Gráficas e fabricantes de papel-cartão, utilizado sobretudo em embalagens de alimentos, cosméticos e higiene e limpeza, deram uma trégua no debate em torno de temas que têm colocado fornecedor e consumidor em lados opostos, como a alíquota de importação do produto, e uniram forças para promover o uso dos cartões no país. O programa, recém-lançado pela Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) em parceria com a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), prevê a divulgação do papel-cartão como matéria-prima flexível para a elaboração de diferentes formatos de embalagens, veículo de marketing e, principalmente, produto sustentável. "Trata-se de uma das poucas embalagens com certificação ao longo de toda a cadeia, das florestas à gráfica", ressalta o diretor setorial do Grupo Empresarial de Embalagens da Abigraf, Sidney Anversa Victor.
Constituído há dois meses, o grupo de embalagem de papel-cartão entra em ação em um momento peculiar para a indústria. Diante da crise financeira, que fez minguar as encomendas de embalagens nos primeiros meses de 2009, tanto fabricantes de cartões quanto gráficas e clientes finais trabalharam com estoques mínimos do produto. A partir de meados do ano passado, as empresas foram surpreendidas pelo aquecimento das vendas de bens de consumo e promoveram uma corrida por esses itens, o que gerou nervosismo no mercado. Como resultado, as fabricantes da matéria-prima esticaram prazos de entrega, gráficas receberam pedidos além do esperado e o temor de eventual desabastecimento rondou os clientes finais. Ambas as entidades garantem que não há risco de falta do produto e não se intimidaram com o cenário, lançando um programa de divulgação que deverá repercutir em vendas adicionais.
Segundo dados da Bracelpa, as vendas domésticas de papel-cartão somaram 334 mil toneladas de janeiro a julho, uma alta de 28,5% na comparação com igual intervalo de 2009. Em relação ao mesmo período de 2008, quando o mercado ainda não havia sido afetado pela crise econômica, o crescimento é mais modesto, da ordem de 8%. Ainda assim, segundo as fabricantes de papel-cartão, trata-se de volume significativo de vendas. "Acreditamos que até o fim do ano, as vendas devem crescer 9% se olharmos os números de 2008", afirma o diretor de Estatística e Produto da Bracelpa, Pedro Vilas Boas. A previsão de desempenho está alinhada à da indústria gráfica, que em 12 meses até junho registrou incremento de 5% na produção, abaixo do verificado pela indústria em geral (6,5%).
De acordo com Victor, da Abigraf, o parque gráfico nacional está apto a atender a demanda crescente. "O mercado está muito instável neste momento e isso torna complicadíssimo o planejamento. Mas temos capacidade para suportar um bom período de vendas crescentes", diz. Na avaliação de Vilas Boas, da Bracelpa, o mercado doméstico de papel, de modo geral, deverá mostrar crescimento vegetativo de 3% ao ano, em linha com a taxa média história de expansão verificada desde 2000. No caso específico do papel-cartão, ressalta, há inclusive intenção de novos investimentos - a Klabin, que recentemente investiu mais de R$ 2 bilhões em uma máquina de cartões com capacidade para 350 mil toneladas, está estudando a colocação de uma nova linha, também em Telêmaco Borba (PR). "Não existe cenário de desabastecimento", enfatiza.
A discussão sobre capacidade de oferta e demanda por papel-cartão trouxe à tona um antigo tema de embate entre papeleiras e gráficas: a alíquota de 14% para importação do produto. Conforme a Abigraf, sob as condições atuais, é inviável importar papel-cartão. "O custo é alto, os prazos para entrega são maiores e há alguns problemas de qualidade, sobretudo com produtos asiáticos", conta Victor. "Ainda assim, se a alíquota de importação fosse menor, haveria possibilidade de incrementar a oferta de cartão no mercado interno." Dados da Bracelpa apontam que as importações de papel-cartão recuaram 5% no acumulado de janeiro a julho, para 19 mil toneladas.
Discussão à parte, as entidades estão alinhadas em divulgar os benefícios da embalagem de papel-cartão. "Na gôndola do supermercado, a embalagem equipara os produtos de pequenas e grandes empresas", ressalta Victor, da Abigraf. "E não faltará cartão", acrescenta Vilas Boas.
Veículo: Valor Econômico