Queda na demanda por celulose pode ampliar produção de papel

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O setor de papel e celulose passou por um processo de desintegração da produção da polpa e do papel em toda a América Latina. Nos últimos anos, a maioria dos investimentos feitos foram no aumento de produção da pasta. A maior demanda da China pela matéria-prima nos últimos anos precipitou esse descolamento entre o insumo e o produto final. A desvalorização do dólar também não tornava a fabricação do papel mais atraente. Todo esse interesse pela celulose, entretanto, acabou criando uma superoferta do produto. "Existe capacidade 10% superior, o que significa que os preços devem cair nos próximos meses no mercado mundial", afirmou Kurt Schaefer, o especialista em fibra da Risi. "Isso sem falar no esfriamento generalizado da demanda".

 

Para a analista de pesquisa da Risi, Patricia Perez, uma alternativa poderá ser a produção de papel para abastecera a América do Sul que hoje ainda tem volume expressivo de importados, exceto em imprimir e escrever, e o dólar mais alto pode viabilizar a venda externa.

 

No Brasil, o movimento foi ainda mais forte em função da alta competitividade da fibra curta de eucalipto. A produção da polpa saltou mais de 200% desde 1989, passando de 3,7 milhões de toneladas para 11,4 milhões em 2007 - e os planos dos fabricantes antes da crise indicavam que deveria superar 18 milhões de toneladas até 2012. Enquanto isso, a produção de papel no período passou de 4,8 milhões de toneladas para 9 milhões de toneladas, crescimento de 87,5%, conforme dados da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa).

 

A produção brasileira da pasta celulósica de fibra curta atingiu 6,549 milhões de toneladas de janeiro a julho deste ano, alta de 13,6% em relação ao igual intervalo do ano anterior. Já no caso das fibras longas foram 831.861 mil toneladas, 3,2% acima das 805,8 mil do ano anterior. Já no papel a produção cresceu no mesmo período 1,49%, para 5,5 milhões de toneladas.De acordo com o presidente da Votorantim Celulose e Papel (VCP), Luciano Penido, a necessidade chinesa por matérias-primas impulsionou a produção da polpa. Além disso, a fibra curta vem alcançando maior presença no mercado, inclusive com misturas com as fibras longas. "A demanda só começou a esfriar em função das Olimpíadas, que obrigou as autoridades chinesas a paralisar a produção das fábricas daquele país, o que, aliado às férias no hemisfério Norte, prejudicaram o movimento. Agora com os efeitos da crise, ainda não sabemos como ficará", afirmou Penido.

 

Segundo o presidente da Klabin, Reinoldo Poernbacher, até mesmo em embalagens, que necessitam de maior resistência, a fibra curta vem sendo acrescentada. "Nos últimos cinco anos, nos produtos da Klabin, assim como em todos os segmentos, a presença da fibra curta dobrou. Mas tudo tem um limite para essa migração", disse.

 

Neste tempo todo, pouco ou quase nada se fez para elevar a capacidade na área de papel em toda a América Latina. Apenas ajustes, de acordo com a analista de pesquisa da Risi, Patricia Perez. "Desde 2003, quando a Klabin tirou uma máquina do mercado, a taxa de utilização da capacidade na indústria de papel subiu para 95%", afirmou. Além disso, fábricas foram fechadas no Chile e a Norske desistiu de implantar uma máquina que já está no Brasil, vinda transferida de outra região. "Com o real forte, inviabilizava a atividade, então houve pouco aumento de capacidade". Agora, com a crise e os problemas na mexicana Durango as coisas ficam ainda mais complicadas na América Latina, segundo a especialista. Mas as oportunidades começam a surgir na área de papel. "Grande parte da demanda em diversos segmentos de papel, tirando imprimir e escrever, é suprida por produtos importados", disse. Enquanto os Estados Unidos suprem a América do Norte inteira e América Central, a analista acredita que haverá espaço para vender na América do Sul.

 

Segundo a executiva, a Argentina também anunciou uma fábrica que não foi concluída e na área de papel-cartão, em 15 anos, pouco se viu em aumento de capacidade.
"Só a nova máquina da Klabin, em Telêmaco Borba (PR), conseguiu reduzir um pouco a taxa de utilização, o resto foi apenas reformas e ganhos de eficiência."
Máximo Pacheco, presidente executivo da Intenational Paper (IP) no Brasil, afirmou na última sexta-feira que a crise não deve alterar os planos de investimento da empresa que se prepara para inaugurar uma nova fábrica, com capacidade de 200 mil toneladas, no primeiro trimestre de 2009, em Três Lagoas (MS). Segundo Pacheco, a capacidade deve ser utilizada para exportação r a alta do dólar deve dar um alívio às margens da empresa que estavam "muito pequena". Cerca de 80% das exportação vai para os países da América Latina.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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