Conjuntura: Produção de fabricantes de ventiladores, refrigeradores e lavadoras está mais constante este ano
IPI menor também ajudou a reduzir sazonalidade em eletrodomésticos, diz Valdemir Dantas, presidente da Latina,Resultado do aumento de massa salarial e da oferta de crédito, a elevação do nível de consumo retirou ou amenizou a sazonalidade no cronograma de atividade das indústrias este ano. Fabricantes de bens duráveis como eletroportáteis e eletrodomésticos estão tendo ritmo de produção mais disperso durante o ano em alguns itens. A continuidade desse ritmo, porém, depende da manutenção das condições que propiciam atualmente o aumento de consumo. Caso contrário, a sazonalidade deve voltar e a produção de 2010 será apenas um ponto fora da curva.
A fabricante de eletroportáteis Mallory, por exemplo, deixou de ter este ano um período de "baixa estação" para ventiladores. "Com o verão bem quente e o mercado interno aquecido houve um fenômeno incrível: emendamos um período sazonal no outro", diz Paulo Braga, diretor superintendente da empresa.
Braga explica que a alta temporada para fabricação de ventiladores vai de agosto a fevereiro. Este ano, porém, a produção do item na estação de baixa, de março a julho, ficou 40% acima da máxima histórica para o período. "Claro que não ficamos no pico de produção, mas continuamos com a fabricação num ritmo bom e atípico para a época."
Para Braga, não foi apenas a questão climática que mudou o ritmo de fabricação de ventiladores, mas também o mercado aquecido. Ele conta que o cronograma de produção do item na empresa até o fim do ano já está completo, inclusive contando com a capacidade adicional de 65% que uma nova planta industrial trará para a empresa. Em 2010, estima Braga, a Mallory deverá ter faturamento 30% maior que a média de 2008 e 2009. Além de ventiladores, a empresa fabrica ferros de passar, liquidificadores e batedeiras.
A fabricante de eletrodomésticos Latina também nota redução de sazonalidade para itens como refrigeradores e lavadoras de roupas. Valdemir Dantas, presidente da Latina, explica que à medida que há penetração maior das lavadoras de roupas nos domicílios, a venda do eletrodoméstico deixa de ficar mais concentrada de maio a julho, como costumava ser.
"A compra passa a ser programada. A pessoa já tem a lavadora e procura trocar por uma maior, por exemplo." Antes, diz ele, o período de maio a julho concentrava 40% das vendas da empresa num ano. Agora concentra apenas 30% porque as vendas no restante do ano passaram a ter mais representatividade. Segundo ele, o fenômeno iniciou-se há cinco anos e ficou mais evidente em 2008. No ano passado e início de 2010 a produção, lembra, acabou sendo mais afetada não só pela penetração dos produtos nos domicílios, mas pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) concedida à linha branca como medida do pacote anticíclico do governo no combate à crise.
Dantas lembra, porém, que a amenização da sazonalidade nas linhas de produtos da Latina ficou concentrada nas geladeiras e lavadoras. Outros itens fabricados pela empresa, como purificadores de água e ar condicionado, por exemplo, tendem a ficar mais sujeitos à sazonalidade.
O economista André Macedo, gerente da pesquisa industrial mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diz que a evolução da massa salarial, o aumento do número de empregados e as condições de crédito favoráveis refletem principalmente no consumo e produção de bens duráveis, o que explica a maior dispersão da produção desses itens durante o ano. O resultado é a amenização da sazonalidade. Ele acredita que o efeito do IPI na linha branca também foi importante na produção desses produtos no último ano.
O que não se sabe, diz, é se isso é algo pontual ou se vai ser estabelecida uma mudança no padrão de sazonalidade. "Depende da continuidade das condições que deram origem a isso e também de outros fatores conjunturais", analisa. Ele lembra que o padrão de sazonalidade não é homogêneo, para todos os produtos, e não acontece de uma hora para outra.
"É possível que alguns fabricantes façam alterações no que costuma ser um padrão de produção de um determinado eletrodoméstico durante um ano, mas há sempre alguém que não segue isso", lembra Macedo, do IBGE. O que pode acontecer, explica, é que a mudança mostre ser uma solução interessante, que deu competitividade ao fabricante que aderiu a ela, provocando a adoção do mesmo padrão por outros fabricantes.
O aquecimento do setor de construção civil também mudou o cronograma de trabalho e reduziu a sazonalidade da indústria e dos prestadores de serviços da área de sistemas de refrigeração. Segundo Marcelo Roxo Matusiak, diretor da Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado e Ventilação (Asbrav), há cinco anos, a produção e demanda por serviços no setor caía drasticamente de abril a agosto. "Algumas empresas chegavam a ficar sem atividade no no período." Atualmente, porém, isso se amenizou.
Nos últimos anos, conta o executivo, o segmento ficou menos dependente da indústria e foi puxado principalmente pela construção civil, que tem um ritmo de atividade mais disperso durante o ano. Segundo o diretor, estima-se que o setor tenha crescimento de faturamento acima de 20% em relação a 2009.
Veículo: Valor Econômico