Consumo mundial em alta e estoques em baixa levaram à valorização da saca do grão, que hoje é cotada entre R$ 533 e R$ 550, mesmo depois da produção recorde do ano passado. O cenário de preços em alta reflete nas lavouras. Mais capitalizado, o cafeicultor investe em manejo. O resultado é visto na produtividade. Estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra que começa agora indicam que Minas Gerais deve colher 22,1 milhões de sacas neste ano. O volume representa 50,8% dos 43,54 milhões de sacas do produto beneficiado em todo o Brasil. Em comparação com a colheita anterior, houve queda de 12%. A baixa é normal, justificada pela bianualidade da cultura, só que é muito maior do que a registrada em períodos anteriores, nos quais já chegou a 52%. Isso significa que, depois de anos de lamúrias com a baixa remuneração, o otimismo volta a reinar nos polos cafeicultores mineiros.
Em alta mesmo na baixa
Maior produtor nacional de café, Minas Gerais deve colher 22,1 milhões de sacas na safra 2010/2011, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O volume representa 50,8% dos 43,54 milhões de sacas de 60 quilos do produto beneficiado produzidos em todo o Brasil. Em comparação com a última safra, o resultado é 12% menor, o que é justificado pela bianualidade típica da cultura que chega ao ano de queda depois de produzir mais de 25 milhões de sacas na safra 2009/2010. Praticamente toda a produção do estado é de melhor padrão produzido com 100% de grão do tipo arábica, considerado a variedade mais nobre.
Apesar do comportamento já esperado, essa é a maior produção para um ano de baixa no estado na última década. Em 2009, ano com características semelhantes, foram colhidos 19,8 milhões de sacas de 60 quilos, o que representa uma elevação de 11,6% no volume total. “Essa característica de redução da produção entre uma safra e outra é própria da fisiologia da planta, que fica muito estressada e precisa de um período de recuperação”, explica o superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Estado de Agricultura de Minas Gerais, João Ricardo Albanez. “O que vem ocorrendo é que o produtor tem reduzido essa diferença entre os anos de maior e menor produção”, acrescenta.
Para se ter ideia, entre 2002 e 2003 o volume colhido caiu de 25,1 milhões de sacas para 12,05 milhões, redução de 52%. Nas safras de 2009/2010 e 2010/2011, a variação foi de apenas 12%. O gerente de levantamento e avaliação de safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Carlos Bestetti, observa que essa realidade não se restringe apenas a Minas Gerais e se estende a todo o país.
“Essa amenização da bianualidade se dá pela melhoria dos tratos culturais do produtor, que está se dedicando mais à lavoura porque tem visto os resultados provenientes da remuneração. Além disso, o clima tem ajudado”, observa. Albanez ainda acrescenta a renovação das lavouras, uso de fertilizantes e irrigação como fatores que têm contribuído para reduzir a diferença de produção entre uma safra e outra.
Segundo Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), no Sul do estado, com 11.962 cooperados, os produtores têm feito o que podem para reduzir os impactos sofridos com os efeitos da bianualidade. “Além da irrigação para fugir das intempéries climáticas, ainda faço diferentes tipos de poda”, conta. O controle mais eficiente de pragas e doenças também faz parte da rotina do produtor.
A Região Sul, juntamente com a Centro-Oeste, deve responder por quase 50% de toda a produção do estado na safra que começa agora. No total, são 505 mil hectares de área plantada nesses dois polos, o que equivale a cerca de 50% do total de 997 mil hectares de produção de café em todo o estado.
Com início no último mês, a colheita se intensifica a partir de maio, quando 18% da safra do estado é colhida, e tem o seu ápice nos meses de junho e julho, em que concentram 52% do processo. O café mineiro também ganha importância no mercado externo e hoje o produto já ocupa a segunda posição na balança comercial de Minas, perdendo apenas para o minério de ferro. No primeiro quadrimestre a receita de exportações do café atingiu US$ 1,7 bilhão, alta de 55,13% na comparação com a cifra registrada no acumulado dos quatro primeiros meses do ano.
Forte demanda gera valorização inédita
Os preços animadores da saca de 60 quilos de café, entre R$ 533 e R$ 550, têm sido uma das principais motivações para a melhoria dos tratos culturais e maior investimento por parte dos produtores, especialmente em insumos. Há um ano, o produto era comercializado por cerca de R$ 270 e a alta foi gradativa ao longo de 2010.
“Só em 2002 tivemos preços semelhantes aos que estão sendo praticados hoje, mas em decorrência de uma baixa oferta. Entretanto, é a primeira vez que se tem alta remuneração com produção elevada. Esse resultado é decorrente da forte demanda tanto no cenário nacional como internacional”, avalia o gerente de levantamento e avaliação de safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Carlos Bestetti.
Segundo avaliação do analista de mercado de café da Conab, Jorge Queiroz, o mesmo movimento de expansão da classe média brasileira e aumento da renda da população está acontecendo em países da Ásia e na própria América Latina. “As pessoas estão aumentando o poder de consumo, por isso o aumento do preço das commodities. A resposta da oferta não acompanha o mesmo ritmo e hoje o que existe é um descompasso entre oferta e demanda”, observa. Esse cenário justifica o comportamento inédito de alta produção associada a preços atrativos para a cultura.
Como consequência da mundança dos hábitos de consumo mundial, a tendência é de que a commoditie continue em ritmo de valorização. “Em função da demanda, ainda há espaço para novas altas, ainda que moderadas, no curto e médio prazos”, avalia Queiroz.
Os baixos estoques do produto no mercado mundial também justificam a corrida pelo café. No último ano, atingiu-se a pior relação entre estoque final e consumo desde a safra 2000/2001, de 19,1%. Isso significa que os estoques mundiais representavam menos de 20% de tudo que era consumido, relação que, em 2001/2002 era de 91,3%. “Essa procura pelo café também tem como motivação a recomposição de estoques, que estão baixos”, avalia Queiroz. Para a safra que começa agora, a proporção deve subir para 23,9%, ainda considerada baixa.
Apesar da alta remuneração e da atratividade do café, dificilmente haverá um aumento generalizado da área de produção. “Todas as demais commodities estão com preço favorável, como a cana-de-açúcar e algodão, por exemplo. Então não acredito em uma corrida para o café com ganhos expressivos de área ou substituição de cultura”, pondera o superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Estado de Agricultura, João Ricardo Albanez. “Os investimentos em cafeicultura são muito altos. Quem plantar agora só vai começar a colher em três anos. Hoje é hora de quem já tem a lavoura em produção”, acrescenta o superintendente comercial da Cooxupé, Lúcio Dias.
Veículo: O Estado de Minas