Guilherme Lacerda, presidente do Funcef, fundo de pensão dos empregados da Caixa Econômica Federal, está seguro de que fez um bom negócio ao entrar como sócio-controlador da Companhia Brasileira de Tecnologia Digital (CBTD), a nova empresa que vai arrendar a marca Gradiente da família Staub. "Um fundo de pensão pode destinar uma pequena parcela para investimento de risco desde que avalie bem sua alocação", diz Lacerda. A seu ver, o Funcef entrou numa empresa que ainda tem referência no mercado brasileiro de eletroeletrônicos, o que pode lhe garantir no médio prazo aproveitar a onda de crescimento do consumo das classes C e D.
Um dos focos de investimento do Funcef, além de infraestrutura, é consumo e, nesse caso, ao se tornar controlador da CBTD - junto com a Petros (fundo de previdência dos funcionários da Petrobras), com a multinacional americana Jabil e a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Eafam) -, diversificou a carteira de investimentos num novo segmento de entrada difícil, por ser dominado por multinacionais estrangeiras. "Conseguimos com poucos recursos (R$ 17 milhões) para um investimento de private equity, entrar numa empresa nacional do setor", afirmou Lacerda. Convidado há mais de um ano pelo Bradesco, que é o gestor do FIP Enseada, criado para buscar cotistas para a CBTD, o Funcef e os outros três acionistas controladores da CBTD tiveram a preocupação de criar uma estrutura capaz de blindar a nova empresa da dívida de R$ 395 milhões com bancos e fornecedores que pertence à antiga Gradiente.
Um grupo de advogados trabalhou nesses dispositivos de blindagem e chegou a uma fórmula capaz de proteger a CBTD do contágio do passivo da empresa antiga. Os instrumentos propostos levaram à criação de um Fundo de Investimento de Participações (FIP), para abrigar os cotistas (acionistas controladores), que optaram pela emissão de debêntures participativas conversíveis em ações para injetar R$ 68 milhões na nova companhia. "Criamos uma verdadeira chinese wall", comentou Lacerda.
Para o diretor de investimento do Funcef, Demosténes Marques, os responsáveis pela dívida são a família Staub e os demais sócios da antiga companhia, que já renegociaram o débito com os credores, a maioria bancos. "A companhia nova nasce sem dívida", disse.
Marques chama a atenção para o fato de que a participação de mercado da antiga Gradiente, que chegou a 15% das vendas nacionais de eletroeletrônicos nos anos 90, e a própria marca têm muito valor e foram fatores importantes para a Funcef entrar no negócio. "Se a CBTD chegar a ter um quarto do 'market share' que já teve no Brasil, nosso negócio já se sustenta nos próximos dois a três anos", prevê.
Ontem, as ações da antiga Gradiente despencaram 18,86% na BM&FBovespa, valendo R$ 7,41, sinalizando que o mercado não gostou do anúncio do novo negócio. Marques, da Funcef, disse que isso não afeta a CBTD, que é uma empresa nova que nasce com capital fechado. "A manutenção da Gradiente antiga no mercado é uma questão de relacionamento entre os sócios da antiga empresa. Não tenho ideia do que pretendem fazer", afirmou.
Veículo: Valor Econômico