Estoques elevados freiam preço do trigo

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Há oferta suficiente para atender a demanda de curto prazo e a colheita paranaense se aproxima.


 
Pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, avaliaram que as cotações do trigo no mercado brasileiro estão reagindo de forma lenta, sendo que em algumas regiões não chega a haver mudança, às altas expressivas dos preços internacionais. Para o Cepea, há oferta suficiente para atendimento da demanda de curto prazo e a colheita está se aproximando nas regiões paranaenses, maior Estado produtor de trigo no país.

 

Nas bolsas internacionais de referência dessa commodity, os preços tiveram fortes altas devido ao clima seco na Europa, Canadá, Austrália e, principalmente, na Rússia.

 

Apesar da estimativa de quebra de safra em grandes países produtores, pesquisadores do Cepea lembram que os estoques mundiais de passagem continuam nos maiores níveis históricos, o que manteve os preços em baixa durante todo o primeiro semestre de 2010.

 

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os estoques de passagem da safra 2009/10 foram de 193 milhões de toneladas, um recorde. "As estimativas de agosto para a safra 2010/11, divulgadas ontem, apontam que a menor oferta e o maior consumo reduzirão os estoques, mas ainda devem ser de 174,76 milhões de toneladas, um dos maiores do histórico", comentou o professor da Esalq, Lucílio Rogerio Alves, responsável pelas pesquisas sobre grãos no Cepea.

 

Na última semana, as cotações futuras do trigo nas duas principais bolsas norte-americanas para essa commodity (Kansas e Chicago) oscilaram expressivamente, chegando a atingir os maiores valores dos últimos anos, mas voltaram a cair na sexta-feira, mantendo essa tendência no começo desta semana. As altas estiveram relacionadas às condições climáticas desfavoráveis na Rússia, enquanto as baixas foram justificadas pela realização de lucro e também citações sobre os altos estoques.

 

Enquanto isso, no Brasil as variações de preços seguem pequenas, conforme pesquisas do Cepea. Alguns números podem ajudar neste entendimento. De acordo com a Conab, o consumo interno é estimado em 10,2 milhões de toneladas nas safras 2009/10 e 2010/11, considerando o período de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Desse total, pouco mais de 5 milhões são produzidos internamente e a outra metade é importada - principalmente da Argentina.

 

Leilões - Segundo a equipe Cepea, do produto da safra 2009/10, colhido em 2009, pouco mais de 3 milhões de toneladas ficaram vinculados aos leilões de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP), cujos leilões foram efetuados entre final de 2009 e início de 2010.

 

Esse produto deveria ser adquirido pelos compradores nos primeiros quatro meses de 2010, com a comprovação do escoamento podendo ser feito até esta primeira quinzena de agosto. Além disso, nos primeiros seis meses de 2010, foram importadas 3,4 milhões de toneladas de trigo e 301,3 mil toneladas de farinha de trigo.

 

Pesquisadores do Cepea chamam a atenção para que o fato que essas quantidades significam 64% do consumo anual. Considerando toda a disponibilidade de produto da safra 2009/10 (estoque inicial produção importação) e descontando o consumo e exportação, o ano-safra 2010/11 iniciou neste mês de agosto com mais de 2,4 milhões de toneladas de trigo em estoques nas mãos da iniciativa privada e do governo, que adquiriu 1,2 milhão de toneladas via Aquisição do Governo Federal (AGF). Agora, em agosto, começa ainda a colheita no Paraná, com oferta maior que a de 2009.

 

"Vê-se, portanto, que não há motivo para pressão compradora, o que justifica a continuidade dos preços do grão e dos derivados em patamar relativamente estável no país", comentou o pesquisador Lucilio Alves. Ele destaca ainda a expectativa de crescimento da área cultivada na Argentina, motivada pelos maiores preços externos, principal fornecedor de trigo ao Brasil.

 

Apesar disso, boa parte dos colaboradores do Cepea que atuam em indústrias moagerias já indica que a partir da próxima semana haverá reajustes nas tabelas de preços das farinhas. Até esta semana, as cotações dos derivados permanecem com poucas variações.

 


Veículo: Diário do Comércio - MG


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