos abertos a contrapropostas, e creio que elas já deveriam ter vindo."
Do outro lado, ainda que o secretário reitere que a criação do conselho não interferirá nas investigações sobre cartel, a Associtrus insiste no argumento, dizendo que a indústria tem pressa para formar o conselho para conseguir com o Cade o Termo de Cessão de Conduta (TCC), e ainda questiona o estatuto. "A indústria terá direito a três cadeiras e os citricultores a mais três, ocupadas pela Associtrus, Faesp e SRB. Porém, a Faesp representa todos os citricultores, o que inclui a indústria, que tem pomares. Ao passo que a indústria está totalmente articulada, do nosso lado há riscos de conflitos de interesse", diz o presidente da Associtrus, Flavio Viegas.
Preço é sempre tema polêmico
A discussão em torno do preço da caixa de 40,8 quilos de laranja sempre volta à tona a cada safra. Neste ano, a cotação quadruplicou no primeiro semestre em comparação com o mesmo período do ano passado, mas a maioria dos produtores, com contratos fechados antecipadamente, recebia em torno de R$ 3,50 pela caixa. No sudoeste paulista, quem não fechou contrato antecipado recebia até R$ 17 pela caixa. Essa discrepância de preços faz com que os produtores tentem renegociar diretamente seus contratos com a indústria.
A expectativa é que, com o Consecitrus, valores de mercado passem a ser respeitados por ambas as partes e essa polêmica tenha fim.
Veículo: O Estado de S.Paulo