Quem pensa que só de couro e sapato vive a economia da região de Franca, cidade do nordeste paulista localizada a 416 quilômetros da capital, está enganado. Prova disso é que o mercado de empresas dedicadas à produção de sorvetes não para de crescer na cidade e, em 2010, registrou um giro de pelo menos R$ 110 milhões. São quatro empresas produtoras na cidade, sendo que duas possuem estrutura estadual de distribuição e duas produzem apenas para o consumo local. No total, a produção regional chega à casa de 2 milhões de litros de sorvete por mês, sendo que a maior das indústrias, a Perfetto, produz cerca de 1,2 milhão de litros por mês.
Sediada em Patrocínio Paulista, cidade de 40 mil habitantes que faz divisa com Franca, a indústria já vende para 80 cidades do nordeste paulista e distribui seus produtos nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Já são mais de 20 linhas de sorvetes e, em média, o faturamento da empresa ultrapassa os R$ 5 milhões mensais. Telma Dalcin, fundadora da empresa, faz questão de ressaltar que ainda há muito potencial a ser explorado, não só na região como em outros estados. Ela ressalta que a empresa pretende expandir ainda mais sua atuação, e que, para isso, investe constantemente em novos produtos. "Estive na Itália onde pude conhecer as novidades no setor, novos sabores e formatos", conta ela, ressaltando que a empresa prepara alguns lançamentos para 2011. "Devido a tantos pedidos, mais de 50% da produção tem sido destinado a essas novidades", garante.
Na opinião da economista Marta Pereira, esse setor está em vasto crescimento, principalmente devido a redução dos impostos do ano passado que motivou a economia. Segundo ela, por ano os brasileiros consumem 1 bilhão de litros de sorvete. Essa quantidade é significativa, por ser um alimento que atinge todas as classes sociais. Esse movimento no setor, também acontece devido o aumento na renda das classes e o superávit no consumo. "Podemos ir todos os dias ao supermercado e veremos os carrinhos lotados, o consumo aumentou no setor alimentício", declara.
Pequeno negócio
Se a Perfetto começa a pensar nacionalmente, a Prizzi, de Franca, está contente com o mercado local e não pretende expandir os negócios, ao menos por enquanto, para fora das fronteiras da microrregião. Ainda assim, Vander Barbosa Santos, 49 anos, responsável pela indústria, está feliz com os resultados obtidos e pretende investir nesse mercado. "É uma área rentável, mas um pouco instável em relação a consumo", explica, ressaltando que, no inverno, acontece uma redução de até 40% nos pedidos.
Apesar desse ponto negativo, o empresário relata que há 20 anos atua no setor e que chega a produzir mais 35 sabores de sorvete. A indústria alimentícia revende toda a região, abastecendo, além de Franca, cidades como Cristais Paulista, São José da Bela Vista e Batatais. "Nunca tive essa intenção de ser uma grande empresa e fornecer para todo o País. Mas, a medida que fomos nos estabelecendo no mercado, houve contatos da região e conseguimos suprir essa demanda", conta ele, que fabrica 300 litros de sorvete/dia.
Segundo Vander, o processo de fabricação é bem simples, quase artesanal. Uma receita leva 15 minutos para ser feita e rende por volta de 12 litros. "Vendemos a R$ 4,50 o litro do sorvete. Se fizermos uma média, levando em conta que o valor é instável, dá pra dizer que movimento R$ 1,5 mil por dia", estima Vander.
Fabricação
Além das indústrias, há também na cidade quem produz o seu próprio sorvete e revende. Isso aconteceu na Sorveteria Pimpinella, espaço tradicional em Franca. O local existe há 26 anos e tem mais de 40 sabores disponíveis aos clientes. No total, a produção beira os 2,5 mil litros por mês. O proprietário José Baltazar Taveira, 55 anos, declara que 90% da produção são destinados aos clientes da sorveteria, sendo que os demais 10% são revendidos, principalmente a restaurantes do município. "Mas estamos com planos de aumentar a produção em pelo menos 500 litros por mês para ampliar a fatia da venda para empresas", comenta Taveira.
Ele conta ainda que a empresa possui três máquinas que têm produções diferentes e que, em média, sua produção custa na faixa dos R$ 5 o quilo. No local a bola de sorvete custa dois reais ou R$ 21, 90 o quilo. "Não posso me queixar da margem de lucro. Embora não atue muito forte na área varejista, a produção própria incrementa significativamente meu lucro", informa.
Sabor regional
O professor de economia Helio Braga Filho tem uma teoria interessante sobre o crescimento de mercado das indústrias francanas de sorvetes. Ele ressalta a peculiaridade do mercado francano para sustentar que o negócio é especialmente interessante na cidade. Segundo um levantamento feito pelo especialista, de cada dez consumidores da região, pelo menos quatro consomem preferencialmente produtos produzidos na região. "Isso cria uma reserva de 40% do mercado para os produtos locais. É uma excelente base de consumo que garante condições para buscar novos mercados de forma mais segura", avalia a especialista.
Veículo: DCI