Al Khaleej prevê um ano difícil para as refinarias de açúcar

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Maior empresa de refino do mundo avalia que descompasso entre preços desestimula atividade

 

"Brasil continuará sendo por muitos anos o principal fornecedor de açúcar para o mundo", diz Al Ghurair, da Al KhaleejJamal Al Ghurair, proprietário da maior refinaria de açúcar do mundo, a Al Khaleej Sugar (AKS), pertence a uma das famílias mais influentes de Dubai, um dos Emirados Árabes Unidos. A refinaria, que o mercado estima faturar mais de US$ 1,2 bilhão por ano, faz parte do Al Ghurair Group, que atua também nos setores de alumínio, cimento, shoppings centers, água mineral, além de nos mercados de seguros e financeiro.

 

Um dos homens mais ricos da suntuosa Dubai, Al Ghurair não esconde seu pessimismo diante dos atuais preços do açúcar no mercado internacional. A razão é que as cotações do açúcar bruto - matéria-prima processada nas refinarias - estão elevadas, o que deixa o refino menos atrativo, já que o preço do açúcar branco, vendido pela Al Khaleej, não está subindo na mesma proporção.

 

Em entrevista ao Valor, num intervalo da 7ª Conferência de Açúcar da Kingsman, em Dubai, Al Ghurair disse que, diante desse cenário, não há previsão alguma sobre qual será o volume de açúcar a ser processado pela companhia neste ano. "O mercado não está muito bom, está difícil. Movimentamos 2,5 milhões de toneladas de açúcar em 2010, mas não sabemos como será neste ano", afirmou.

 

O problema no momento é que a diferença entre o que se paga pelo açúcar bruto e a cotação do açúcar branco (com maior valor agregado) traz pouca viabilidade às refinarias em geral. Esse spread entre os contratos de maio do açúcar branco (em Londres) e do bruto (em Nova York) está no patamar de US$ 90 por tonelada, ante os quase US$ 130 dos últimos meses. O mercado estima que para compensar a atividade de refino, essa diferença (prêmio) teria que estar próxima de US$ 100 por tonelada.

 

O pessimismo de Al Ghurair e de outras grandes refinarias do Oriente Médio deve ajudar, ainda que indiretamente, a pressionar os preços do açúcar bruto. Com pouca produção local, os países árabes são importantes importadores da commodity, sobretudo do Brasil.

 

Em torno de 90% do que a Al Khaleej consumiu de açúcar em 2010 vieram do Brasil, segundo Al Ghurair. O restante foi suprido por outros países, como a Tailândia. A empresa, instalada em 1995 na região portuária de Dubai, compra açúcar bruto do Brasil há mais de dez anos, processa e vende dentro e fora do Oriente Médio.

 

Ele disse ainda não conseguir antever alterações no suprimento mundial de açúcar bruto no mundo. "Ainda por um longo período, os brasileiros continuarão sendo o principal fornecedor mundial da commodity. Alguns países exportam algum volume, mas nada como o Brasil", observou.

 

Nem mesmo a África - com seu potencial de elevar a produção por conta de clima e solo favoráveis - deve trazer mudanças significativas a esse mercado nos próximos anos. "Eles ainda precisam produzir açúcar para atender o seu próprio consumo, antes de exportar", ponderou.

 

A boa relação com o Brasil foi decisiva no ano passado, disse Al Ghurair, quando a concentração de demanda pelo produto do país provocou filas de mais de 120 navios nos portos brasileiros e afetou a disponibilidade de açúcar bruto em algumas refinarias do mundo. "Sofremos algum atraso de entrega, mas não chegou a afetar nossos estoques. Isso, graças à boa relação que já temos estabelecida com o Brasil".

 

Neste ano, a empresa reforçou seus laços com o Brasil ao criar uma joint venture com a comercializadora de açúcar e álcool Copersucar, da qual já é grande cliente. Vão atuar juntas em uma companhia de afretamento marítimo. A nova empresa, chamada Copa Shipping Company Limited, deve movimentar nesta primeira safra cerca de 5 milhões de toneladas de açúcar, entre volumes enviados pela Copersucar a Dubai e produto refinado exportado pela AKS.

 

Apesar do pessimismo com o mercado de açúcar, Al Ghurair concorda que a atual retração das refinarias na compra de açúcar pode ser sucedida de nova concentração de demanda nos próximo meses. "Acho que podemos, sim, repetir o problema do ano passado no Brasil", disse o empresário, referindo-se à fila de navios que se formou nos portos brasileiros.

 


Veículo: Valor Econômico


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