Setores têxtil e de vestuário em xeque.
A alta acumulada de 200% no preço do algodão nos últimos sete meses poderá provocar o encolhimento das indústrias têxtil e de vestuário no Estado. Mais afetadas pela elevação no valor da commodity, as pequenas e médias empresas mineiras, que não estocam grandes quantidades do insumo, já operam no vermelho em função da perda do capital de giro e da dificuldade de repassar o aumento.
"A escassez de matéria-prima é tão grande que as companhias já estão parando a produção em alguns turnos. Nos próximos meses, algumas fábricas deverão conceder férias coletivas na tentativa de amenizar o impacto da alta e aguardar a nova safra", revelou o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem no Estado de Minas Gerais (Sift-MG), Adelmo Pércope Gonçalves.
De acordo com ele, a alta provocou o aumento de aproximadamente 35% nos custos de produção. "No entanto, não conseguimos repassar ao mercado todo o impacto. O reajuste tem sido de cerca de 10%, o que torna as margens de lucro muito achatadas, diminuindo o capital de giro e impossibilitando a compra da commodity", explicou.
Ainda segundo Gonçalves, a expansão no preço internacional do insumo é a maior da história do setor. "O algodão ultrapassou o patamar de US$ 1 por libra-peso apenas durante a Guerra da Secessão, em 1861. Atualmente, ele está cotado em US$ 1,96 a libra-peso, ou seja, aproximadamente R$ 3,30 no mercado interno", disse.
A indústria de vestuário mineira aposta na próxima safra de algodão para equilibrar a oferta do insumo
Socorro - Diante do cenário atípico, o presidente do Sift-MG ressaltou a necessidade da aplicação de uma medida emergencial por parte do governo. "Devem ser criadas linhas de crédito específicas para socorrer as empresas do setor, que passam pela maior dificuldade já enfrentada", argumentou.
No início do mês, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit) enviou ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, um pedido de financiamento em torno de R$ 1,5 bilhão para toda a cadeia produtiva por um período de 12 meses, entre meados deste ano até junho de 2012.
Com relação ao crescimento da indústria têxtil mineira, Gonçalves afirmou que, em virtude dos altos preços do algodão, o setor poderá ficar estagnado. "Mas, estimamos uma melhora significativa depois de maio, quando terminará o período de entressafra", adiantou.
Conforme o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário no Estado de Minas Gerais, Michel Aburachid, está prevista para junho a colheita de 2 milhões de toneladas de algodão no país. "Desse total, o Brasil consumirá 1,2 milhão de toneladas e exportará 600 mil toneladas. A sobra de 200 mil toneladas deverá trazer um reequilíbrio para o preço da commodity", calculou.
Mesmo vislumbrando uma melhor conjuntura a partir do meio do ano, Aburachid afirmou que as empresas de vestuário mineiras não deverão registrar crescimento em 2011. "Se conseguirmos manter os níveis de faturamento apurados em 2010 já teremos um grande resultado", previu. O segmento faturou R$ 1,450 bilhões no ano passado, alta de 26% em relação a 2009.
Na avaliação do presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis e de Malhas no Estado de Minas Gerais (Sindimalhas), Flávio Roscoe, parte das indústrias que têm commodity como principal matéria prima poderão ser extintas dentro de alguns meses.
Veículo: Diário do Comércio - MG