Bebidas puxam ritmo menor de crescimento no consumo de bens não duráveis
As vendas de alimentos e bens de consumo não duráveis no varejo continuam crescendo, mas em um ritmo bem mais morno que em relação ao ano passado. A menor procura por bebidas, principalmente cerveja, foi o principal fator de desaceleração nos primeiros quatro meses do ano, segundo a pesquisa Tendências, da Nielsen.
O estudo com 134 categorias de produtos - incluindo alimentos, higiene pessoal, limpeza, itens de bazar e cigarros - mostra que as vendas cresceram 2,3% em volume, de janeiro a abril deste ano, em relação ao mesmo período de 2010, quando tiveram alta de 6,4%.
No primeiro bimestre do ano, a evolução era de 3,2% - um pouco mais acelerada que o atual percentual. Um dos maiores responsáveis por esse resultado, segundo a Nielsen, foi o desempenho de vendas de bebidas.
As alcoólicas tiveram crescimento de vendas de apenas 1,3% no período, quando em 2010 esse percentual era de 10,1%. Dentro desse segmento, as vendas de cerveja tiveram mais peso.
Nesses primeiros quatro meses do ano, as cervejas tiveram queda nas vendas em volume de 0,1%, quando em 2010 haviam alcançado alta de 14%. "Há, claro, a comparação com uma base muito alta. Mas a categoria é muito sensível à variações de preço", diz Arlete Soares Corrêa, gerente de análises especiais da Nielsen.
No fim do ano passado, o preço da cerveja já havia sido reajustado e em abril sofreu novas altas, desta vez devido ao aumento de impostos federais. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos quatro primeiros meses de 2011, o preço do produto no país subiu 4,5% nos supermercados e 5,6% em bares e restaurantes, enquanto a inflação oficial (IPCA) registrou alta de 3,2% no período.
Conforme a Nielsen, houve menor crescimento de vendas também entre as bebidas não alcoólicas, que venderam 3% mais até abril, enquanto no primeiro quadrimestre do ano passado tinham alcançado 10,7%. Pesam aí a performance dos refrigerantes, que tiveram queda de 1,8% nas vendas em volume. Na mesma época de 2010, a alta havia sido de 11,1%.
"Tanto cerveja quanto refrigerantes - que também subiram de preço - são categorias que influenciam muito o resultado geral das vendas do varejo de bens de consumo não duráveis porque são muito grandes", diz Arlete. Conforme a Nielsen, os refrigerantes subiram 1,2% acima da inflação.
Dentre os produtos não duráveis, as duas categorias são as mais importantes em termos de faturamento para o varejo, incluindo supermercados, padarias, lanchonetes e bares. As cervejas representam 24,5% do faturamento e os refrigerantes, 17%.
"Além da alta de preço, temos que considerar que as famílias este ano estão mais endividadas que no mesmo período do ano passado e a criação de empregos também está mais desacelerada que em 2010", acrescenta Arlete.
Também por conta da cerveja, o estudo da Nielsen mostrou que os bares apresentaram queda nas vendas de 1,8%. Todos os outros tipos de varejo tiveram crescimento, embora menor que no mesmo período do ano passado. Conforme o estudo, os bares também são o canal de vendas que teve maior alta média de preços no período, com variação de 2,2%. Em todos os outros canais, houve estabilidade ou queda.
Com relação aos outros produtos, a pesquisa mostrou que muitas categorias que no ano passado apresentavam crescimento agora estão estáveis. "É o caso, por exemplo, dos cigarros, biscoitos e do leite", diz a gerente. "Somando-se todos os produtos que estão nesse conjunto dos estáveis, seu peso no faturamento do varejo chega a 44%", acrescenta a executiva.
Entre os itens com alta nas vendas estão os chocolates (8,4%), os salgadinhos (10,9%), os iogurtes (4,8%), as fraldas (6,2%) e os desodorantes (13,7%). Já os óleos e azeites tiveram queda de 5,9%; o arroz, de 5,6%; as massas, de 3%; o sabão em barra, de 12,8%; e a farinha de trigo, de 7%.
A pesquisa mostrou também que todas as áreas tiveram crescimento de vendas, com exceção do interior de São Paulo, que acumulou baixa de 0,05%. O Sul do país teve o melhor desempenho, com alta de vendas 1,05% até abril.
Veículo: Valor Econômico