A safra de trigo deste ano foi boa, podendo atingir 5,5 milhões de toneladas. A qualidade é melhor do que a do ano passado, mas o cenário de comercialização é o mesmo de 2009: está travado.
"Estamos em uma situação extremamente delicada. A safra foi boa, o trigo tem qualidade, mas cooperativas e tradings não estão comprando. As contas estão vencendo e o produto está nos silos sem comprador."
O desabafo é de Roberto Coutinho, pequeno produtor do norte do Paraná.
Os moinhos, destino final do trigo nacional, reconhecem que a comercialização está travada. Lawrence Pih, do Moinho Pacífico, diz que o trigo desta safra "está uma beleza, tem um conteúdo de proteína elevado, mas o cereal, na média, não serve para a fabricação de pão".
É bom para biscoitos, bolachas e massas, mas o índice de glúten não é favorável à fabricação de pão.
O gerente de uma cooperativa paranaense, que não quis se identificar, admite que as cooperativas não estão comprando trigo. Ele admite até que elas estão deixando a desejar nesse processo de comercialização.
Segundo ele, se as cooperativas fizessem uma mistura de todos os tipos de grãos de boa qualidade originários de diversos silos, a comercialização poderia fluir melhor porque o cereal seria mais uniforme.
Isso gera custo e as cooperativas não têm certeza de que os moinhos vão adquirir esse produto, diz ele.
Na avaliação de Pih, será necessário um programa do governo para auxiliar o escoamento externo desse produto nacional, aceito em muitos países.
A comercialização baixa do trigo não fica restrita, no entanto, à qualidade do produto. Com o câmbio no patamar atual, o preço externo do trigo fica mais em conta do que o do nacional, o que leva os moinhos a elevar as importações.
Segundo o gerente da cooperativa, os moinhos buscam adquirir apenas o produto de melhor qualidade internamente para misturar com o importado, que chega ao país por um custo menor.
Veículo: Folha de S.Paulo