Cresce lobby contra emenda do algodão

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Com medo de retaliação, indústrias americanas tentam convencer deputados a manter pagamento para o Brasil

 

O setor produtivo americano intensificou contatos com deputados e senadores dos Estados Unidos apelando para que não aceitem uma proposta de emenda ao orçamento que ameaçaria o acordo dos subsídios ao algodão entre Brasil e Estados Unidos.

 

As principais indústrias americanas temem que uma eventual aprovação da emenda obrigaria o Brasil a voltar a avaliar uma retaliação comercial contra as exportações americanas e seriam eles os mais afetados, caso essas barreiras fossem criadas.

 

Fechado em 2010, o acordo compensa o Brasil pelos subsídios americanos aos produtores de algodão americanos e evita uma retaliação milionária do País contra produtos vindos dos EUA - direito que o Brasil conquistou nos tribunais da Organização Mundial do Comércio (OMC), depois de oito anos de um confronto legal.

 

O problema é que o deputado Ron Kind, de Wisconsin, propõe agora o fim dos pagamentos concedidos ao Brasil, em uma emenda ao orçamento americano. A emenda estava prevista para ser apreciada ontem à noite na Câmara e tinha boas chances de ser aprovada. Se passar, segue para o Senado, onde deve enfrentar mais dificuldades.

 

Os EUA custeiam um fundo de US$ 147 milhões por ano recebido pelo Instituto de Algodão do Brasil (IBA), que financia pesquisas que ajudam no desenvolvimento da cultura no País.

 

"Estamos muito preocupados. Os congressistas americanos precisam entender que essa não é uma questão financeira, mas de relação comercial com o Brasil", disse Haroldo Cunha, presidente executivo do IBA.

 

Sem a compensação, o Itamaraty já deixou claro que o acordo passa a ser inválido e o Brasil voltaria a discutir a retaliação. Nesse caso, os setores atingidos seriam principalmente o industrial, razão pela qual lobbies poderosos têm pressionado os deputados a não aceitarem a proposta. O argumento é de que, no fim das contas, seriam as exportações americanas que sofreriam.

 

Kind não defende o setor do algodão. Mas acredita que não faz sentido pagar ao Brasil. Sua proposta é de que tanto o pagamento ao Brasil como os subsídios americanos ao setor do algodão sejam eliminados.

 

PARA ENTENDER

 

O caso do algodão entre Brasil e Estados Unidos se tornou um dos emblemáticos da Organização Mundial do Comércio (OMC). O processo, que já dura oito anos e meio, atraiu a atenção da opinião pública mundial, porque deixou claros os prejuízos que os subsídios agrícolas dos países ricos causam às nações em desenvolvimento, especificamente para pobres países da África. Com o acordo entre Brasil e EUA no ano passado, uma solução definitiva só deve ocorrer em 2012, quando o Congresso americano vai rever a Lei Agrícola (Farm Bill).

 

Em Washington, Genebra e Brasília, representantes do governo de Barack Obama procuraram os embaixadores brasileiros para explicar que a proposta de Kind não é apoiada pela Casa Branca. Disseram que estão tentando convencer os deputados governistas a rejeitar a proposta. Mas admitiram que a aprovação ou não da emenda não está sob seu controle.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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