A Royal Philips Electronics cederá o controle de sua unidade de TV para uma empresa asiática, somando-se ao grupo de companhias europeias, como a Siemens, que vêm reduzindo a presença direta no setor de eletrônicos de consumo, cujos preços vêm caindo.
A empresa holandesa anunciou ontem que integrará sua unidade de TVs, cuja produção começou em 1928, a um empreendimento conjunto com a TPV Technology, de Hong Kong, que ficará com participação de 70%. A Philips terá os 30% restantes e receberá direitos autorais de pelo menos € 50 milhões anuais a partir de 2013 (ou 2,2% das vendas).
O CEO da Philips, Frans van Houten, disse que começou a explorar uma nova estratégia para as TVs após perceber que um simples "ajuste" não interromperia anos de perdas. A Philips teve prejuízo de € 87 milhões com TVs no primeiro trimestre. Van Houten afirmou, ontem, ainda não estar satisfeito com o desempenho da empresa como um todo.
"É uma surpresa positiva que Van Houten tenha consertado esse problema tão rapidamente", disse o analista Jos Versteeg, da Theodoor Gilissen Bankiers.
A companhia holandesa anunciou ontem lucro líquido de € 137 milhões no primeiro trimestre, em comparação aos € 200 milhões obtidos no mesmo período de 2010. Analistas ouvidos pela Bloomberg estimavam lucro de € 165 milhões. As vendas subiram 6,2%, para € 5,26 bilhões. Ontem, em Amsterdã, os papéis da Philips fecharam em queda de 0,88% para € 20,90.
Transferir a unidade de TVs para um empreendimento conjunto acelera o processo de transformação verificado nos últimos dez anos na Philips. Esta vem se transformando de um conglomerado de alta diversificação a uma fabricante de produtos de iluminação e hospitalares, além de bens eletrônicos de consumo, como barbeadores e escovas de dente elétricas. Em 2006, vendeu suas operações de semicondutores, saiu do setor de telefones celulares e em 2004 vendeu a unidade de monitores de computadores pessoais para a TPV por cerca de US$ 358 milhões.
Van Houten havia traçado como prioridade consertar a divisão de TVs, que emprega 4 mil pessoas, depois que seu antecessor, por dez anos, tentou recuperar essas operações. A unidade encaminha-se ao quinto ano consecutivo de prejuízo em meio a problemas com cortes de preços de empresas como Sony e Panasonic, que tentam combater as fabricantes coreanas.
A Philips era uma das últimas fabricantes de TVs em grande escala na Europa, nicho agora em ocupado em grande parte por fabricantes de aparelhos de luxo como Loewe, da Alemanha, e Bang & Olufsen, da Dinamarca. Siemens e Nokia, maior fabricante mundial de telefones celulares, fabricavam TVs antes de ajustar o foco.
Como parte da transação anunciada ontem, a Philips tem a opção de vender os 30% restantes na joint venture em qualquer momento após o sexto aniversário da conclusão do acordo.
A divisão de bens de consumo da Philips, a maior da empresa em receita, teve lucro operacional de € 104 milhões no primeiro trimestre, em comparação aos € 162 milhões do mesmo período do ano anterior. Em contraste, o lucro com as operações de equipamentos médicos subiu de 103 milhões para € 138 milhões.
"A Philips tem muito potencial em aberto", disse Van Houten, em teleconferência. "Temos bolsões de excelência. Como vocês viram pelos dados do primeiro trimestre de 2011, nosso rumo e velocidade ainda não são satisfatórios."
Para destravar esse potencial, Van Houten remodelou a administração, de forma a aperfeiçoar a prestação de contas e a comunicação entre as equipes locais e os chefes de divisão. Ontem, o CEO prometeu que "haverá dinheiro na mesa" para as operações que precisarem e os objetivos serão ajustados no segundo semestre.
A empresa tem como meta atingir ritmo de crescimento no lucro por ação que seja o dobro do verificado nas vendas até 2015, uma vez que se concentrará em produtos mais rentáveis, como os hospitalares e de iluminação, e em mercados de maior crescimento como Índia e Brasil. A receita, excluindo aquisições, vendas de unidades e oscilações cambiais, aumentará 2 pontos percentuais acima do crescimento econômico mundial, segundo as metas da Philips.
Van Houten disse que a empresa prevê "vento contrário" em 2011, citando o terremoto no Japão, que afetará a receita e a cadeia de abastecimento da companhia. Os efeitos do desastre, que atrapalham as remessas de alguns fornecedores, se tornarão mais pronunciados no terceiro trimestre.
Veículo: Valor Econômico