Questão voltou à tona no contexto da possível aquisição da americana Sara Lee pelo grupo brasileiro
Enquanto JBSe Sara Leemantinham ontem silêncio sobre um possível acordo de compra da multinacional americana pela brasileira, analistas e fontes desses mercados avaliavam quais as alternativas da JBSpara financiar a eventual nova aquisição.
A empresa tem em caixa R$ 4,4 bilhões, mas seu endividamento é elevado. O de curto prazo está em R$ 5 bilhões e os financiamentos de longo prazo, em R$ 9,9 bilhões, segundo a Economática. O que preocupa os analistas é a alavancagem elevada da companhia, que recorreu a emissões de ações e de debêntures conversíveis em ações, no ano passado, para financiar as aquisições da Bertin Alimentos e da Pilgrim's Pride.
De acordo com a JBS, no fim de setembro deste ano, sua alavancagem - relação dívida líquida sobre EBITDA - era de 2,9 vezes. No fim do segundo trimestre deste ano estava em três vezes.
Um analista do segmento de carnes observa que, em todo o setor de frigoríficos de carne bovina, o processo de desalavancagem está sendo mais lento do que o esperado. Isso significa que a geração de caixa do setor não tem sido suficiente para que as empresas reduzam seu endividamento. Diante disso, a questão é se este é o momento para se endividar ainda mais.
A ausência de informações sobre o que exatamente a negociação englobaria também gera dúvidas no mercado. Nem JBS nem Sara Lee admitem as conversas, mas também não negam a existência de uma operação de venda de uma parte ou mesmo de toda a operação da Sara Lee para a companhia brasileira.
Segundo fontes do mercado ouvidas pelo Valor, as conversas entre as duas empresas tiveram início há cerca de seis meses e a JBS estaria interessada em adquirir toda a operação do grupo americano, que envolve indústrias e marcas de chá e café na Europa e Brasil, os negócios de food service e as empresas de alimentos industrializados, com forte presença nos Estados Unidos.
De acordo com essas mesmas fontes, a negociação estaria sendo demorada pela falta de consenso sobre o valor de cada ação da Sara Lee. A informação é que a JBS teria proposto pagar entre US$ 17,40 e US$ 17,60 por ação. A Sara Lee, no entanto, quer entre US$ 20 e US$ 20,50 por ação.
A Sara Lee cresceu graças a um processo forte de diversificação. Além de alimentos e bebidas, a empresa já atuou no mercado de cosméticos, higiene e até mesmo roupas íntimas. Nos últimos anos, iniciou um processo de reestruturação com a venda de ativos. Em 2005, a multinacional vendeu suas operações de café no mercado americano para a italiana Segafredo Zanetti, deixando de operar no maior mercado consumidor de café do mundo. Uma das últimas operações foi a venda de sua rede global de cuidados com o corpo e as suas empresas europeias de detergentes para a Unilever, uma operação de €1,21 bilhão.
No Brasil, segundo maior mercado consumidor de café, a Sara Lee detém uma fatia de quase 21% das 19 milhões de sacas comercializadas por ano, um mercado estimado em R$ 7 bilhões.
O interesse da JBS na Sara Lee chamou a atenção justamente pela diversificação da empresa americana. Segundo fontes, mesmo sem ter qualquer afinidade com a indústria de café, a JBS chegou a buscar informações no setor para entender o funcionamento desse mercado.
Mais compreensível é o interesse da brasileira na área de carnes e de food service da Sara Lee, já que a JBS pretende ampliar seus canais de distribuição no mercado americano.
Veículo: Valor Econômico