Mais marcas, mais lançamentos e novos consumidores na praça. O setor de higiene, beleza e cosméticos vendeu volumes maiores neste ano, com destaque àqueles itens com valor agregado maior - e isso deve levar o setor a atingir um crescimento real de até 12% na receita líquida (livre de impostos) em 2010. Análise inicial da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) apontava para uma expansão entre 10% a 12% (taxa deflacionada) na receita do segmento. Agora, empresas e entidades do setor acreditam que o crescimento deve ficar próximo ao teto esperado para o ano.
Numa análise de resultados de grandes companhias do setor, os dados podem ser até mais animadores. De janeiro a setembro, a Naturacresceu 22,5% em receita e fez 75 lançamentos. A Hypermarcasteve um crescimento orgânico (sem incluir aquisições) de 29% de janeiro a setembro nas áreas de higiene pessoal e beleza. O Boticáriolançou 402 produtos em 2010 e espera ampliar a receita em 25% no ano.
Para a Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC), o índice de crescimento deve ser pouco superior a 10%. A Abihpec espera que o próximo ano mantenha, pelo menos, a taxa anual de 10,5%, a mesma verificada na média dos últimos últimos 14 anos. Em 2009, o segmento atingiu vendas líquidas de R$ 24,9 bilhões após crescer 9,8% (taxa deflacionada). Ao se considerar a inflação, a expansão foi de quase 15%.
Grandes empresas chegam a crescer mais que o dobro da velocidade média do setor no ano
A migração de consumidores das classes C e D para B e C, respectivamente - fruto dos ganhos de renda da população - tem reflexo direto nesse movimento. É que a venda dessas mercadorias está relacionada com os ganhos no rendimento familiar. Estima-se que 45% das compras de produtos de beleza no país aconteçam na venda porta a porta, ou seja, com pagamentos à vista, segundo a Associação Brasileira de Cosmetologia. Além disso, há uma questão ligada a necessidade maior de bem-estar e a vaidade do brasileiro, dizem os especialistas. "O consumidor da classe C está disposto a pagar mais caro por cosméticos de melhor qualidade. Uma pesquisa do Ibope mostra que 75% desse público prefere pagar mais por uma marca de cosméticos conhecida", disse Alberto Keidi Kurebayashi, presidente da ABC.
Na análise da Associação Brasileira de Vendas Diretas (ABVD), que tem Avon e Natura como associadas, os investimentos realizados em armazéns e centros de distribuição no segmento "a partir do zero", ao longo de 2010, mostra que há uma expectativa de manutenção desse patamar de crescimento a longo prazo, afirma Paulo Quaglia, presidente da entidade. Avon e Natura ampliaram as suas estruturas de armazenamento neste ano.
A análise dos consultores em relação ao desempenho das empresas em 2010 confirma esse quadro. "As receitas da Natura tiveram boa expansão, auxiliadas pelo momento positivo que a economia e o setor de cosméticos, perfumaria e higiene pessoal contemplam no país, assim como a margem bruta, que se elevou em razão da queda dos custos de matéria-prima e do material de embalagem", explicam em relatório Marianna Waltz e Mário Bernardes Junior, analistas do Banco do Brasil.
Para Juliana Campos, da Ativa Corretora, as empresas têm se favorecido de uma alta aceitação dos consumidores pelos lançamentos. "O excelente desempenho do mercado de atuação, a manutenção de elevadas taxas de expansão do canal de vendas e a excelente aceitação dos novos lançamentos" explicam o desempenho do setor, informa em relatório
Alguns produtos tiveram destaque este ano e outros devem sustentar o bom desempenho em 2011. Perfumes e maquiagens receberam altos investimentos da Avon e Natura em 2010. Já a Unileverfocou em áreas como desodorantes, sabonetes antibacterianos e produtos para cabelos com caspa, assim como a Procter & Gamble, que entrou nesse segmento ao trazer para o Brasil, há três meses, a marca Head & Shoulders.
A P&G ainda decidiu neste ano lançar no país a sua marca de cremes para o rosto, Olay, e de absorventes Naturella. A brasileira Hypermarcas investiu de forma mais concentrada em produtos de beleza para homens (com as linhas Bozzano e Gillette) e ampliou a atuação e lançamentos de marcas como Monange e Risqué. "Essa movimentação aumentou muito o peso do setor no grupo de segmentos que mais investem em mídia no país. A classe C quer esses produtos e isso vai continuar dessa forma em 2011", diz Luiz Lara, presidente da Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap).
Veículo: Valor Econômico