Ritmo de queda das taxas após novas regras para o setor vem surpreendendo analistas, que esperavam um movimento de redução mais gradual; previsão é que efeitos já se reflitam nos resultados da Cielo e da Redecard, as duas maiores do setor
Com o aumento da concorrência no setor de cartões, os lojistas estão conseguindo renegociar com as empresas e as taxas cobradas por transação realizada pelos consumidores com este meio de pagamento estão caindo. A queda está surpreendendo analistas, que já preveem redução das receitas e dos lucros da Cielo e da Redecard, as duas maiores credenciadoras de estabelecimentos comerciais.
A Agência Estado apurou que algumas grandes redes conseguiram redução de até 40% nas taxas, como é o caso da Pague Menos, uma das maiores redes de drogarias do Brasil. Para a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), as taxas devem continuar recuando, conforme a competição aumente e novas empresas passem a operar no mercado.
O presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Júnior, destaca que, desde a abertura do mercado de credenciamento, em julho de 2010, alguns lojistas estão conseguindo isenção na locação das máquinas e redução de até 35% na taxa por transação. Segundo ele, essa taxa média, que variava de 3% a 5% antes do fim da exclusividade da Cielo e Redecard, está, atualmente, entre 2,5% e 4,5%. Essa variação ocorre de acordo com a característica dos estabelecimentos comerciais. A expectativa de Pellizzaro Júnior é de que a taxa média recue para o intervalo de 1,5% a 2,5%.
As renegociações das taxas se intensificaram no quarto trimestre de 2010, puxadas pelas grandes redes varejistas. Os resultados efetivos só devem ser conhecidos a partir de fevereiro, quando a Redecard e a Cielo divulgam seus resultados financeiros. Em uma reunião com analistas de mercado em dezembro, o presidente da Cielo, Rômulo de Mello Dias, já antecipou que os resultados da empresa viriam piores no quatro trimestre por conta das renegociações dos contratos com grandes varejistas. Procuradas, Cielo e Redecard não se pronunciaram sobre o assunto, por estarem em período de silêncio.
Exclusividade. Segundo fontes, a drogaria Pague Menos obteve redução de até 40% nas despesas com os serviços de cartão de crédito - taxas de desconto, antecipação de recebíveis e aluguel de equipamentos - após fechar um contrato de exclusividade com uma grande credenciadora. Em 2009, a Pague Menos foi a varejista com o maior faturamento do ramo farmacêutico do País e a segunda em número de pontos de venda. Procurada, a empresa preferiu não se pronunciar sobre este assunto.
Os analistas do Goldman Sachs Carlos Macedo, Jason Mollin e Wesley Okada esperavam que as taxas cobradas dos lojistas fossem caindo lentamente. Mas a redução veio acima do esperado, por conta da renegociação com grandes varejistas.
Após se reunirem com executivos do setor e das duas empresas credenciadoras, os analistas do Goldman preveem nova rodada de baixas nas taxas, até porque o movimento ainda não ocorreu com força em redes menores.
A redução das taxas é "uma briga histórica" dos supermercados com as credenciadoras, afirma o vice-presidente e diretor de comunicação da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Orlando Morando.
Segundo ele, os porcentuais cobrados chegaram a equivaler a 4,5% dos valores transacionados, sobretudo nos pequenos comércios. "Isso era maior que o resultado líquido das nossas operações, que fica na faixa dos 3%", diz Morando, acrescentando que as taxas, atualmente, situam-se na média dos 3%, considerando a média entre os associados da Apas. No entanto, entre os pequenos comércios podem variar ainda entre 3,5% a 4%.
Queda ainda não chegou aos consumidores
Apesar de beneficiar os lojistas, a redução das taxas dos cartões ainda não chegou aos consumidores. O varejo argumenta que é um movimento muito recente, que começou no fim do ano. Para Fábio Pina, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), no entanto, essa redução das taxas deve chegar aos preços futuramente. "Quanto maior for a concorrência, menores serão as taxas cobradas aos lojistas. Isso deverá resultar até em queda nos preços dos produtos aos consumidores", diz. Para ele, as maiores reduções nas taxas deverão ficar mesmo por conta das grandes redes varejistas.
Veículo: O Estado de S.Paulo