Em conflito com Abilio Diniz, varejista francesa aumenta participação no grupo
Duas semanas depois de entrar com pedido de arbitragem para resolver o conflito travado com a família Diniz pelo controle do Pão de Açúcar, a rede francesa Casino aumentou sua participação no capital social da companhia brasileira, com a compra de ações preferenciais (sem direito a voto). No mercado, a aquisição soou como um aviso ao empresário Abilio Diniz de que os franceses não devem abrir mão do controle do Grupo Pão de Açúcar.
No comunicado divulgado ontem, o Casino "reitera sua intenção de fortalecer o desenvolvimento de longo prazo" da empresa brasileira, "bem como a posição do grupo em mercados em rápido crescimento". Com a compra de 8,5 milhões de ações, equivalentes a 5,4% das preferenciais, o grupo francês aumentou em 3,3% sua fatia no capital total da empresa brasileira. Agora, somando participações diretas e indiretas, o Casino detém 37% das ações do Grupo Pão de Açúcar.
Após o anúncio do Casino, as ações da Companhia Brasileira de Distribuição, controladora do Pão de Açúcar, registraram queda de 1,02% na Bovespa, fechando em R$ 65,90.
"Essa é uma resposta dos franceses ao mercado e uma sinalização de que querem manter sua posição no Brasil", afirma o advogado André Osório Gondinho, especialista em direito civil e sócio do escritório Dória, Jacobina Rosado e Gondinho Advogados. "Mas, como as ações compradas não dão direito a voto, a aquisição não altera a questão central entre os dois sócios, que diz respeito ao controle da empresa."
O acordo de acionistas prevê que daqui a exatamente um ano os franceses assumirão o controle do grupo brasileiro. O pacto firmado em 2005 criou a empresa Wilkes, em que cada um dos dois sócios detém 50% de participação. Na estrutura organizacional do grupo, a Wilkes fica acima da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), que por sua vez controla todas as empresas do grupo Pão de Açúcar, incluindo as novas aquisições, como Ponto Frio e Casas Bahia.
Em junho de 2012, Abilio Diniz terá de vender uma ação de controle para o Casino, que passaria a ter mais de 50% do capital da Wilkes, tornando-se controlador de todo o grupo.
Disputa. No entanto, na reta final do processo que define o futuro do futuro do grupo brasileiro, uma outra situação tornou a relação entre os dois sócios, que sempre aparentou ser tranquila, bastante complicada.
No mês passado, a imprensa francesa noticiou que Diniz tentava negociar os ativos da rede Carrefour no Brasil. Segundo o semanário francês Le Journal du Dimanche, o Carrefour contratou o banco de investimentos Lazard para se aproximar da família Diniz e conversar sobre a possibilidade de fusão, em troca de uma participação no Carrefour.
Em resposta, o grupo Casino entrou com um pedido de arbitragem contra Abilio Diniz na Câmara Internacional de Comércio (ICC), pedindo o cumprimento do acordo de acionistas firmado em novembro de 2006.
Veículo: O Estado de S.Paulo