Supermercados: Varejista modifica gestão da folha de pagamento, modelo de contabilidade e adota SAP
O Walmart comanda uma reestruturação de suas operações no Brasil, conforme informou ontem o comando nos Estados Unidos, e esse processo vai ser aprofundado nos próximos meses. As mudanças vão além de reformulações em sua política de preços e descontos e já afetam o dia a dia da operação como a gestão da folha de pagamento e o modelo de contabilidade, por exemplo. Mas haverá alterações mais profundas. O sistema de software de gestão SAP começa a funcionar no início de 2011 na rede em todo o país, apurou o Valor.
Na manhã de ontem, em encontro com investidores, o presidente das operações internacionais da companhia Doug McMillon, disse que a companhia decidiu fazer uma "reengenharia" nos negócios no Brasil, com a simplificação das operações no país. O executivo afirmou que haverá uma "pressão de curto prazo" no Brasil com algumas dessas mudanças. Segundo ele, a empresa optou por alterar o modelo de compras no Brasil - o que deve resultar nessa maior pressão comentada por ele - e ainda irá realizar outras mudanças, sem dar detalhes a respeito.
Essas mudanças a que ele se refere estão sendo implementadas pelo Walmart nos últimos meses e são cruciais para a organização. Mas antes de entendê-las, é preciso compreender melhor outro movimento ligado a essas mudanças: a saída do cargo do ex-presidente da rede no Brasil, Héctor Núñez.
Ele foi transferido de cargo há cerca de um mês, em meio a esse processo de reestruturação no país. Núñez deixou a subsidiária brasileira - que tem sido um dos principais destaques dos relatórios do Walmart no mundo - para liderar a operação da cadeia no sul dos EUA (Flórida e Porto Rico).
A saída do executivo foi interpretada como reflexo de uma questão relacionada a perda de rentabilidade da operação, algo não tolerado pela matriz americana. De fato, os resultados relacionados à margem operacional da rede no Brasil tem sido afetados neste ano, mas não por questão de mercado, como elevada concorrência que pressiona a rentabilidade. "O Walmart comprou muitas redes, virou um transatlântico grande e pesado e precisava ficar mais leve e ágil", diz um ex-executivo ligado à empresa. "É claro que fazer ajustes aumenta perdas e gera custos. A questão é que a empresa queria se reestruturar sem que isso impactasse os resultados. Isso não existe".
Quando Núñez entrou na empresa, em fevereiro de 2008, uma de suas principais missões era fazer a integração das três operações do Walmart no Brasil. Elas estavam divididas geograficamente, no Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, após a aquisição de Bompreço e Sonae, em 2004 e 2005, respectivamente. E ficaram dessa forma até os últimos meses de 2009, quando Núñez deu sinais de que faria as primeiras mudanças. Mas o ritmo foi lento. Duas razões explicam isso: a falta de agilidade na tomada de decisões na própria matriz (tudo precisa ser aprovado na sede) e resistências internas. "Quando Héctor entrou, tudo estava dando resultado, mesmo com operações sem sinergia nenhuma. Começar a mexer era mesmo uma decisão difícil. Todo mundo sabia que haveria perdas, mas a cobrança não iria diminuir", diz um consultor que prestou serviços à rede em 2009.
Neste momento, a companhia está implementando as alterações necessárias, sob o comando do novo presidente Marcos Samaha. No fim deste ano, Walmart implantará o sistema SAP nacionalmente. Ele é crucial porque ajuda a planejar, monitorizar e rastrear os movimentos de mercadorias por toda a cadeia. Até hoje, isso é feito regionalmente e sem o SAP.
Além disso, desde maio, a empresa opera um centro de serviços compartilhados para gerir questões como contas a pagar e folha de pagamentos das lojas em todo o Brasil. Antes, funcionava regionalmente. Outra alteração importante foi feita em abril. Foram eliminados três cargos de vice-presidente comercial para cada uma das regiões Sul, Sudeste e Nordeste. No lugar, foram criados dois: de vice-presidente de hipermercados e vice-presidente de supermercados para o país todo.
Com essas mudanças o Walmart planeja operar de forma mais ágil e recuperar eventuais perdas nesse processo com os ganhos de sinergia futuros, algo que já foi feito pelos rivais como Pão de Açúcar e Carrefour nos últimos anos, depois de também terem crescido velozmente.
Ontem, nos EUA, o comando da rede informou que pretende crescer com "aquisições estratégicas em mercados grandes e de crescimento acelerado", disse ontem o presidente das operações internacionais da companhia Doug McMillon. Segundo ele, a companhia precisa de mais escala no Japão e gostaria de aumentar sua presença na Argentina, Chile e Brasil.
Veículo: Valor Econômico