Pressionada, indústria da laranja realiza inventário de gases-estufa

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Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Dreyfus mapeiam emissões de toda cadeia produtiva

 

Pressionados por seus clientes europeus, os maiores produtores de suco de laranja do país decidiram se juntar e, em uma decisão inédita no setor, se mobilizaram para produzir o primeiro mapeamento de emissões de gases-estufa da sua cadeia produtiva.

 

A ideia é quantificar quanto a produção das gigantes Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Louis Dreyfus - que respondem por cerca de 98% das exportações de suco de laranja do Brasil - gera por ano em gases nocivos ao ambiente, do pomar até a chegada à Europa. Em outras palavras, saber quanto de CO2 é emitido para a produção de um litro de suco.

 

Para a tarefa, a CitrusBr, a Associação Brasileira dos Exportadores de Sucos Cítricos, contratou pesquisadores da Esalq/USP especializados nessas medições. Segundo Christian Lohbauer, presidente da entidade, o inventário conjunto foi motivado pela exigência de clientes estrangeiros (no caso, a rede varejista britânica Tesco) que aderiram à iniciativa do "carbon footprint", a chamada "pegada de carbono" dos produtos que vendem. Por essa iniciativa, as embalagens devem apresentar o volume de CO2 equivalente emitido para a produção do produto, junto com o comprometimento do fabricante de reduzir essas emissões.

 

O trabalho foi dividido em três etapas da produção: agricultura, indústria e logística. Além de levar em consideração as emissões diretas, como os gases emitidos pela queima do diesel dos caminhões, o inventário olhou também para as emissões indiretas.

 

Segundo Marcelo Valadares Galdos, diretor técnico da Delta CO2, empresa incubada na Esalq responsável pelo estudo, foram incluídas, por exemplo, as emissões da fabricação dos fertilizantes utilizados nos pomares. "Conseguimos um nível alto de detalhamento nos tipos de insumos utilizados", afirma Galdos.

 

Após meses de pesquisas, ancoradas em metodologias internacionais (PAS 2050, ISO 14040 e GHG Protocol), chegou-se a um número para ser apresentado ao mundo: a indústria brasileira de laranja emite 190 gramas de CO2 equivalente para cada litro de suco concentrado produzido e 314 gramas de CO2 equivalente para cada litro de suco natural.

 

"Com o inventário, acabamos descobrindo que as emissões do setor são menores do que se pensava", diz Lohbauer, atribuindo o bom desempenho à matriz energética renovável utilizada nas indústrias, entre outros fatores.

 

Para os sucos naturais, a etapa que mais contribui para a emissão de gases-estufa é o de transportes - de 45% a 60%, dependendo das distâncias percorridas entre fazendas, indústrias e portos. Já nos concentrados, que ocupam menos espaço em caminhões e navios (otimizando o transporte), o percentual cai para 20%, fazendo com que a participação dos pomares cresça para (70%). "A agricultura contribuiu mais por causa dos adubos nitrogenados utilizados nos pomares, que emitem N2 O (óxido nitroso)", explica Galdos. E esse gás é 298 vezes mais nocivo que o CO2, tendo um efeito ainda devastador para o aquecimento global.

 

De acordo com Antonio Carlos Gonçalves, coordenador do comitê técnico da CitrusBr, o inventário de emissões de gases será realizado durante três anos, dada a volatilidade de produtos agrícolas entre um ano e outro. No primeiro mapeamento, referente a 2009 e que é apresentado agora, não foram analisadas as fazendas terceirizadas, responsáveis por cerca de um terço da produção de laranja. "Começamos apenas com os pomares próprios, que estão sob o nosso controle" e facilitam o monitoramento, diz ele. A inclusão da produção terceirizada deverá ocorrer no inventário deste ano, que será apresentado em 2012.

 

Criada há alguns anos, a "pegada de carbono" é uma tendência forte no continente europeu que começa a empurrar fornecedores de diversos segmentos industriais a prestar contas do impacto de suas atividades no clima.

 

No setor de laranja, a americana Pepsico - dona da marca de sucos Tropicana - realizou algo semelhante, revelando que para cada litro de suco produzido nos EUA, 926 gramas de CO2 equivalente é jogado na atmosfera, segundo dados da consultoria Florida Trend. A empresa, no entanto, não divulgou detalhes sobre a metodologia adotada para efeito de comparação com as emissões do setor brasileiro. Além disso, o cálculo da Tropicana inclui o processo de envasamento do suco - o que não ocorre no Brasil, que exporta o produto para ser envasado na Europa.

 


Veículo: Valor Econômico


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