O segundo semestre deste ano tende a ser ainda mais aquecido do que o primeiro de 2011, pois, além do calendário favorável, com várias datas sazonais seguidas, as redes começam a aumentar em até 100 dias, ou seja, jogar para 550 dias o prazo para pagamento das parcelas. Antes esse prazo era de até 450 dias. Assim, as empresas acharam uma maneira de diluir o aumento de juros de 1,7%, sem perder o cliente - ao contrário, fidelizá-lo, principalmente no caso de redes como Casas Bahia e Marabraz, com forte impacto de vendas para o público emergente, das classes C e D.
O impacto nas compras com maior parcelamento deve ser por conta das vendas no Dia das Mães e no Dia dos Namorados, com os eletroportáteis, que devem ter incremento de vendas de 31,8%. Outros produtos que deverão ser febre nas lojas são os celulares, com a perspectiva de serem vendidos a 30% a mais nesta época, em relação ao mesmo período sazonal de 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Essas datas [Páscoa, Dia das Mães etc] são muito importantes para o varejo e resultam em um aumento na intenção de compra de bens duráveis, principalmente nas categorias telefonia celular e eletroeletrônicos, itens muito comprados nestas ocasiões", enfatiza Claúdio Felisoni, presidente do instituto de pesquisas sobre o varejo Provar.
Para driblar a concorrência, redes como a Casas Bahia e a Marabraz já oferecem vendas em até 24 vezes - dois anos -, com juros negociáveis nas lojas físicas. As compras também podem ser feitas pelo site, com cartão de crédito da loja ou outro, e o parcelamento vai até 12 vezes, com a vantagem de não ter juros até este número de parcelas.
Cautela
Apesar da tendência de ampliar as vendas para abocanhar o bolso dos clientes, existe quem por enquanto prefere se manter com a mesma forma de pagamento - mais cautelosa. É o caso da rede de moda feminina Marisa, onde cerca de 80% das vendas são parceladas em até cinco vezes, mas sem juros. Outras empresas - como o Grupo Pão de Açúcar , com as bandeiras CompreBem, Sendas, Extra, Ponto Frio, Taeq eAssaí- também não modificaram a forma de pagamento em suas lojas, por enquanto.
Na empresa de eletroeletrônicos carioca Leader, planos e taxas permanecem inalterados - com juros mensais de 6,90% e parcelamento em até dez meses no cartão. Aparentemente, quem alterou sua estratégia para menos parcelas foi a Riachuelo, que não tem mais os mesmos prazos. Até o final do ano passado era possível pagar as compras em até 10 meses. Agora, o parcelamento caiu para até oito meses. Por outro lado, quem preferir comprar em até 100 dias pagará a taxa de juros de 6,90% ao mês, quase juro de cartão de crédito.
Resultados
Um termômetro de que o setor varejista continua forte, mesmo com o aumento dos juros, é o fato de que as vendas do varejo brasileiro tiveram em fevereiro uma expansão de 8,2% em relação às do mesmo período do ano passado. O desempenho ficou praticamente em linha com os 8,3% de alta registrados em janeiro e leva o acumulado dos últimos 12 meses a uma expansão de 10,4%, próximo ao crescimento de 10,9% de todo o ano de 2010 - o melhor resultado da série histórica apurada pelo IBGE. "As vendas do varejo continuam crescendo de forma consistente, refletindo a continuidade de um cenário macroeconômico positivo", comenta Luiz Goes, sócio sênior e diretor da GS&MD Gouvêa de Souza, empresa de consultoria especializada no setor.
Considerando o Varejo Ampliado (que também engloba automóveis e material de construção), o crescimento das vendas em fevereiro no Brasil foi de 14,5% na comparação anual e de 12,4% nos últimos 12 meses. "As medidas macroprudenciais do Banco Central, anunciadas no final de 2010, começaram a surtir um efeito suave, já que os setores mais dependentes de crédito tiveram aceleração no crescimento", analisa Goes. As vendas de automóveis, por exemplo, subiram 26% em fevereiro, contra 16,4% em janeiro. Já móveis e eletrodomésticos avançaram de 19,1% em janeiro para 20,5% no segundo mês do ano.
As expectativas para este ano são otimistas. "O varejo deverá fechar 2011 com um crescimento acima do do Produto Interno Bruto (PIB), pelo nono ano seguido. A renda das famílias deverá continuar em expansão e o desemprego ficará estável", diz.
Veículo: DCI