Electrolux investe no "made in Brasil"

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Unidade em Curitiba recebe US$ 8 milhões para produzir ferro de passar roupa e suspender importação

 

De uma fábrica localizada no bairro Cidade Industrial, em Curitiba, vão sair nos próximos dias os primeiros ferros de passar roupa feitos pela multinacional sueca Electrolux, que deixarão de ser importados da Ásia. No local já são produzidos aspiradores de pó e lavadoras de alta pressão. O plano de expansão é agressivo e prevê a abertura de mais fábricas e reforço em marketing.

 

O Brasil será o único país onde a múlti sueca tem produção própria de ferro de passar roupa. Outros eletroportáteis como torradeiras e liquidificadores são, por enquanto, importados pela Electrolux, mas a sua futura produção local não está descartada. A intenção é ganhar mercado de concorrentes como Arno e Walita, ser a segunda fabricante de pequenos aparelhos domésticos do Brasil e colocar o país no topo de suas vendas globais - hoje o mercado brasileiro está entre os cinco maiores da Electrolux, para eletroportáteis. A estratégia vai na contramão da de outros setores (como o têxtil, por exemplo) que preferem importar a produzir localmente.

 

O plano está sendo tocado pelo peruano Jose Luis de la Flor, presidente da divisão de eletroportáteis da Electrolux para a América Latina e que vive no Brasil. Ele fala com entusiasmo e, embora não revele quais produtos vai fabricar no Brasil, não esconde a intenção de fazer novos investimentos no curto prazo. "Vamos ter mais uma, duas, três ou quantas linhas de produção forem necessárias para atingir nossos objetivos de participação de mercado", diz.

 

Na primeira etapa da unidade de ferros de passar foram investidos US$ 8 milhões, e ela tem capacidade instalada para fazer 4,5 mil peças por dia ou cerca de 1,3 milhão por ano, o que equivale a 22% de um mercado anual de 6 milhões de peças e que é liderado pela Black & Decker.

 

Espaço é o que não falta para ampliar a produção no Paraná, onde a Electrolux fabrica também, em outro endereço, produtos de linha branca. O prédio de eletroportáteis ocupa 30% de um terreno de 30 mil metros quadrados. "Até hoje a estratégia implicava em abastecimento a partir de países da Ásia", diz ele.

 

"Se queremos ser relevantes localmente, temos de jogar com as regras locais", diz. No caso do ferro, por medida antidumping, o governo brasileiro cobra quase US$ 5 por unidade. Flor argumenta que a taxa não foi a única razão de montar a linha. A proximidade, facilidade logística e a confiança do consumidor em produtos nacionais também pesaram na decisão.

 

Além de Brasil, outros países, como México, Argentina, Chile e Colômbia estão nos planos da companhia, que estuda a possibilidade de instalar fábricas nesses locais. "Começando pelo Brasil, nosso foco principal de expansão, a Electrolux quer ser grande em mercados grandes." A empresa tem três divisões no mundo: linha branca (83% do faturamento), eletroportáteis (10%) e produtos profissionais (7%).

 

No caso de eletroportáteis, o Brasil está entre os cinco maiores, junto com Alemanha, Austrália, Países Nórdicos e o Sudeste Asiático. O plano de fazer do Brasil o mais importante dentro da companhia acontece depois de outras tentativas que começaram a ser feitas há oito anos e ganharam força mais recentemente, com a ampliação do portfólio. Antes, durante décadas, o foco para eletroportáteis estava em aspiradores, na qual ela é líder em vendas no país.

 

Os ferros que estão sendo produzidos em Curitiba vão abastecer primeiro o mercado doméstico, mas exportações não estão descartadas.

 

Sobre os custos da produção no Brasil, Markus Mau, gerente de Operações, diz que o câmbio e o custo da mão de obra são desfavoráveis e que eles estão "um pouquinho acima" dos verificados nas importações, mas foi preciso buscar equilíbrio com a automatização.

 

Na nova linha a empresa, que emprega 8 mil pessoas e tem 4 fábricas no Brasil, vai gerar 55 empregos diretos e 200 indiretos.

 

Questionado se novas linhas serão abertas ainda neste ano, Jose Luis de la Flor ri: "Estamos em junho. Você vai voltar aqui. Talvez em dezembro ou janeiro."

 


Concorrência já fabrica localmente

 

Entre quatro e cinco meses. Esse é o período que um eletroportátil chinês demora para chegar a uma loja no Brasil, contando a partir do pedido do fabricante. Tempo demais para qualquer competidor interessado no crescente consumo do mercado brasileiro, que no segmento de ferros de passar movimentou R$ 503 milhões em 2010, com 7,1 milhões de unidades, segundo a GfK. Nos primeiros quatro meses deste ano, o crescimento foi de 11% em volume e 8% em valor.

 

A investida da Electrolux, de iniciar a produção local, acontece depois de todas as maiores marcas do país em ferros de passar já terem feito o mesmo. Black & Decker, líder de mercado, produz em Uberaba (MG); a vice, Mallory, iniciou a fabricação há dois anos em Maranguape (CE). "Nós investimos R$ 2 milhões para inaugurar a planta, que já foi expandida duas vezes", diz Paulo Braga, diretor superintendente da Mallory. "Com isso, ganhamos competitividade, porque ficamos mais ágeis".

 

Este ano, a empresa, que fabrica seis modelos, deve lançar três produtos, de mais alto valor agregado, com preço entre R$ 60 e R$ 90. "A classe C percebeu que vale a pena pagar um pouco mais por um produto de maior qualidade, para contar com assistência técnica, coisa que os chineses, vendidos a R$ 25, não oferecem", diz Braga.

 

Também a Philips Walita, terceira colocada no ranking de ferros de passar, vai dar início este ano à produção local do seu único modelo importado, dentre os seis que comercializa no país. A fabricação será em Varginha (MG).

 

O interesse em reforçar a produção local vai além de garantir maior rapidez. Desde a metade de 2007, entrou em vigor uma lei antidumping que sobretaxa em US$ 4,82 cada ferro de passar importado da China. Nos primeiros anos, a medida surtiu efeito: o volume importado caiu 43% em 2009, em relação a 2008, para 243,9 mil unidades. Mas em 2010 a importação mais do que triplicou, para 765 mil unidades. O volume representa pouco mais de 10% do mercado total de ferros de passar.

 

"Sinal que a demanda pelo produto é maior do que a oferta e, mesmo com a sobretaxa, valia a pena importar itens de baixa qualidade", diz uma fonte do setor.

 

O mercado de portáteis cresceu 15% em 2010, movimentando R$ 5,7 bilhões. Só nos primeiros quatro meses de 2011, saltou 31% em valor e 22% em unidades, segundo a GfK. Não por acaso, os líderes em linha branca - Whirlpool, dona de Brastemp e Consul, e Electrolux - aumentam a aposta no segmento. Afinal, é mais fácil trocar o liquidificador do que a geladeira.

 


Veículo: Valor Econômico


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