Produtores e tradings de algodão em confronto nos EUA

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As maiores tradings mundiais de algodão e agricultores do Texas estão em conflito por problemas com o fornecimento, em um momento em que o preço do produto chega a seu maior patamar histórico. Os negociantes que compram algodão das planícies que rodeiam a cidade de Lubbock, a oeste do Texas, acusam alguns produtores de desistir de contratos assinados quando a cotação era menos do que metade do nível atual.

 

A disputa levou a processos, a pedidos de arbitragem e à criação de uma linha de telefone para acusações anônimas.

 

Como os EUA são o maior exportador de algodão do mundo, o problema poderia repercutir nos mercados internacionais, uma vez que as empresas têxteis em países como China, Bangladesh e Turquia lutam para conseguir o algodão em meio à queda da oferta. Em 2010, o Texas foi responsável por 44% da safra de 18,3 milhões de fardos de algodão nos EUA.

 

O conflito coloca em evidência os riscos enfrentados pelas grandes tradings de commodities - como a Louis Dreyfus, da França, Cargill, dos EUA, Olam International, de Cingapura, Noble Group, de Hong Kong, e Ecom Agroindustrial, da Suíça - quando compram, vendem e transportam algodão entre continentes.

 

Na semana passada, os preços do algodão subiram para uma cotação recorde superior a US$ 2 por libra-peso em Nova York. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) prevê que os agricultores receberão em média US$ 0,80 por libra-peso pela safra de 2010.

 

As tradings dizem ter ficado de mãos vazias após alguns poucos agricultores terem se recusado a concluir promessas de vendas.

 

"A maioria dos produtores fez a coisa honrada a se fazer", disse Mike Patranella, em nome da Associação de Algodão do Texas (TCA, na sigla em inglês), um grupo que representa as tradings. "Só que essa porcentagem muito pequena que não cumpriu o que o contrato a obrigava criou muita confusão nesses mercados tão voláteis." A TCA criou uma "linha [telefônica] de relatos sobre a integridade do algodão" para informantes que indiquem produtores que supostamente estariam deixando de cumprir contratos de fornecimento. A recompensa pelas informações é de US$ 2,5 mil para cima.

 

Documentos judiciais mostram que a Louis Dreyfus, onde Patranella trabalha, processou em janeiro pelo menos dois produtores de algodão do Texas por supostas quebras de contrato.

 

Um reclamante sustenta que um produtor que se comprometeu oralmente a vender contratos de algodão futuros por US$ 0,89 a libra-peso em setembro "recusou-se a entregar seu algodão como acertado", o que custou US$ 238.666 para a empresa.

 

Produtores admitem a escassez, mas culpam o mau tempo do outono setentrional passado, que reduziu o rendimento das plantações e dificultou o cumprimento dos compromissos de entrega.

 

"Tenho grande simpatia pela comunidade de negociantes", afirmou Steve Verett, da Plains Cotton Growers, um grupo de agricultores do oeste do Texas. "Mas tenho certa ressalva quando você deixa alguém chamar anonimamente para reclamar."

 

Honrar os compromissos de entrega é um risco sempre presente na negociação de commodities com entrega física. Alguns dos mesmos traders no Texas também tiveram problemas na Índia, segundo maior exportador de algodão, depois que o país proibiu as remessas em 2010 para ajudar a indústria têxtil doméstica.

 

No passado, agricultores também acusaram os compradores de desistir de compromissos.

 

Após a alta dos preços em março de 2008 ter provocado a quebra da subsidiária nos EUA da comercializadora de algodão Paul Reinhart, os produtores acusaram a empresa de deixar de cumprir contratos de compra, o que lhes custou mais de US$ 70 milhões.

 

Veículo: Valor Econômico


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