Favorável à realização de conciliações com empresas que têm processos com órgãos do governo, o advogado-geral da União, ministro Luís Inácio Lucena Adams, concluiu que só poderá assinar um termo desse tipo com a Nestlé se a empresa obtiver antes o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A companhia suíça e o órgão antritruste travam uma batalha em relação à aquisição da fabricante de chocolates Garoto desde 2004, quando o Cade ventou a compra.
A Nestlé recorreu da decisão na Justiça comum e em 2009 foi determinado que o Cade deveria julgar novamente o caso. Em 2010, a Nestlé procurou a AGU para negociar um novo acordo. "Qualquer solução depende de uma discussão com as áreas técnicas", diz Adams, referindo-se aos órgãos antitruste do governo (Secretarias de Acompanhamento e de Direito Econômico).
A AGU tem estimulado as conciliações para evitar que questões envolvendo órgãos do governo fiquem anos a fio no Judiciário. A ideia é convocar as partes envolvidas e tentar superar o impasse. Esse trabalho é feito pela Câmara de Conciliação da AGU.
A Nestlé ingressou em 2010 com um pedido de conciliação para solucionar o impasse envolvendo a compra da Garoto. O negócio foi realizado em março de 2002. Em fevereiro de 2004, o Cade vetou a aquisição da Garoto pela Nestlé, após concluir que o mercado brasileiro de chocolates ficaria dividido por um duopólio. De um lado, haveria a Nestlé e a Garoto; de outro, a Kraft, dona da Lacta.
Para evitar esse duopólio, o órgão antitruste determinou que a Garoto fosse vendida a outra companhia. Grandes empresas do setor, como Cadbury e Hershey's, se interessaram pela aquisição da Garoto, mas a Nestlé recorreu ao Judiciário contra a decisão do Cade.
Em 2007, a Nestlé obteve sentença do juiz Itagiba Catta Preta Neto, da 4ª Vara da Justiça Federal de Brasília, determinando a anulação da decisão do Cade. Houve recurso e, em setembro de 2009, a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) de Brasília determinou que os conselheiros do Cade deveriam se reunir novamente para decidir o caso Nestlé-Garoto.
Atualmente, o Cade aguarda por um novo julgamento do TRF sobre o assunto. Trata-se de um último recurso no TRF, chamado de embargos infringentes, usado quando a decisão não foi unânime. Ele será analisado por cinco desembargadores, e não por três, como ocorreu no julgamento da 5ª Turma. Após a análise desses embargos, o caso pode ser levado para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), pelo Cade, pela Nestlé ou por ambos. A assessoria do Cade informou que não vai comentar a possibilidade de acordo na AGU, pois o caso está sob a análise da Justiça.
Veículo: Valor Econômico