Com custo 50% menor que o de supermercado comum, modelo permite expansão de redes e maior competitividade
Grupo Pão de Açúcar e Walmart levam seu atacarejo a periferias e também a cidades que não têm supermercado
As lojas de atacarejo se tornaram a solução das grandes redes para atingir regiões onde elas não alcançariam com uma unidade de varejo. O baixo investimento no ponto e os preços mais competitivos garantem a maior penetração.
Uma unidade demanda a metade do investimento de uma loja de varejo. O custo fixo também é 50 % mais baixo do que um supermercado, o que além de facilitar a expansão permite a competição em preços com unidades locais.
Segundo o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Sussumu Honda, as lojas de atacarejo permitiram que as grandes redes chegassem nas periferias porque o modelo prioriza as classes C e D, ao contrário dos supermercados, voltados para consumidores da faixa A a B.
"A grande dificuldade das redes sempre foi chegar na periferia. Na periferia tem supermercado, nós sabemos que existe, mas as grandes redes não conseguiam chegar com o seu modelo [varejo]", aponta.
MAIS PONTOS
O Walmart tem, por exemplo, uma loja Maxxi em Arapiraca, no Estado de Alagoas. A bandeira é a única do grupo no município, que tem pouco mais de 52 mil habitantes e PIB per capita de R$ 3.398, quase nove vezes menor do que o da cidade de São Paulo.
O Pão de Açúcar também tem a bandeira Assaí como única representante do grupo na cidade de Caruaru, em Pernambuco, que tem 210 mil habitantes e PIB per capita de R$ 6.464. Em São Luís (MA) e em Palmas (TO), o Atacadão é a única loja do grupo Carrefour.
A expansão do atacarejo chegou até a Colômbia, com a inauguração de um Atacadão, em março. O grupo anunciou que levará a loja para a Argentina no segundo semestre e pretende transformar outros formatos já existentes em atacado.
"O Assaí é sim uma opção de varejo onde não tem Extra. Podemos levar os produtos das indústrias a lugares em que elas não chegariam, à medida que a gente vai se expandindo para o Norte e Nordeste", afirma o diretor do Assaí, Maurício Cerrutti.
COMPETIÇÃO
O crescimento da presença do varejo no atacado gera competição com outros modelos. "Os atacarejos acabam tendo um impacto no comércio em geral", aponta Honda. Segundo ele, a competitividade dos preços levaria a uma canibalização do supermercado, se o mercado não estivesse se expandindo.
"Em mercado em expansão, facilita a entrada. Se nós estivéssemos em uma situação estável de mercado, esse seria um modelo predatório dentro dos que existem, porque tem o custo de operação muito baixo", sugere.
Já para o presidente da Abad (Associação Brasileira de Atacado), Carlos Eduardo Severini, os dois modelos são complementares. "O consumidor final acaba sendo um complemento para esse tipo de loja. Ele não deixa de ir em uma para ir na outra; vai nas duas", aponta.
A melhor forma de conseguir a convivência entre os dois modelos, segundo Carruti, é fazer uma ocupação correta nos mercados que estão carentes.
Clientes se juntam para dividir compras
O aumento das visitas a lojas de atacado levou os clientes finais a aprenderem a otimizar as compras. Famílias e amigos se unem para comprar caixas com mais unidades e economizam até R$ 400.
A estudante Karina Venturini, 19, e a dona de casa Celia Moraes Manoel, 58, descobriram o atacado depois da dica de uma colega.
Depois da primeira visita à loja, as duas adotaram a prática. Hoje, saem do bairro de Moema para a loja de atacado na Barra Funda, a cada três meses, onde compram caixas de produtos de limpeza e itens da cesta básica, principalmente.
As mercadorias abastecem quatro casas e, segunde elas, geram economia aproximada de R$ 400. "O detergente que a gente comprava por R$ 0,89, a gente acha por R$ 0,55. O chá verde de R$ 6, encontramos por R$ 3", afirma Venturini.
A estudante afirma que a sensação de compra em uma loja de atacado já não se diferencia tanto da de uma loja do varejo. "Sin- to-me como se estivesse indo a um supermercado, a única diferença é que não tem saquinhos", brinca ela.
Para o presidente da Abras, Sussumu Honda, os consumidores finais entendem que o modelo oferece menos serviços do que o varejo. "Eles falam que é assim aqui porque é mais barato e é para vender no atacado, então não fazem exigências", explica.
Veículo: Folha de S.Paulo