Cade permite fusão, mas BR Foods terá que vender fábricas e suspender produtos Batavo e Perdigão por 5 anos
Gigante tem que vender 30% da capacidade e sair de 14 áreas, de lasanha a hambúrguer, para ter concorrência
A BRF (Brasil Foods) terá que vender mais de 30% de sua capacidade de produção no mercado interno e suspender a venda de uma série de produtos da Perdigão e da Batavo por até cinco anos.
Essas foram as condições impostas pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para aprovar a fusão entre Perdigão e Sadia, ocorrida em 2009.
A BRF terá que repassar um pacote de ativos a um mesmo concorrente, que, apenas com o que comprar da empresa, já será o segundo maior em 14 mercados, como lasanha, salsicha, hambúrguer e outros. Em alguns deles, terá mais de 20% das vendas.
"Criamos a vice-líder. Construímos um 'player' de porte que já resolve em parte o problema [de ameaça à concorrência]", afirmou o conselheiro Ricardo Ruiz, responsável pela negociação do acordo. A solução encontrada por Ruiz foi seguida por outros três conselheiros, que votaram a favor do acordo. O conselheiro Carlos Ragazzo, relator do processo, criticou e votou contra a decisão.
"[A suspensão da marca] pode ou não dar certo, vamos saber disso daqui a cinco anos. Toda a análise indica que não vai dar certo.
Suspensa a Perdigão, os consumidores vão se deslocar para a marca Sadia", afirmou.
No início de junho, Ra- gazzo já havia pedido o veto do negócio, dizendo que poderia levar a alta de preços de até 40%. Apesar de não ter sido seguido, seu voto foi decisivo para o acordo.
Até então, a empresa declarava publicamente acreditar na aprovação do negócio pelo Cade sem restrição e propunha ao conselho abrir mão só de marcas menores.
Com o relator defendendo a dissolução do negócio, porém, a BRF elevou suas ofertas e começou a ceder e aceitou retirar uma de suas marcas principais do mercado.
Por um prazo de três a cinco anos, não poderão ser vendidas lasanhas, pizzas congeladas, almôndegas, quibes e outros produtos Perdigão.
O Cade queria estender a restrição para outros mercados, como salsicha e hambúrguer, mas aceitou repassar apenas parte significativa da capacidade produtiva da BRF aos concorrentes, mantendo a marca principal.
O conselho proibiu ainda a BRF de lançar uma nova marca nos mercados em que a venda com o nome Perdigão foi suspensa e em sete outros em que há grande concentração. O objetivo é evitar o que ocorreu em 1996, quando o órgão analisou a fusão Colgate/Kolynos.
À época, o conselho determinou a retirada da Kolynos do mercado por quatro anos, mas foi lançada a Sorriso, que ocupou o espaço deixado pela marca suspensa.
No pacote de ativos que serão vendidos pela BRF, estão 12 marcas secundárias, como Rezende, Confiança e Doriana, 10 fábricas, 22 unidades produtivas, entre abatedouros e granjas, e 8 centros de distribuição. Juntas, essas cadeias têm capacidade de produzir 730 mil toneladas de alimentos processados por ano, o que equivale a 80% da produção da Perdigão para o mercado interno.
Veículo: Folha de S.Paulo