Os leites norte-americano e o neozelandês estão em vias de invadir o mercado brasileiro. O produtor nacional desestimulado, a queda nas exportações, principalmente para Venezuela, a desorganização da cadeia, além da liberação tardia dos Empréstimos do Governo Federal (EGF), são considerados os responsáveis pela abertura de brecha para a entrada da mercadoria estrangeira.
Segundo Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil - associação que representa o setor no País -, os produtores internacionais recebem subsídios mesmo sem produzir. "São praticamente funcionários públicos em seus países. Recebem por cabeça de vaca e tem cota de produção", diz.
No caso dos Estados Unidos, de acordo com o Rubez, o grande volume de leite produzido no país permite que seja embarcado também para o Brasil. "Pela alta produção, o leite pode vir concorrer aqui", afirma.
Estatística do MilkPoint mostra que a produção norte-americana do produto supera em 187% a do Brasil, com 86,710 milhões de toneladas do produto fluido. O leite neozelandês, ainda segundo Rubez, já está no mercado nacional e é produzido no Brasil. De acordo com o presidente da Leite Brasil, o vai-e-vem das cotações tem comprometido a produção.
Rubez explicou que há três meses, quando os valores ao produtor compensavam, foi registrado aumento na produção nacional, e com a queda de 50% nas exportações para a Venezuela, principal comprador de leite brasileiro, houve excedente do produto no mercado interno. "O prejuízo refletiu em redução na produção."
Para Rubez, a desorganização da cadeia faz com que os grandes varejistas tirem proveito da situação, forçando queda nos preços. "As cotações se sustentaram agora porque diminuiu a oferta." No entanto, de acordo com Rafael Ribeiro de Lima Filho, mesmo com a reação atual nos preços, a rentabilidade do produtor ainda está abaixo dos valores praticados em 2009.
Em São Paulo, o litro ao produtor está cotado a R$ 0,75, no mesmo período em 2009 estava R$ 0,80. Em Minas Gerais, o litro de leite que hoje está R$ 0,72, valia R$ 0,78 no ano passado.
Segundo Filho, a tendência é baixista para o leite no Brasil, caso as chuvas esperadas para este mês se concretizem, causando avanço na produção. Ontem, de acordo com levantamento da Scot, o leite já apresentou queda de R$ 0,5 e R$ 0,6 por litro.
Na outra ponta dos cálculos nos rendimentos do pecuarista, devido à estiagem que comprometeu a maior parte das regiões produtoras e a alta nos preços dos insumos, o custo de produção avançou 10%, nos últimos dois meses. "Supera em 6% o de 2009", diz o analista, acrescentando que nos últimos três meses, em São Paulo o preço do leite recuou 4% e em Minas Gerais 6,2%.
Rubez acredita que as cotações do produto devem estabilizar entre R$ 0,70 e R$ 0,75.
Em 2011, segundo Filho, o produtor de leite deve diminuir investimento, impactando diretamente em queda na produção.
Para Rubez, esse cenário já é atual. "O aumento nos preços dos insumos já fez os produtores deixar de investir", afirma.
Ainda segundo o presidente, a produção brasileira de leite no primeiro semestre que fechou com avanço de quase 6% não deve ser a mesma no acumulado do ano. "Acredito que o setor vai fechar com 2% ou até menos."
O primeiro passo para organizar o setor, segundo Rubez, seria a adequação da liberação dos EGF. "Melhor em época de sobra de leite para estoque. Caso contrário, o dinheiro vira capital de giro."
O leite norte-americano e o neozelandês está em vias de invadir o mercado brasileiro. Com o produtor nacional desestimulado e a exportação em queda, abre-se uma brecha para a mercadoria estrangeira.
Veículo: DCI