Durante gerações, o imaginário infantil acreditou que tudo o que se via na tela da TV acontecia dentro do aparelho. Aquela protuberante caixa, nas "costas" do televisor, era capaz de guardar miniaturas de gente, bichos e cenários. Tal ilusão está prestes a se desfazer de maneira definitiva. E não só porque as crianças cresceram ou ficaram mais espertas.
A velha TV de tubo, que nos últimos 15 anos evoluiu para um modelo mais estreito, o "slim", vive o seu ocaso no Brasil. Os aparelhos desse formato registraram queda brutal nas vendas no primeiro semestre deste ano: 50% em volume e 61% valor em relação aos seis primeiros meses de 2010. Este mês, a LG - uma das líderes mundiais de televisores, que era uma das três marcas mais vendidas de TVs de tubo no Brasil - decidiu encerrar a produção do modelo no país. A sua única linha dedicada à fabricação do produto na Zona Franca de Manaus acaba de ser convertida para a produção de modelos LCD.
"Trata-se de um mercado que vem caindo substancialmente", diz Fernanda Summa, gerente de produto da LG. "Pela condição de crédito que o varejo oferece, com preços cada vez menores, o consumidor prefere levar para casa a TV de tela plana", diz. Nas lojas, uma TV de tubo 21 polegadas da LG pode ser encontrada a R$ 400. Já um modelo de LCD 22 polegadas da fabricante sai por R$ 700.
Ao lado de Semp Toshiba e da Philco, a LG era uma das três maiores marcas do segmento de CRT (sigla em inglês para tubo de raios catódicos, componente importado usado nesse tipo de aparelho). Mas as vendas em queda livre desanimaram a fabricante, que ainda mantém a produção do aparelho na Índia e algumas outras economias emergentes.
Entre janeiro e junho de 2011, foram comercializadas no Brasil 960 mil unidades de TV de tubo, gerando um faturamento de R$ 385 milhões. No período, o mercado total de televisores movimentou R$ 7 bilhões, com a venda de 4,8 milhões de aparelhos, segundo a consultoria GfK. Entre dezembro de 2010 e junho de 2011, a fatia das TVs de tubo nas vendas da categoria caiu de 35% para 20% do volume. Em valor, a participação despencou de 12% para 5%.
Das quatro maiores marcas de TVs no país - Samsung, LG, Philips e Sony -, apenas a Samsung persiste na fabricação de TVs de tubo. Ainda assim, analisando dia a dia a operação, para saber se os custos não são maiores que o lucro, diz Benjamin Sicsu, vice-presidente de novos negócios da Samsung para a América Latina. "É um produto em extinção", diz Sicsu. "Mas ainda existe um mercado consumidor e sempre é possível ficar com a fatia de quem sai da disputa". Na Samsung, as TVs de tubo representaram 8% do valor das vendas de televisores no primeiro semestre.
Segundo a GfK, a maior demanda por TVs de tubo no país está no Nordeste (27% do volume no primeiro semestre), seguido pelo mercado que compreende os Estados de Minas, Espírito Santo e interior do Rio (19%) e pelo interior paulista (14%).
Os modelos de tela plana LCD são apresentados em formatos menores, o que torna a nova tecnologia mais acessível. Essa facilidade de se adaptar a diferentes tamanhos não é possível com o plasma, diz Sicsu. "O menor tamanho possibilitado pelo plasma é o de 30 polegadas, daí a falta de interesse das fabricantes pela tecnologia".
Já as telas de LCD (cristal líquido) e de LED (diodo emissor de luz) estão presentes nos mais diferentes aparelhos, desde notebooks e televisores gigantes de 50 polegadas, até GPS e celulares. Por meio dessas novas tecnologias, é possível transmitir, na TV, imagens em três dimensões (3D). Ninguém mais precisa imaginar que existe um mundo em miniatura dentro do televisor - ele extrapola a tela.
Veículo: Valor Econômico