Laser Eletro, a varejista que não tem dívida nem anuncia

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Com DNA chinês, Laser Eletro resiste à consolidação


Aberta em 1988 pelo empresário nascido em Taiwan Tzeng Uen, com os US$ 23 mil que ganhou do pai de presente de casamento, a Laser Eletro é uma das poucas redes varejistas de eletroeletrônicos nascida no Nordeste que não foi vendida para grandes grupos. Hoje naturalizado brasileiro e mais conhecido como Ricardo, Uen mantém princípios pouco comuns no segmento varejista. Um deles é trabalhar com endividamento zero, motivo pelo qual a rede paga seus fornecedores em, no máximo, 15 dias, prazo bem menor que os praticados normalmente no mercado, de até 90 dias.

 

Outra característica marcante do empresário refletida em seus negócios é a discrição. Apesar das 105 lojas, 2,3 mil funcionários e dos R$ 550 milhões de faturamento previstos para 2011, a Laser Eletro não é afeita a grandes investimentos em publicidade e prefere direcionar esses recursos para a redução de preços dos produtos.

 

Sem investir em mídia, rede pernambucana cresce com aposta em política agressiva de preços

 

Nos últimos 12 meses, a região Nordeste viu duas de suas maiores varejistas de eletrodomésticos serem incorporadas por gigantes nacionais do setor. Por centenas de milhões de reais, a paraibana Lojas Maia e, mais recentemente, a pernambucana EletroShopping foram adquiridas por Magazine Luiza e Máquina de Vendas, respectivamente. Entre as poucas "sobreviventes" da região, a Laser Eletro promete fazer o possível para se manter independente. A estratégia é uma mescla de agressividade e discrição, bem ao estilo de seu proprietário, o sino-pernambucano Tzeng Uen ou, simplesmente, "Ricardo".

 

Nascido em Taiwan há 51 anos, ele deixou o país asiático aos 12. O pai, comerciante do ramo de cereais, andava aflito com as repercussões internas da chamada "Diplomacia do Ping-Pong", implantada pelo presidente americano Richard Nixon (1969-1974) e que marcou a reaproximação entre os Estados Unidos e a China comunista. Na dúvida entre Austrália e Estados Unidos, a família acabou desembarcando em São Paulo, onde ficou até 1981. "Todo o inverno a minha mãe ficava doente. Como tínhamos alguns amigos em Recife, decidimos mudar para o Nordeste", relembra Ricardo, nome recebido de um colega de colégio e que acabou adotado pelo empresário.

 

Apesar de se considerar "praticamente brasileiro", devido à naturalização, Ricardo não abre mão de um traço oriental nos negócios, especialmente no quesito disciplina. Uma das palavras de ordem na Laser Eletro é trabalhar com endividamento zero, motivo pelo qual a rede paga seus fornecedores em, no máximo, 15 dias, bem abaixo do que se pratica no mercado, onde os prazos chegam a 90 dias. "Dessa forma eu consigo comprar sem juros, o que me ajuda a reduzir o preço final", diz ele. A prática da rede foi confirmada por um grande fornecedor de eletrodomésticos do Nordeste, que preferiu não ter seu nome publicado.

 

Outra característica marcante do empresário refletida em seu negócio é a discrição. Apesar das 105 lojas, 2,3 mil funcionários e dos R$ 550 milhões de faturamento previstos para 2011, a Laser Eletro não é afeita a grandes investimentos em publicidade, optando por direcionar esses recursos para a redução de preços dos produtos. "A gente deixa o concorrente ficar gritando na televisão. Nossa guerrilha é dentro da loja e no boca a boca da rua", afirmou Ricardo, que também costuma evitar entrevistas e aparições públicas.

 

É com essa receita que ele vem tentando resistir ao assédio das gigantes sobre a sua rede, criada em 1992. A Laser Eletro surgiu de uma pequena loja de artigos esportivos, aberta em 1988 com os US$ 23 mil que ganhou do pai como presente de casamento. O comércio de bolas e chuteiras ainda sobreviveu paralelamente ao de eletrodomésticos até 1994, quando o otimismo gerado pelo Plano Real se refletia em um aquecimento do mercado bens duráveis. "Vi que era a hora de apostar só neste segmento", conta.

 

Diante dos bons resultados obtidos com as primeiras lojas, todas localizadas em shopping centers da capital pernambucana, o empresário abriu a primeira unidade de rua no centro do Recife e não parou mais de crescer. A décima filial foi inaugurada em João Pessoa (PB), marcando o primeiro passo da expansão da Laser Eletro para além das fronteiras de Pernambuco. Hoje há lojas em todos os Estados do Nordeste, com exceção de Piauí e Maranhão.

 

E a rede só não está nesses dois Estados devido a uma batalha judicial que trava com os antigos donos do Armazém Nordeste, varejista piauiense adquirida no ano passado. Sem querer se aprofundar no tema, Ricardo contou apenas que está lutando na Justiça para tomar posse das 31 lojas adquiridas, algumas das quais estão no Maranhão e no Ceará. Antes dessa operação, a Laser já havia comprado outras redes menores da região (Marajá e Ponte Magazine). No fim de 2010, arrematou 11 lojas da Tradição Móveis, varejista com forte atuação no sertão pernambucano.

 

Segundo Ricardo, ainda há muitas oportunidades de aquisição de pequenas e médias varejistas nordestinas, porém ele preferiu não adiantar eventuais alvos ou negociações. "Não é porque são redes menores que eu vou dizer que estão à venda. Tenho muito respeito por todos eles. Já fui pequeno um dia", afirmou o empresário, com a cautela que lhe é peculiar.

 

Da mesma forma, ele diz respeitar a estratégia das gigantes nacionais, mas garante que vai "matar um leão por dia" para não ser absorvido. Para isso, está investindo quase R$ 45 milhões na troca de sistemas de gestão, modernização de lojas e construção de um grande centro de distribuição no Grande Recife. Até o fim do ano, quer iniciar vendas on-line.

 

"Tenho que continuar crescendo para continuar no mercado. Não passa pela minha cabeça vender. Não digo que não vai acontecer nunca, mas estou trabalhando para evitar que aconteça", disse Ricardo. O chinês admite já ter recebido algumas propostas para vender a Laser Eletro, mas não revela o nome dos interessados. A devoção oriental com que ele defende a empresa evitou que as negociações avançassem muito. "Não chegou nem ao ponto da proposta financeira", disse.

 

Veículo: Valor Econômico


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