A velha e boa feijoada pesou no bolso dos consumidores durante o mês de setembro e deve continuar mais cara nos próximos meses. De acordo com a analista de mercado da Safras e Mercado, Carla Michele Corbeti, nas últimas semanas, o feijão teve alta de 73% nos preços ao produtor. A previsão é de que a saca de 60 quilos supere R$ 200,00 da variedade carioca, podendo ser vendido por até R$ 10,00 o quilo no varejo. Entre os motivos para a alta está a quebra de safra do feijão-carioca, no Paraná, em função da estiagem, considerada como reflexo do fenômeno La Niña. “Também estamos na entressafra do feijão-preto, que junto com o aumento de demanda fez os preços reagirem”, explicou a especialista. Carla relembra que no mesmo período do ano passado, o preço da saca não ultrapassava os R$ 80,00.
A tendência de aumento deve se manter até a entrada da safrinha, que começa a ser plantada em dezembro. O presidente do conselho do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Eduardo Lüders, acredita que o aumento ainda pode ser maior, superando o recorde histórico de R$ 300,00, do início de 2008, segundo avaliação de Lüders.
“Estamos vendo apenas a ponta do iceberg”, diz o dirigente. Segundo ele, o aumento dos preços se deve também à menor presença do governo nas compras do produto. A oferta de produto não acompanhou a demanda e deverá haver déficit de 13 milhões a 14 milhões de sacas no mercado. Desse volume, entre 3 milhões e 4 milhões de sacas terão de ser importadas da China, dos Estados Unidos e do Canadá. “As exportações também reduziram”, diz o agrônomo da Emater Dulphe Pinheiro Machado Neto.
Segundo o especialista, aqui no Estado, os agricultores seguem implantando a lavoura de feijão da primeira safra, tendo chegado a 44% da área semeada. As condições meteorológicas foram normais, possibilitando boas condições de solo. “Tivemos uma redução de 4% da área plantada, com o cultivo de 74 mil hectares.” A grande expectativa do setor se dirige toda para a safrinha, especialmente em função dos preços elevados verificados no mercado. No entanto, Neto prefere não prospectar área e volume a ser colhido, em função da ocorrência do fenômeno La Niña. “Em média se planta 30 mil hectares nessa segunda etapa, mas ainda é cedo para dizer se isso vai se confirmar”, afirmou.
Essa situação fez com que o valor médio ofertado aos produtores no Estado tenha chegado a R$ 74,67 a saca de 60 quilos do feijão-preto, subindo mais 3,82% em relação à safra anterior, ainda assim, permanece 9,02% abaixo do valor da média histórica geral.
Para 2011, a previsão é de preços firmes, já que, segundo Lüders, pode ocorrer uma migração do plantio de feijão para milho e soja, com consequente queda na produção. “Os preços não voltam aos níveis de 2009, quando foram praticados valores abaixo do custo e do valor referência”, afirma.
Veículo: Jornal do Comércio - RS