As chuvas de verão, que normalmente reduzem a produção de verduras e contribuem para elevar os preços nesta época do ano, devem trazer nas próximas semanas altas superiores às alcançadas em 2010. O movimento atípico se deve à tragédia na região Serrana do Rio de Janeiro, importante polo produtor de hortaliças do Estado. Na sexta-feira, o mercado carioca entrou em "colapso" e, desde então, atacadistas e supermercadistas estão buscando produtos em São Paulo.
Os preços das hortaliças na Companhia de Entrepostos e Armazenagens de São Paulo (Ceagesp) subiram, em média, 15% desde o final de dezembro, quando as precipitações se tornaram mais fortes e persistentes. Esse percentual vai à 50% entre os produtos mais sensíveis à combinação de chuvas e altas temperaturas, como agrião, alface e rúcula. Segundo o economista da Ceagesp, Flávio Godas, a tendência é que os preços, normalmente mais elevados nessa época do ano, superem o pico atingido no ano passado.
Uma caixa de alface lisa (hidropônica), por exemplo, estava valendo na última sexta-feira R$ 16,61, o que já significa um aumento de 31% em relação à cotação do dia 3 de janeiro, segundo dados da Ceagesp. No entanto, está ainda longe de atingir o pico de 2010, em fevereiro, quando a caixa atingiu R$ 26. "Mas as chuvas de 2010, na verdade, iniciaram mais cedo, em dezembro de 2009. A estação chuvosa de 2011 está só começando. A tendência é de os preços subirem mais do que em 2010", diz Godas.
Isso porque, afirma ele, além das perdas em São Paulo, que ficaram dentro da média dos últimos anos, houve uma grande quebra no Rio de Janeiro por causa do desastre na região Serrana, importante produtora de verduras. "Desde sexta-feira, está havendo demanda de distribuidores, atacadistas e supermercadistas do Rio de Janeiro por produtos aqui de São Paulo", diz Godas. Os itens mais procurados são folhas, como alface, rúcula e couve flor, diz ele.
Nas Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa-RJ) os preços de algumas folhas chegaram a dobrar na última sexta-feira. Luiz Alberto Pereira, da divisão técnica do Ceasa, afirma que uma caixa (18 a 24 pés) de alface lisa, por exemplo, foi vendida no local a R$ 30 na sexta-feira, valor que estava no patamar de R$ 15, dias antes. "Na sexta, o mercado simplesmente entrou em colapso, porque não havia produto. Os preços hoje voltaram a R$ 15, mas ainda estão muito longe dos níveis normais, de R$ 8", diz Pereira.
Nos municípios onde aconteceram as inundações, como Teresópolis, Nova Friburgo e parte de Sumidouro, a perda na safra de hortaliças foi próxima a 100%. Outras regiões próximas não foram tão afetadas na produção, no entanto, tiveram o transporte de produtos prejudicado pela ruptura de pontes e destruição de estradas. "Agora, essa logística começa a ser restabelecida", diz Pereira.
Veículo: Valor Econômico