Para uma companhia cujos produtos se espalham pelas prateleiras de praticamente todas as residências no Reino Unido, sem mencionar a grande variedade no Brasil, Indonésia e China, as ações da Unilever não estão sendo procuradas. A fabricante do sabonete Dove conseguiu confundir as expectativas dos analistas neste mês, ao expandir, em vez de contrair, as margens operacionais no terceiro trimestre, mas isso parece ter feito pouca diferença.
As ações no grupo anglo-holandês estão atrás dos papéis das suas congêneres em aproximadamente 15% e estão em queda de 7% no ano; o índice de ações FTSE 100 e a Procter & Gamble (P&G), rival da Unilever nos EUA, aumentaram em ritmo semelhante no mesmo período. Isso é algo muito distinto da reclassificação do papel que começou em março do ano passado, logo depois de Paul Polman ter se tornado CEO e só diminuiu neste ano.
No seu auge, a Unilever estava sendo negociada perto de 16 vezes a estimativa média dos lucros futuros; hoje, está beirando 14 vezes, segundo a FactSet.
A maioria dos analistas dá crédito a Polman por cumprir suas promessas. Ao assumir o posto de CEO, ele jogou fora as metas financeiras estabelecidas por seu antecessor, Patrick Cescau, preferindo ressuscitar o crescimento da receita, melhorar as margens (ambas vítimas da era de redução de custos de Cescau) e incrementar a geração de caixa. Atingir essas metas - a Unilever registrou seis trimestres de crescimento de volume na comparação ano a ano aliado a progressão de margem e maior geração de caixa - ajudou a obter apoio. Apenas três dos 25 analistas monitorados pela Bloomberg recomendam a venda do papel (nenhum "vende" a P&G).
"A Unilever está fazendo tudo o que eles dizem que ela deveria fazer", diz Jamie Isenwater, analista do Deutsche Bank. Ao reposicionar produtos e marcas, diz, a companhia está elevando o crescimento do volume e, consequentemente, a alavancagem operacional. "Isso lhes permite reinvestir no negócio para continuar mantendo o aumento de crescimento adicional e se torna um ciclo vicioso... Isso é potencialmente reproduzível na melhor parte de uma década - tanto quanto o da Nestlé, basicamente".
Mas o pessimismo subsiste. "Paul Polman planejou uma recuperação de volume como prometido, mas possivelmente não se trata de uma recuperação maior do que teríamos esperado, dada a dramática deflação de preços ocorrida no setor desde o último trimestre de 2009, diz Martin Deboo, analista do Investec. "O tempo de teste é agora, à medida que essas tendências se invertem".
Alex Smith, da Nomura, diz que será mais difícil manter o crescimento e a progressão da margem agora que os preços dos insumos estão subindo e os consumidores continuam ariscos. "Nesse ambiente poderá demandar mais tempo criar o "ciclo virtuoso", com os altos custos acarretando preços mais altos ao consumidor e, ao mesmo tempo, limitando a capacidade de elevar os níveis de apoio de marketing".
A Unilever tem uma série de trunfos na mão. Ela continua mantendo as economias de custos, a um valor esperado de € 1,3 bilhão (US$ 1,8 bilhão) e, mais importante, tem sólida exposição a mercados emergentes em expansão acelerada, que representam cerca de 50% das vendas.
Se por um lado isso pode ajudar Polman a cumprir sua promessa de duplicar o faturamento em 10 anos - depois de uma década onde as vendas praticamente não saíram do lugar - por outro, ela continua arrojada. O crescimento subjacente das vendas nos emergentes tem se mantido a 9% ao ano ao longo de 20 anos, enquanto a perspectiva para os mercados desenvolvidos é apática.
Sutilezas maiores persistem. Muito tempo depois de os conglomerados terem caído em desgraça, a Unilever é uma desajeitada despensa de cozinha com itens que vão de chás a sabão. Alguns produtos estão acumulando pó.
Julian Hardwick, do Royal Bank of Scotland, destaca a unidade europeia ocidental, que vale aproximadamente 30% das vendas e que tem "ficado sistematicamente atrás" das demais unidades.
Ele atribui isso em parte à mistura de categorias - o apático setor de "spreads" (produtos para passar no pão como margarina e maionese) responde por aproximadamente 15% das vendas na Europa Ocidental - junto com a dinâmica competitiva; no estável mercado de detergentes de roupas para lavar, a Unilever concorre com a P&G e a Henkel, da Alemanha.
A resposta da Unilever é inovar a caminho do topo: aumentar o mercado e sua própria participação. Aqueles que acreditam na capacidade de Polman continuar cumprindo suas promessas se confortam ainda mais com a classificação relativamente baixa do papel. "O reverso da equação é que [o papel] está muito barato em relação ao setor", diz Deboo. (Tradução de Robert Bánvölgyi)
Veículo: Valor Econômico