O preço do algodão rompeu a barreira dos US$ 2 por libra-peso no mercado futuro de Nova York. O primeiro contrato subiu 3,55% ontem e fechou a US$ 2,04, no limite de alta de US$ 0,07 por libra-peso permitido pela Bolsa.
Em 12 meses, o algodão avançou 171%. A forte demanda pelo produto, principalmente na China, em um momento de oferta restrita -com safras prejudicadas por problemas climáticos em diversos países-, explica os sucessivos recordes de preço.
Analistas não enxergam um limite para a alta. "O preço ainda não está afetando a demanda", afirma Rodrigo Corrêa, analista da corretora Newedge, em Nova York.
"Pensávamos que R$ 3 por libra-peso seria o limite de alta para a indústria, mas o valor está bem acima disso e ela continua comprando", diz Camila Machado, da consultoria Safras & Mercado.
O indicador do Cepea apontou ontem a libra-peso a R$ 3,96 no mercado interno. Segundo pesquisa da Folha, o algodão em caroço é cotado a R$ 39,15 por arroba, em média, com alta de 37% no ano e de 76% em seis meses.
Porém, mais do que o aumento de preço, a escassez do produto é o que preocupa a indústria têxtil. "A indústria passa por sérios problemas de abastecimento", afirma Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit (associação do setor têxtil).
A colheita de algodão no Brasil começa em maio, mas a maior parte da produção deve, de fato, entrar no mercado em agosto. No início da colheita, os produtores dão prioridade a contratos fechados antecipadamente. E cerca de 60% da atual safra já foi vendida antes da colheita.
"Não sei dizer se a indústria vai sustentar essa situação até lá", afirma Diniz. Sem citar nomes, ele afirma que fábricas reduzem o ritmo de produção. Muitas estão concedendo férias coletivas ou reduzindo turnos devido à falta de matéria-prima.
Com dificuldades de repasse do aumento de custo para o consumidor, o lucro das indústrias caiu. E o limite de compressão das margens do setor vai determinar se o algodão continuará atingindo novas cotações máximas.
Veículo: Folha de S.Paulo