Donas de casa já representam 58% dos que fazem compra no atacado

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Em busca de preços baixos, o consumidor final tem optado por este modelo para fazer a compra do mês. É o que mostra um levantamento da Kantar Wordpanel, cujos resultados apontam para as características de um público (concentrado nas classes A e B) que, apesar de não ser varejista nem transformador, recorre a esse segmento para economizar dinheiro

 

Tradicionalmente destinado às compras graúdas, feitas por varejistas e transformadores, o modelo atacadista é cada vez mais procurado pelo consumidor final: 58% dos clientes são donas de casa com mais de quarenta anos de idade, o que tende a mudar o comportamento das redes, pelo menos no sentido do atendimento. Uma pesquisa da Kantar Wordpanel obtida com exclusividade pelo DCI mostra que quase a metade desse público vem das classes A e B.

 

"O atacado oferece um mix de produtos interessante à pessoa jurídica, mas também tem preços e ofertas interessantes para o consumidor final", comentou o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), Álvaro Furtado. De fato, 80% das categorias ofertadas pelos atacadistas apresentam média de preço inferior à do modelo de autosserviço, que inclui super e hipermercados.

 

"O que motiva a decisão de compra no atacado é justamente a oferta, o apelo do preço", reforçou a diretora de Varejo da Kantar Wordpanel, Fátima Merlin. A despeito das mercadorias mais baratas - que viriam ao encontro da classe C -, os consumidores que mais têm usufruido o modelo pertencem às faixas de renda A e B, que contêm 46% do público em questão, ainda segundo a pesquisa, que estabelece os dados com base no ano de 2010.

 

"O "atacarejo" não é um modelo novo. Surgiu antes do Atacadão e do Assaí, com a criação do Makro Atacadista, há cerca de vinte anos", contou Furtado. "Essas lojas costumam ter preços mais acessíveis que os hipermercados", afirmou.

 

Fátima, por sua vez, observou que a mudança do patamar de renda do brasileiro, com a inerente ascensão da classe C, obriga os modelos comerciais a se adaptarem às novas demandas do consumidor. "Os canais estão cada vez mais multiformatos e multifuncionais", disse ela. "Nessa disputa, os canais alternativos, como o 'atacarejo', se fortalecem".

 

Para a diretora de Varejo da Kantar Wordpanel, a característica principal do modelo, sob o ponto de vista do consumidor, é a agilidade da compra. "O cliente entra e sai rapidamente do estabelecimento, fazendo aquisições mais racionais", disse ela.

 

Concentração carioca

 

Entre 2009 e 2010, a penetração do atacado na mancha urbana do Rio de Janeiro aumentou de 11% para 18%, de acordo com a pesquisa. No interior fluminense, cresceu 2%. Por outro lado, na Região Metropolitana de São Paulo e no interior paulista, o raio de atendimento do modelo recuou 1% e 2%, respectivamente.

 

"O canal vem crescendo em diversas regiões do País, principalmente na Grande Rio de Janeiro", atestou Fátima. "Em São Paulo, o formato já é forte: cerca de 40% dos consumidores o utilizam."

 

Para o presidente do Sincovaga, a expansão do modelo atacadista em terras cariocas se deve a uma questão geográfica. "Intuitivamente, acredito que a geografia da cidade favorece esse modelo. Os morros são ocupados por pequenos botecos, biroscas que não têm acesso direto aos distribuidores, então vão aos atacados, que também são 'atacarejos'", analisou Furtado.

 

Em outras Regiões do Brasil, como o Centro-Oeste, o Norte, o Nordeste e o Sul, o nível de penetração do formato teve pequenas variações positivas, entre 1% e 2%, nos últimos dois anos.

 

Norte e Nordeste

 

A pesquisa da Kantar Wordpanel também atentou ao nível de penetração de outros modelos da atividade comercial, como o de autosserviço. No ano passado, o canal ganhou espaço nas regiões Norte (5%) e Nordeste (3%), enquanto se manteve estável ou perdeu poder de atendimento em outras regiões do Brasil.

 

Atualmente, os supermercados marcam presença em 81% do território daquelas regiões, enquanto os hipermercados atendem a 25% dos mercados em questão. "O Norte e o Nordeste são a China do Brasil: regiões com potencial que têm atraído o varejo e a indústria. Supermercados e hipermercados têm ido com força para lá", observou Fátima.

 

Considerando todo o Brasil, os supermercados perderam 2% de presença e os hipermercados ganharam 1%. No total, respectivamente, atendem a 94% e 41% do território nacional, segundo o estudo obtido pelo DCI.

 

O raio de atendimento das farmácias, drogarias e perfumarias também cresceu, entre 2009 e 2010, de 45% para 48%, nos estados nortistas e nordestinos. Bem como o varejo de porta a porta, cuja presença chegou a 89% nas duas regiões.

 

Sediada na Inglaterra, a Kantar Wordpanel realiza estudos em 50 países. No Brasil, entrevista semanalmente 8.200 famílias, correspondentes a 81% da população. A companhia leva em conta, no Brasil, um universo de 46 milhões de lares.

 

Com crescimento real médio de 8% a 10% ao ano, o ramo atacadista e distribuidor chegou a faturar R$ 151,2 bilhões em 2010, de acordo com a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), que levanta os próprios dados em parceria com a empresa de pesquisa Nielsen.

 

A entidade registra que a tendência de crescimento do segmento foi iniciada em 2000, quando a participação de 38,7% no mercado de consumo de varejo alimentar subiu para o patamar atual, superior à metade (cerca de 53%) do abastecimento alimentício no Brasil.

 

O direcionamento dos serviços a pequenos e médios varejistas marcou o crescimento do segmento, segundo a Abad. Números da Nielsen revelam que 95% dos supermercados pequenos (de um a quatro caixas registradoras) e 40% dos supermercados médios (de cinco a 19 checkouts) são abastecidos por companhias atacadistas distribuidoras.

 

Veículo: DCI


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