Diante da fragilidade do grupo francês Carrefour, por conta das notícias de venda de partes da empresa para alavancar seu caixa, o grupo norte-americano Walmart resolveu brigar por espaço territorial no Brasil, e mostrar que está de olho na segunda posição do setor supermercadista. Tanto que, para fazer frente aos franceses no País, a companhia estuda a expansão nas Regiões Sul e Nordeste por meio da bandeira TodoDia , para concorrer diretamente com a marca Dia, que acaba de realizar uma cisão com o grupo Carrefour. Ambas têm foco nas classes C e D, que tiveram ascensão nos últimos meses, devido a maior geração de emprego e os programas gerados pelo governo federal, afirmam analistas do comércio nacional.
Conhecido como 'loja de vizinhança', o formato da rede TodoDia - controlada pelo grupo Walmart - ganha fôlego ao ver um aumento de 60% no número de produtos disponíveis em seus pontos de venda, para a atender ao nível de exigência das classes C, D e E. A empresa realiza um estudo do comportamento do consumidor, e depois insere nas lojas o que há de mais evidente em tendências de consumo. Com 4 mil itens em suas prateleiras, a rede hoje volta seus olhos principalmente para os itens que compõem o café da manhã, como cereais e iogurte. Produtos como hidratante corporal e loção de proteção solar também já fazem parte da cesta desta classe.
Com 130 lojas, a TodoDia também foca em terrenos menores e que estejam localizados em bairros afastados dos grandes centros. As áreas têm um tamanho de 300m² a 1.000m². O investimento médio por loja é de R$ 4 milhões.
Para este o ano, o presidente da subsidiária do Walmart, Marcos Samaha, afirma que deve investir R$ 1,2 bilhão e abrir 80 pontos de vendas -10 lojas já foram abertas. "O ano passado nós inauguramos 45 lojas. Para este ano vamos dobrar. Ano que vem devemos continuar com o plano de expansão [nessa linha]", explica.
O presidente da rede também não descarta novas aquisições. "Recentemente adquirimos a rede Massmart, na África do Sul, para ganhar fôlego na região. O continente é uma das nossas metas de expansão", explica. O executivo ainda diz que o Walmart tem foco na África, Brasil e China.
Briga geográfica
Prova de que a competição deve esquentar no setor, mesmo fora a questão de se Abílio Diniz, sócio do Pão de Açúcar, vai comprar ou não parte do Carrefour no Brasil, é que na última semana o Walmart inaugurou uma novo ponto de venda da bandeira Sam's Club, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. A unidade fica ao lado de uma loja do Carrefour, e deve ficar pronta até o final do ano. No local foram investidos R$ 43 milhões, com 15 mil m² e 228 vagas de estacionamento. Esta é a 26ª unidade da bandeira no País.
O porta-voz da rede afirmou que também irá investir em lojas de pequeno porte para seguir as orientações vindas da matriz. "Estamos construindo pontos com 4 e 5 mil m², com cerca de 30 check outs chamados de hipermercados compactos", explica Samaha. Hoje, o grupo tem nove bandeiras: Big, Bompreço, Mercadorama, Maxxi Atacado, Nacional, Sam's Club e TodoDia. Com isso, a marca já conta com 500 unidades pelo País, e possui uma divisão especial de postos de gasolina, restaurantes, cafés, fotocenters e farmácias. O Walmart atua no Brasil há 15 anos.
Quem já tinha comentado a mudança de posicionamento da marca era o presidente do Walmart para os EUA, Bill Simon, que comentou sobre a "impaciência com o ritmo de mudança" nas lojas, que perderam consumidores para redes de descontos. O formato de lojas Walmart Express - também adotado no Brasil -, tem recebido atenção, mas os hipermercados ainda são cruciais. Mais de 100 lojas de grande porte devem ser inauguradas este ano, enquanto apenas entre 15 e 20 no formato Walmart Express estão previstas nos EUA.
A primeira unidade do tipo será aberta neste final de semana no Estado do Arkansas, e terá 15 mil metros quadrados.
Últimas aquisições
O negócio da rede americana Walmart com a africana Massmart recebeu sinal verde do Tribunal de Concorrência da África do Sul. Agora, o Congresso dos Sindicatos Sul-Africano (Cosatu), que não está a favor do negócio, propôs uma paralisação nacional dos trabalhadores da rede varejista sul-africana. O Walmart, em novembro do ano passado, fez oferta de US$ 2,4 bilhões para comprar 51% da Massmart. Outra compra realizada pela companhia foi em 2005, quando a marca pagou R$ 1,6 bilhão à rede portuguesa Sonae , para 141 lojas localizadas na região sul do País. Em 2004, a companhia americana havia já adquirido as lojas da Rede Bompreço, na Região Nordeste, por US$ 300 milhões.
Enquanto o Walmart traça planos e não descarta ir às compras no Brasil, a disputa entre Casino e Pão de Açúcar esquenta. O grupo Casino recebeu na última sexta-feira uma ordem judicial para investigar os escritórios do Carrefour. Os sócios Casino e Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, têm estado em atrito desde que o empresário abordou o Carrefour sem permissão do parceiro para discutir uma possível fusão.
A decisão do Tribunal de Nanterre permitiu que o Casino vasculhasse judicialmente os escritórios do Carrefour, no início deste mês, em busca de provas das negociações entre o Carrefour e Diniz. Dos documentos apreendidos, 22 eram ligados ao Carrefour, Diniz e a Estáter.
Em meio a tensão, o CEO do Carrefour Lars Olofsson reafirmou ontem, durante reunião de acionistas, o compromisso do grupo com as regiões emergentes. "A estratégia é ser líder em países como Brasil, China e Indonésia", afirmou o executivo.
Veículo: DCI