Os produtos que começaram o ano como os mais desejados pelos consumidores, segundo levantamento do instituto Programa de Varejo (Provar), da FIA, foram os que mais sofreram aumento dos juros. O que significa que, na hora de parcelar a TV, o celular, eletrodomésticos ou artigos de informática, o comprador vai sentir no bolso uma alta de até três pontos porcentuais, que levaram as taxas a até 88,83% ao ano, na comparação de janeiro deste ano com o mesmo mês de 2010. A pesquisa dos juros é da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
A bancária Isabela Fernandes se arrependeu de parcelar seu celular novo por conta disso. “O aparelho que custava R$ 279, foi para R$ 304, um aumento de R$ 25. Se soubesse que ia pesar no meu bolso, teria pago à vista”, conta.
Na ponta do lápis, o aumento dos juros do mercado significa que, caso o consumidor compre por R$ 3 mil um aparelho eletroeletrônico — cujos juros atingiram 88,83% ao ano — e parcelar o mesmo em 12 vezes, as prestações que seriam de R$ 345,58 em janeiro de 2010, serão de R$ 346,93, agora.
Combate à inflação
Os juros do mercado foram pressionados, de acordo com especialistas, por medidas tomadas pelo governo para combater a inflação. Uma delas foi o aumento da Selic — a taxa básica de juros — que subiu 0,5 ponto porcentual no final de janeiro (de 10,75 % ao ano para 11,25%), depois de ter ficado estável desde 22 de julho de 2010.
“É normal que o mercado aumente os juros mais do que a taxa Selic. E as maiores altas são justamente dos itens com maior procura, como celular, por exemplo. Assim, o lojista praticamente não tem perda”, explica o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emílio Alfieri. Para ele, a expectativa é que a Selic alcance os 13% ao final deste ano.
Além do aumentar os juros, o governo também limitou o dinheiro em circulação disponível para empréstimos, aumentando a quantia obrigatória que os bancos têm de manter no Banco Central, o que encarece o crédito. “Só com essa última medida, o governo tirou R$ 65 bilhões do mercado no País, para combater a inflação. O reflexo para o consumidor foi que os juros deram um pulo de 10 pontos porcentuais. Em dezembro estavam em 40,6% ao ano em média e até o dia 26 de janeiro já tinham pulado pra 49,4%”, explica Alfieri.
Outro fator determinante para o aumento dos juros do mercado, segundo Eduardo Paiva, professor de finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), foi a abrangência do público alvo dos produtos mais desejados. “Pessoas das classes C e D agora têm acesso a esses itens, o que pode representar mais risco, normalmente medido pela renda e valor da prestação”, analisa Paiva.
E é aí também que entra a questão da inadimplência, que ficou estável em 2010, mas, no primeiro mês de 2011, já teve uma alta de 7,8%, segundo a ACSP. “É um fator que tem grande influência na definição dos juros do mercado. Como sempre há uma previsão de pessoas que não pagam em dia, o comércio faz uma compensação subindo os juros”, diz Alfieri.
Mas não há uma regra que determine a alta. “O valor dos juros depende muito do mercado, do tipo de empresa. Se o comércio vende pouco, por exemplo, a tendência é que ofereça juros mais baixos para atrair o consumidor”, afirma Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac.
Veículo: Jornal da Tarde - SP