Ceagesp deteriorada

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O pavilhão da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), terceira maior central de abastecimento do mundo - atrás apenas das de Paris e Nova York -, está seriamente comprometido por falta de manutenção. Infiltração, ligações elétricas irregulares, ferrugem nas estruturas metálicas, equipamentos de segurança obsoletos e avarias no telhado do prédio, por onde circulam 50 mil pessoas diariamente, levaram a Subprefeitura da Lapa e o Departamento de Controle do Uso de Imóveis a exigir, a pedido do Ministério Público Estadual, a reforma imediata do local. A deterioração compromete a sua segurança. Os produtores não conseguem sequer ligar um computador no entreposto sem fazer uma gambiarra na rede elétrica.

 

É lamentável que a situação tenha chegado a esse ponto. A Ceagesp - que é uma verdadeira cidade - funciona 24 horas, em área de 700 mil metros quadrados por onde circulam todos os dias 50 mil pessoas, 7 mil caminhões, 3 mil carros, mais de 3 mil carregadores e 3 mil profissionais, de empresários a vendedores. Ali se negociam no atacado e no varejo 10 mil toneladas de frutas, verduras, legumes, pescados e flores vindas de 1,5 mil cidades brasileiras e de 18 países.

 

Há quatro anos, um laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas apontou risco de queda da marquise do pavilhão de 30 mil metros quadrados, onde funciona o Mercado Livre do Produtor. Só em junho o Ministério da Agricultura liberou os R$ 11 milhões necessários para a reforma do prédio. Além do repasse federal, a Ceagesp conta com um Fundo de Melhorias formado com a taxa de 12% do rateio mensal dos permissionários.

 

Em nota oficial, a direção da Ceagesp afirmou que o local não corre risco de desabamento e que vai procurar a Subprefeitura da Lapa para saber se as providências "que já tomou e vai tomar são suficientes para evitar uma possível interdição". Se tais providências foram de fato tomadas, ninguém percebeu, tamanha a degradação do local. A Ceagesp deveria ser mantida sob vigilância constante das autoridades responsáveis pela sua segurança. Afinal, num local tão movimentado, qualquer irregularidade pode provocar acidentes de grandes proporções.

 

No website da Ceagesp, o seu presidente, Mário Maurici, publicou em junho carta na qual afirma que as primeiras obras com recursos do Fundo de Melhorias se concentraram na recuperação do asfalto do local. Teria sido o primeiro passo para um "grande salto de qualidade" para melhorar o espaço.

 

Mas a prioridade deveria ter sido a estrutura da marquise que, construída há mais de 40 anos, nunca teve a devida manutenção. Maurici assegura em sua carta que outras obras serão realizadas rapidamente, "como as de recuperação da rede de alta-tensão". É preciso muito mais. Da reforma geral da estrutura da marquise às condições de higiene do local - pombos voam sobre as bancas de frutas, verduras e pescados no "varejão" -, quase tudo precisa de cuidados urgentes.

 

Além dos consumidores do varejo e do atacado, a Ceagesp atrai empresários, turistas, pesquisadores e estudantes vindos de todos os cantos do mundo. No ano passado, grupos da Holanda, Japão, China, Peru, Costa do Marfim, entre outros, visitaram o local. Viram desde as redondezas da Ceagesp, ameaçadas pelos depósitos de caixas de madeira que frequentemente se incendeiam, até os "rios" de melancias e alfaces que se formam a cada inundação. Não bastasse isso, as péssimas condições da marquise também chamaram a atenção dos visitantes.

 

Só as autoridades, que há décadas tratam o entreposto com total descaso, apesar da sua importância para o País, não veem essa situação. A companhia foi, em 1998, incluída no Processo Nacional de Desestatização e, desde então, os repasses do governo federal cessaram sob a alegação de que investimentos públicos acabariam beneficiando a iniciativa privada. Raciocínio mesquinho que fez a deterioração chegar ao limite, colocando sob risco a multidão que por lá circula.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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