Insumos mais caros podem elevar preços de alimentos

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A Nestlé se juntou à crescente lista de multinacionais dos alimentos que começaram a alertar para preços mais altos do chá, do cacau e de outras commodities importantes, o que deve espremer as margens de lucro das empresas e pressionar os preços dos produtos nos supermercados.

 

Os custos mais altos aumentam os problemas para a Nestlé e outras fabricantes, que enfrentam uma demanda fraca por alimentos de maior valor na Europa Ocidental e na América do Norte. Na Europa, a confiança do consumidor está baixa e o desemprego está alto. Nos Estados Unidos, os consumidores dizem estar procurando mais ofertas, escolhendo produtos de marca própria das lojas e ficando atentos aos descontos.

 

O custo do leite em pó, do cacau, do café e do trigo tem subido a um ritmo de dois dígitos nos últimos meses, motivando gigantes da alimentação como Danone, Unilever e Kraft Foods a adotar mais cautela para os próximos trimestres. Esses grandes fabricantes de alimentos, acostumados às flutuações das commodities, afirmam ajustar o planejamento para isso.

 

"Aumentamos o investimento em nossas marcas e preparamos a empresa para um segundo semestre mais desafiador", informou ontem em comunicado o diretor-presidente da Nestlé, Paul Bulcke. Ele reiterou a previsão de que o custo da matéria-prima da empresa aumentará entre 2% e 3% até o fim de 2010.

 

Os incêndios florestais na Rússia elevaram a cotação do trigo, o que repercutiu na cotação de outras commodities. A cotação do cacau atingiu em julho o nível mais alto em 33 anos, impulsionada por algumas notícias, como a decisão da trading londrina Armajaro Holdings de armazenar 240 mil toneladas de cacau, avaliadas em cerca de US$ 1 bilhão.

 

A cotação do chá também subiu significativamente devido aos custos mais altos com combustível e safras ruins na Índia.

 

Embora as empresas informem que as margens de lucro vão sentir esses efeitos, as grandes fabricantes de alimentos encontram meios de compensar os aumentos no preço das commodities. Isso pode ocorrer por meio de corte de custos e também pelo repasse de preços mais altos a varejistas e consumidores.

 

"De modo geral, não prevejo uma queda significativa na margem das grandes alimentícias", disse Warren Ackerman, diretor de análise de ações da Evolution Securities. "Muitas delas vão tentar repassar a alta dos insumos. Elas não vão simplesmente engolir isso."

 

A americana J.M. Smucker anunciou semana passada que vai aumentar em cerca de 9% os preços de sua linha de café, dominada pelas marcas Folgers, Dunkin' Donuts e Millstone.

 

A Danone informou em julho que o custo do leite seria maior do que previsto inicialmente em 2010. A Unilever, que fabrica o chá Lipton, os sorvetes Kibon e a margarina Becel, prevê alta geral de 2% nos custos dos insumos neste ano, disse o diretor financeiro Jean-Marc Huet na semana passada.

 

O diretor-presidente da Unilever, Paul Polman, disse que mesmo nesse cenário desafiador, a companhia deve alcançar suas metas anuais.

 

Custos mais altos de matéria-prima podem dar à Unilever a desculpa para aumentar os preços, beneficiando a empresa no longo prazo caso as recentes altas das commodities sejam revertidas. A empresa reduziu os seus preços para ampliar a participação de mercado durante a recessão, mas quer começar a reajustar os preços até o fim do ano.

 

A situação começou a ser comparada com o período entre os anos de 2007 e 2008. Nessa época, houve uma alta na demanda dos mercados emergentes e isso coincidiu com episódios de escassez na oferta das commodities e salto substancial no custo desses insumos, especialmente grãos e laticínios.

 

Mas os analistas dizem que a alta atual não é tão severa quanto a daquela época. "O custo dos insumos está subindo, mas não é uma situação semelhante", diz Ackerman.

 


Veículo: Valor Econômico


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