Um ano depois, Cadbury segue absorvendo a Kraft

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A perda de um grupo de executivos do alto escalão, a eliminação de cerca de 100 empregos nos escalões mais baixos e a queda das vendas trimestrais nos principais mercados. Passado um ano da compra da Cadbury pela Kraft Foods, o cenário parece bem mais leve do que era no começo de 2010.

 

Cadbury, a fabricante de confeitos do Reino Unido, está em melhor forma do que muitos previam. No auge da batalha da aquisição de 11,7 bilhões de libras (US$ 18,7 bilhões), encerrada em janeiro de 2010, Lord Mandelson (na época secretário de Negócios do Reino Unido) e outros levantaram o espectro de que o Reino Unido estava sendo ludibriado. Empregos e impostos seriam desviados para a Suíça, reclamavam os fatalistas; o chocolate inglês passaria a ter gosto de plástico e o capitalismo benigno encorajado pela companhia fundada por quakers iria se tornar uma lembrança distante.

 

Mas a verdadeira perdedora, segundo alguns analistas, é a Kraft. "A Cadbury tinha um entendimento moderno do consumidor e de seus clientes de varejo", diz um ex-funcionário da Cadbury. "Passamos anos construindo isso na Cadbury, e isso foi perdido."

 

A Kraft discorda. Trevor Bond, que comandou a Cadbury no Reino Unido e hoje comanda as operações da Kraft na Europa, diz que as vendas da Cadbury estão se saindo "incrivelmente bem" no Reino Unido e promete muitos lançamentos de produtos com a marca Cadbury.

 

"Muitos produtos estão sendo lançados sob a Kraft, como por exemplo a barra [de chocolate] Spots v Stripes, como parte da campanha para as Olimpíadas", diz ele. Os cinco a dez lançamentos ocorridos no ano passado com a marca Cadbury serão repetidos neste ano.

 

E apesar da partida, após o "takeover", de ex-funcionários da Cadbury, como Ignasi Ricou, que comandava as vendas na Europa e as operações de gomas de mascar e barras de chocolates, o grupo está entusiasmado com o futuro. "As culturas das duas organizações são tão parecidas que está sendo fácil unir a Kraft e a Cadbury", diz Mike Clarke, presidente da Kraft para a Europa.

 

Trevor Bond diz achar pessoalmente insultante falar em uma "fuga de cérebros". A Kraft calcula que cerca de um terço de seus 400 altos-executivos são ex-funcionários da Kraft, acrescentando que a maior parte das demissões ocorreu por motivos pessoais.

 

Mas fontes internas afirmam que a propensão da Kraft por reuniões longas, e um desejo de incluir executivos da cúpula em todas as decisões, tornou de qualquer maneira os novos empregos menos interessantes.

 

"Colocado de uma maneira bem simples, o gorila nunca teria sido aprovado pela Kraft", diz uma fonte, referindo-se ao comercial de TV veiculado pela Cadbury, em que um gorila toca bateria para vender um chocolate da marca.

 

Outra diz que há muita insatisfação em relação "ao número de escalões e pessoas envolvidas para que as coisas aconteçam... Esqueça o gerente de marcas tendo poder sobre algo".

 

Sir Roger Carr, que como presidente do conselho de administração da Cadbury montou uma defesa sólida, diz: "A Cadbury mudou com sucesso para um modelo puro de produção de confeitos, com todos os benefícios da objetividade e da identidade proporcionados pelo foco. Portanto, um retorno ao modelo de conglomerado seria difícil do ponto de vista do moral, motivação e momento".

 

Vários ex-funcionários apontam para a sensação "Orwelliana" que tomou conta da Cadbury sob o controle da Kraft. O grupo alimentício americano lançou seu site interno sob o slogan "mais delicioso do que nunca" e, segundo funcionários, não conseguiu perceber a ironia de ver nessas palavras seu pacote de dispensa de funcionários.

 

O retorno do staff é encorajado no site, mas o anonimato não. Assim, os comentários foram cautelosos. Meses depois, os funcionários reclamavam que as audiências com Irene Rosenfeld, CEO da Kraft, pois as perguntas tinham que ser apresentadas antecipadamente.

 

Jennie Fromby, diretora nacional do sindicato Unite, diz: "As pessoas dizem que ela é muito distante: ela fala para eles, e não com eles".

 

Rosenfeld não participou da reunião do comitê legislativo da Câmara dos Comuns em março, que tratou do negócio, atraindo mais críticas. A Kraft não diz se ela participará da próxima reunião do comitê.

 

Isso está deixando os trabalhadores nervosos. A decisão de fechar a unidade da Kraft em Cheltenham - os funcionários poderão escolher mudar para os escritórios da Cadbury no fim deste ano - significa, segundo um deles, que os funcionários da Kraft também estão ficando desmoralizados. "Eles sentem que como compradores deveriam ser dominantes, mas são eles que estão tendo que mudar para não perder seus empregos."

 

Enquanto isso, os trabalhadores do chão de fábrica estão aflitos com o futuro. O sindicato conseguiu uma garantia de emprego de dois anos, mas ela vende em mais um ano. Formby diz que "a Kraft está altamente alavancada e precisa, de alguma forma, pagar essa dívida. Está claro que há oportunidades de 'racionalização', conforme coloca a companhia".

 

Pelo menos os apreciadores de chocolate têm poucos motivos para reclamações. Mas isso poderá mudar no mês que vem, quando o Dairy Milk de 140 gramas vai encolher para 120 gramas.

 

Muitas outras companhias do setor de alimentos vêm adotando medidas parecidas para enfrentar os preços mais altos das commodities mas, segundo diz uma fonte, por algum tempo a Kraft será vista no Reino Unido como "raptora de chocolate".

 

Veículo: Valor Econômico


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