Bom Gosto chega à marca de R$ 2 bilhões

Leia em 6min 10s

Zanatta descata a compra de outras fábricas dentro do resultado positivo da companhia

 

A velha lenda da galinha dos ovos de ouro pode ser tranquilamente adaptada para as vaquinhas do leite de ouro quando o assunto é a Laticínios Bom Gosto. O presidente da empresa, Wilson Zanatta, que até bem pouco tempo era um modesto criador de vacas holandesas, é o responsável por um dos cases mais bem-sucedidos do mercado de laticínios. Apenas para 2010, a previsão é de alcançar um faturamento de R$ 2 bilhões, recorde previsto mesmo frente a um cenário pouco favorável para o leite, com preços achatados pelo excesso de oferta. Zanatta diz que essa previsão se deve à consolidação de uma série de investimentos feitos em anos anteriores. “Incluímos os resultados da compra da Cedrense, que se realizou em dezembro de 2009, o fechamento de um ano de atividade da unidade de Pernambuco, a inauguração da antiga unidade da Nestlé em Barra Mansa e mais a ampliação de Tapejara e Prudente.”

 

JC Empresas & Negócios - Quais são os planos da empresa para 2010 em termos de fusões e aquisições?

 

Wilson Zanatta - É possível efetivar mais uma fusão, a exemplo do que fizemos no ano passado com a Líder. Seria uma ação estratégica de complementariedade do setor. Pode ser uma grande fusão, pois a empresa mudou de patamar: faturava R$ 200 milhões em 2006 agora a previsão é de R$ 2 bilhões. Destaco que em receita bruta a empresa faturou R$ 950 milhões, ante os R$ 680 milhões do mesmo período em 2009. Em termos de captação, a expectativa é de crescimento de 5% sobre 1,2 bilhão de litros de leite captados em 2009.

 

Empresas & Negócios - No que consiste o Plano 300, quais os objetivos e como deve colaborar para o incremento da produção?

 

Zanatta - A intenção é suprir a capacidade ociosa de processamento de 2 milhões de litros por dia - a empresa tem capacidade para 6 milhões e processa 4 milhões - através desse programa que irá fomentar a produção do rebanho dos fornecedores da empresa. O ideal para um produtor se tornar viável economicamente é 300 litros de leite por dia para começar. Temos na Bom Gosto 16,5 mil produtores com menos de 200 litros de leite por dia. Nosso plano é dar a eles uma opção de crescer. Serão oferecidas linhas de crédito financiadas com dois anos de carência e seis para pagar. A empresa conta hoje com 28 mil fornecedores, dos quais 20 mil diretos e 8 mil de cooperativas integradas. A média de captação é de 120 litros ao dia e os produtores top vão a 4 mil litros por dia.

 

Empresas & Negócios - Como está o projeto da fábrica a ser construída na cidade uruguaia de São José de Mayo? Qual o investimento total?

 

Zanatta - O investimento chega a US$ 30 milhões, para uma captação inicial de 600 mil litros de leite ao dia, podendo chegar a 1 milhão. É uma planta para faturar R$ 200 milhões ao ano num período de dois anos. O Uruguai é um belo país para se produzir leite, o mundo inteiro aceita o leite uruguaio. A estratégia é pegar essa carona e mandar o produto brasileiro para fora. Ainda falta a aprovação do projeto de viabilidade econômica da nova unidade que dará alguns benefícios para a empresa, como isenção de imposto de importação e isenção de Imposto de Renda.

 

Empresas & Negócios - Como ficou o andamento dos novos investimentos frente à crise?

 

Zanatta - A Bom Gosto vem concluindo uma série de investimentos nas fábricas. Começamos em 2008 e parecia que ia decolar em 2009, só que com a crise deu uma ressaca e frustrou os planos de muita gente. Tivemos que dar uma recuada porque o mundo não está tão beleza como se imaginava que ia estar em 2010. Nos afeta tanto quanto qualquer setor. Fizemos investimento na Nestlé, em Barra Mansa, no Rio de Janeiro, de R$ 34 milhões. Todas as nossas aquisições sempre têm motivo: de mercado, logístico ou questão fiscal. No caso do Rio de Janeiro foi uma questão logística, uma vez que atuamos fortemente no mercado do Rio. Também pesou a questão tributária, pois o incentivo fiscal atraiu. Nessa planta processamos leite longa-vida, leite em pó, condensado, e no futuro queijos e iogurte. Se juntar todas as fusões e aquisições, hoje a Bom Gosto é formada por dez empresas e oito marcas: Bom Gosto, Corlac, Cedrense, São Gabriel, Da Matta, Boa Nata e Líder. Todas são aquisições, apenas a Líder foi fusão.

 

Empresas & Negócios - Empresas & Negócios - Como anda o mercado externo?

 

Zanatta - O mercado externo não anda bem. Estamos com dificuldade do câmbio, que não nos favorece na exportação. Por isso, atendemos basicamente ao mercado interno e o consumo não deu o salto que se imaginava. Em 2009, apesar de toda a crise, não foi um ano dos mais difíceis para nós. O setor vem sofrendo muito. Os resultados de todas as empresas, seja a que tem foco mais no UHT, no leite em pó ou no condensado, queijos, nenhum deles está performando bem. Tivemos que fazer baixa ao produtor na entressafra, uma coisa atípica, em função de uma expectativa que não aconteceu. Temos autossuficiência no lácteo e mais a importação do Uruguai e da Argentina, o que  acaba deprimindo os preços. O produtor está reclamando da baixa de preços, mas a indústria não está suportando levar mais prejuízos, como no primeiro semestre deste ano, pelo excesso de produção. Acirrou-se muito a concorrência na aquisição de matéria-prima.

 

Empresas & Negócios - Como está a questão da concorrência na bacia leiteira gaúcha?

 

Zanatta - A concorrência se acirrou demais, por isso os maus resultados das empresas no primeiro semestre. Hoje temos uma capacidade instalada no Estado chegando aos 15 milhões de litros de leite ao dia, com produção de 8 milhões, isso acaba forçando uma otimização da capacidade industrial que vai ter que se adequar com o tempo. Não queria entrar em detalhas de números sobre os maus resultados do início do ano.

 

Empresas & Negócios - Como a Bom Gosto atua frente a esse cenário de competição acirrada?

 

Zanatta - Tenho 80 carros com técnicos circulando pelo Interior para prestar assistência aos produtores. Tinha um produtor que tirava 50 litros de leite por dia que levei para o Uruguai para escolher as vacas. Financiei para ele, dei assistência, fiz dia de campo e hoje ele tira mil litros. Foi o primeiro que eu perdi para uma multinacional. Elas vão naqueles que já estão se profissionalizando, naqueles que a Piá, a Bom Gosto, a Santa Clara ajudaram a formar - e ainda com incentivo estadual. Eles não pegam um produtor de 100 litros com quem eu trabalho, pegam o maior, para viabilizar a rota e encher o caminhão mais facilmente.

 


Veículo: Jornal do Comércio - RS


Veja também

Walmart terá novo presidente no Brasil

O brasileiro Marcos Samaha substituirá o cubano Hector Núñez no comando das operações...

Veja mais
Falta de padrão coloca em xeque pão integral

Ministério Público abre inquérito para averiguar porcentual de grãos nos produtos   O...

Veja mais
Nova Globex vai abrir só 15 lojas em 2011

Varejo: As rivais Máquina de Vendas e Magazine Luiza planejam inaugurar 30 pontos de venda cada uma   No a...

Veja mais
Serviço no varejo movimenta R$ 1,4 bi

Instalação de computadores e TVs e garantia estendida são a nova fronteira da competiç&atild...

Veja mais
Rede Ponto Frio deve virar marca "premium" e priorizar classes AB

A rede Ponto Frio prepara uma reestruturação de seu negócio. O objetivo é tornar a marca "pr...

Veja mais
Nova Casas Bahia prevê somar vendas de R$ 18 bilhões

A classe emergente que disparou no Brasil vira meta do novo conglomerado resultante da união da Casas Bahia, Pont...

Veja mais
Tesco ou Casino pode comprar operação do Carrefour

O Carrefour , segunda maior rede varejista mundial, adicionou a Tesco, inglesa, e a francesa Casino Guichard-Perrachon (...

Veja mais
Após seis anos, rede Hortifruti prepara retorno a São Paulo

Seis anos depois de se afastar de São Paulo, a rede capixaba Hortifruti, voltada para a venda de frutas, legumes ...

Veja mais
Jogos no celular 'roubam' vendas da Sony e Nintendo

Serviços: Cresce o número de pessoas que usam o smartphone no lugar de consoles específicos  ...

Veja mais