Casino obtém permissão judicial para vasculhar escritórios do Carrefour e encontra provas de conversações entre rival francês e sócio brasileiro
Abilio Diniz, presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar, manteve conversações com o varejista francês Carrefour para aquisição ou associação da subsidiária brasileira, quebrando com isso o acordo fechado em 2006 com o seu sócio, o também francês Casino, no controle da maior rede varejista brasileira. Pelo menos é isso o que demonstram 22 de um total de 150 documentos apreendidos por oficiais de justiça franceses e divulgados na sexta-feira.
As provas, levantadas em buscas realizadas após o Casino obter permissão judicial para investigar os escritórios do Carrefour e agora em poder do Tribunal de Comércio deNanterre, revelam que vários documentos tratam diretamente das discussões entre Carrefour, Diniz e a consultoria Estáter, que atende o Pão de Açúcar no Brasil, como disse fonte do Casino à Reuters, além de revelações do francês Journal du Dimanche.
Ainda de acordo coma publicação francesa, outros documentos não relacionados à disputa em questão deverão ser devolvidos ao Carrefour, com a garantia da Justiça de que tais elementos não serão copiados ou entregues ao rival Casino.
A apreensão dos documentos ocorre após o Casino entrar com um pedido de arbitragem na Câmara de Comércio Internacional (CCI) de Paris, contra Diniz, no mês passado, alegando que as negociações com o Carrefour contrariavam o acordo de acionistas firmado há seis anos, quando o Grupo Casino passou a deter 50% dos direitos de voto na companhia. O acordo entre Diniz e Casino prevê que qualquer aquisição ou investimento superior a US$ 100 milhões ou6%do patrimônio líquido do Pão de Açúcar deve ser decidido pelo conselho de administração. Procurados no Brasil, Pão de Açúcar, Casino e Carrefour não comentaram o assunto. ■
Françoise Terzian, com Reuters
Casino aumenta participação no grupo Pão de Açúcar e deseja ainda mais
Há menos de duas semanas, o francês Casino aumentou em 3,3% sua participação no capital total do Grupo Pão de Açúcar, passando a deter 37%.
A aquisição custou US$ 363 milhões aos franceses. Este salto, contudo, não muda o peso dos franceses no controle acionário do GPA, que hoje é de responsabilidade da holding Wilkes Participações, dividida em duas partes iguais entre Casino e família Diniz.
Não é de hoje que os franceses demonstram um interesse claro em avançar sua participação no Grupo Pão de Açúcar. Acordo firmado em 2006 entre as duas partes mostra que ficou acertado que, de junho de 2012 a junho de 2014, o Casino poderia escolher um novo presidente do conselho de administração.
Histórico
As relações entre Abilio Diniz, presidente do conselho do Pão de Açúcar, e os franceses azedaram desde que o empresário iniciou conversas secretas com o rival Carrefour e a história veio à tona, há cerca de dois meses. Para se prevenir de possíveis movimentações do sócio Diniz, o Casino entrou com um pedido de arbitragem na Câmara Internacional de Comércio contra o sócio brasileiro, pedindo cumprimento do acordo de acionistas assinado em 2006, no qual cada uma das partes ficou com 50% da varejista.
Veículo: Brasil Econômico