Dentro de uma fábrica de monitores de TV da Panasonic em Amagasaki, no oeste do Japão, robôs guiados por GPS movem-se às pressas, carregando pilhas de telas de plasma entre salas pintadas de branco com dezenas de metros de comprimento.
Depois de cozinharem por horas a 500 graus centígrados - para fundir pares de folhas finas de vidro - os monitores serão remetidos para linhas de montagem no Japão e por todo o mundo, onde serão instalados em televisores de tela fina, inclusive nos modelos mais avançados, com tecnologia 3D.
A Panasonic, que em março começou a vender versões 3D de suas TVs Viera, espera que a inovação ajude os consumidores a voltar a dar atenção ao plasma, uma tecnologia que vem sendo superada pelos monitores de cristal líquido ou LCD, a não ser no caso dos aparelhos de tamanho maior. As imagens em 3D ficam melhores em monitores grandes e com baixa latência, que podem exibir objetos em alta velocidade de forma mais fluida - uma das vantagens tradicionais do plasma sobre o cristal líquido.
"No futuro próximo, quase todas as TVs terão capacidade 3D" diz Hiroyuki Nagano, presidente da Panasonic Plasma Display, que no fim do ano passado expandiu a capacidade da fábrica para 9 milhões de unidades. O 3D terá um impacto muito significativo na demanda por TVs de plasma".
Prever a demanda por qualquer nova tecnologia é arriscado e isso é duplamente verdadeiro para a TV 3D. Metade dos consultados em uma recente pesquisa da Nielsen não gostou dos óculos especiais necessários para ver imagens em três dimensões. Quando os que disseram ter interesse em comprar uma TV 3D testaram uma na prática, cerca de metade mudou de ideia.
Ainda assim, a empresa de pesquisas iSuppli estima que os grupos eletrônicos sul-coreanos e japoneses venderão 4 milhões de TVs 3D neste ano, e 78 milhões em 2015, o equivalente a quase 70% da previsão de vendas para todo o mercado de TVs de tela fina.
As fabricantes que mais apostam na tecnologia 3D - as japonesas Panasonic e Sony e a sul-coreana Samsung - pretendem fazer mais do que apenas estimular consumidores a atualizar-se com modelos mais avançados. Também almejam ganhos indiretos, com conteúdo e aparelhos relacionados, como câmeras de vídeo 3D, jogos e filmes.
A Sony, por exemplo, fabrica TVs, consoles de videogame e equipamentos de vídeo, além de ser dona de um estúdio de cinema e de ser uma das principais promotoras do Blu-ray, o único formato de DVD com capacidade suficiente para armazenar filmes completos em 3D.
Com a tecnologia tridimensional, a Sony espera provar que sua estratégia diversificada pode gerar sinergias e sustentar os lucros. Na Feira de Jogos Eletrônicos de Tóquio, na semana passada, grande parte do espaço da empresa foi destinado aos jogos em 3D, ainda por sair, para seu console PlayStation. Os visitantes eram convidados a usar os óculos 3D para brincar com um animal virtual parecido com um macaco, usando o Move, seu recém-lançado controle sensível aos movimentos, que a empresa vê como resposta ao sucesso de vendas do Nintendo Wii.
Até agora, a Samsung, que domina o mercado de TVs de tela fina, é a empresa que mais vendeu aparelhos 3D.
"As empresas sul-coreanas têm vantagens na obtenção de monitores e outros componentes, já que são integradas verticalmente", afirmou o analista Cho Woo-hung, da corretora Daweoo Securities.
A força do iene japonês em relação ao won sul-coreano também ajuda as empresas da Coreia do Sul.
A Samsung tem como meta para este ano vender 2,6 milhões de unidades. No ano fiscal japonês, a encerrar-se em março, a Sony pretende vender 2,5 milhões de unidades e a Panasonic, 1 milhão.
Outras fabricantes, como a LG, da Coreia do Sul, e a Sharp, a Hitachi e a Toshiba, do Japão, estão começando a vender TVs 3D ou planejam fazê-lo.
O analista Hisakazu Torii, da consultoria DisplaySearch, diz ver sinais de que a demanda por essas TVs, ainda caras, pode estar perdendo força, acompanhando as grandes economias mundiais. "Podemos ver alguns ventos contrários no fim do ano [...] As companhias podem não atingir suas metas agressivas."
Os danos do excesso de investimentos de curto prazo provavelmente seriam pequenos, já que não são necessárias novas fábricas ou linhas de montagens. As TVs 3D usam os monitores padrões de plasma ou cristal líquido com alguns pequenos ajustes.
A questão mais premente, dizem analistas, é saber por quanto tempo os fabricantes poderão manter os preços mais altos - atualmente entre US$ 500 e US$ 800 adicionais em relação aos modelos normais de TVs com mais de 42 polegadas.
Pode não ser por muito tempo, tendo em vista o aumento da concorrência, a produção adicional relativamente baixa e a oferta ainda limitada de conteúdo em 3D.
A diferença "provavelmente encolherá com velocidade maior do que os fabricantes gostariam", afirma Torii.
Veículo: Valor Econômico