Brasil quer deixar de ser o número 1

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Líder no consumo de inseticidas, país quer banir cinco deles já proibidos na Europa e nos EUA, e avaliar outros 14. No entanto, especialistas atestam que quantidade de resíduos que chega à mesa é muito pequena

 
 
Com o estigma de ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o Brasil vai banir do mercado cinco substâncias já proibidas em países da Europa e dos Estados Unidos, com base nos relatórios de reavaliação de agrotóxicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão analisa 14 ingredientes ativos que são usados em mais de 200 produtos e que apresentaram alguma alteração de riscos à saúde, em comparação aos testes feitos durante a concessão de registro da substância. Cinco substâncias deixarão de ser comercializadas até 2013.

 

No mês que vem, a Anvisa também divulga os resultados anuais do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos, que em 2010 apontou irregularidades em 30% das amostras. À época, pimentão, uva, pepino e morango apresentaram resultado insatisfatório em mais de 50% das análises. Apesar disso, para o coordenador da Área de Saúde Ambiental do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciência da Universidade de Campinas (Unicamp), o médico Ângelo Trapé, a quantidade de resíduos que chega à mesa do consumidor em vegetais, frutas e legumes é tão pequena que não há razão para se preocupar e deixar de comprar os produtos de cultivo tradicional.

 

"É preciso desmistificar essa questão. Do ponto de vista de saúde pública, temos uma segurança alimentar muito boa, sem riscos de intoxicação para o consumidor. A situação dos agrotóxicos está restrita à exposição ocupacional do agricultor, que usa o produto de forma inadequada, sem proteção ou com tecnologia que demanda exposição maior. Há 30 anos, acompanho a população exposta a agrotóxicos, monitorando e buscando casos, e há três anos não há nenhum registro de trabalhador que tenha tido problemas. Também nunca atendi ninguém intoxicado por produtos na alimentação normal porque a dosagem é ínfima", conta o médico.

 

O especialista afirma que não há no Brasil nenhuma substância em uso que tenha sido proibida no resto do mundo por riscos à saúde e cita o pimentão, cuja avaliação da Anvisa indicou 80% de sua amostra comprometida, para explicar o porquê de não haver riscos de intoxicação com agrotóxicos. Para Ângelo Trapé, é mais fácil ser intoxicado pela contaminação biológica por contato com água ou mão suja.

 

"Muitos países adotam o princípio da precaução ao extremo ou simplesmente vetam alguma substância porque não precisam dela para cuidar de pragas ou insetos ou por suas características de agricultura. Também vale lembrar que não há em uso no Brasil nenhum agrotóxico cancerígeno. O Limite Máximo de Resíduo que a Anvisa usa para essas avaliações já tem uma boa margem de segurança, basta imaginar um saco de um quilo de açúcar e dividir por 100 mil porções: haverá um grãozinho para cada quilo de pimentão. E nosso organismo tem capacidade de metabolizar isso, assim como faz com produtos químicos para cabelo, aerossol, tabaco e bebidas alcoólicas".

 

Professor do Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais, e PhD em inseticidas pela Universidade de Londres, na Inglaterra, Renê Luís Rigitano diz que o grande problema no campo é o uso de agrotóxico em uma cultura para a qual ele não tem registro. Ele afirma que o consumidor está exposto ao risco, sim, e que os órgãos de fiscalização precisam estar cada vez mais atentos à questão.

 


BOA PRÁTICA NO CAMPO E EM CASA "Quando o agricultor segue a boa prática agrícola, normalmente não há excesso de resíduos e ainda contamos com a margem de segurança. Ele precisa estar consciente de que não pode usar um produto específico em culturas para as quais não tem registro. No fim da década de 1990, nos Estados Unidos, algumas pessoas foram hospitalizadas por ingerir pepino, melão e melancia cultivados em solo tratado indevidamente com o inseticida aldicarbe, o chumbinho. Em meus estudos, já encontrei tomates com concentração de resíduos cinco vezes acima do permitido e batatas com níveis de agrotóxico que causariam sintomas clínicos se, por acaso, uma criança de 10 quilos comesse uma papinha de 100 gramas", exemplificou o professor.

 

A melhor dica para o consumidor seria comprar produtos sabendo a procedência. "É uma decisão muito radical riscar certos produtos da lista de compra. Isso interferiria na economia e na cadeia produtiva. Digo que quanto mais perfeito o produto, mais chances ele tem de ter sido contaminado por agrotóxicos, mas o mundo todo vive com esse problema e estamos numa situação mais intensa. As pesquisas e reavaliações toxicológicas feitas pela Anvisa podem servir de base para a renovação do registro de agrotóxicos e punição para o agricultor que desrespeitar a legislação", opinou Rigitano.

 

CONTROLE É FEITO HÁ UMA DÉCADA Desde 2001, a Anvisa coleta amostras de alimentos em todo o país para avaliar os níveis de resíduos de agrotóxicos. Na última pesquisa, 20 culturas foram monitoradas para identificar limites acima do permitido, agrotóxicos proibidos no mercado ou aqueles que são autorizados para determinada cultura, mas usados em outro tipo de cultivo. Segundo o gerente-geral de Toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Luiz Cláudio Meirelles, a exposição contínua aos agrotóxicos pode causar problemas ao sistema nervoso central e danos ao desenvolvimento do feto.

 

O órgão também é o responsável por regulamentar o uso dessas substâncias, determinando o intervalo das aplicações, a forma de uso e a cultura agrícola que pode receber determinado princípio ativo. Como os registros são concedidos eternamente, a Anvisa faz reavaliações toxicológicas dessas substâncias sempre que há alguma evidência científica que indique possíveis danos à saúde – entre as que estão em análise aparece o glifosato, agrotóxico mais usado no país, principalmente no cultivo da cana-de-açúcar.

 

“O risco não é desprezível. Por isso adotamos medidas de precaução, como a retirada do mercado de substâncias que causam mal à saúde. Os consumidores também podem ter mais de cuidado, preferindo frutas e legumes da época, retirando folhagens externas e cascas de legumes e frutas", acrescentou Meirelles.
 

 

Veículo: O Estado de Minas


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