Samsung investe US$ 300 milhões

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A histórica rivalidade que separa as cidades coreanas de Yeongdeungpo-gu, sede da LG Electronics, e Suwon, matriz da Samsung Electronics, está prestes a se repetir no interior paulista. Um mês depois de a LG detalhar o investimento de US$ 115 milhões no futuro polo industrial de linha branca em Paulínia, a 118 quilômetros da capital paulista, é a vez da Samsung revelar ao Valor a injeção de US$ 300 milhões na sua fábrica de eletrodomésticos em Limeira, a 148 quilômetros de São Paulo. Distantes apenas 50 quilômetros uma da outra, Paulínia e Limeira serão testemunhas da nova fase do mercado de eletrodomésticos, que promete ser sacudido pelas investidas das duas maiores fabricantes mundiais de eletroeletrônicos.

"A Samsung não entra em nenhum mercado com produção local para ser coadjuvante", diz José Fuentes, vice-presidente de eletrônicos de consumo da empresa no Brasil. A empresa prevê que a linha branca represente 10% das suas vendas no país em 2012. Este ano, esse índice deve ser de 2,5%. "É o jeito coreano de trabalhar", brinca o executivo, ex-prata da casa da Philips, há dois anos na Samsung. Trata-se de uma meta ambiciosa, considerando-se que a divisão de eletrodomésticos significa 7% do faturamento da Samsung no mundo, que foi de US$ 135 bilhões em 2010. No Brasil, as vendas somaram US$ 5 bilhões.

Segundo Fuentes, a margem de lucro na linha branca é o dobro da obtida na linha marrom (áudio e vídeo), que não passa de 3%. A maior parte dos recursos a serem investidos em Limeira virá da matriz, em Seul. O restante, da subsidiária brasileira, diz ele. Com a presença do governador Geraldo Alckmin, acontece hoje em Limeira o lançamento da pedra fundamental da fábrica de linha branca, a primeira da Samsung na América Latina. No Brasil, ela já tem dois complexos industriais, em Manaus e Campinas, para produzir TV, celular, câmera fotográfica, monitores e aparelhos de som. O terreno da nova fábrica, de 420 mil m2, foi doado pela prefeitura de Limeira. Serão contratados, nessa primeira fase, mil pessoas, diz Fuentes.

A Samsung vai contar com descontos no pagamento de ICMS e IPTU, que crescerão à medida que aumentar o conteúdo nacional nos produtos, cujo índice começa em 50%. "Ainda ao final do primeiro ano de atividade, queremos atingir 80% de nacionalização", diz Fuentes. Os incentivos devem ser concedidos durante cinco anos.

A fábrica está prevista para começar a operar na metade de 2013 - um ano depois da entrada em funcionamento da unidade da LG. Na Samsung de Limeira, serão fabricados no primeiro ano apenas geladeiras e máquinas de lavar roupa do tipo "lava e seca". As lavadoras estão presentes em apenas 45% dos lares brasileiros. Os refrigeradores, apesar de terem alta penetração, são na sua maioria aparelhos de uma porta.

Uma prévia da linha branca "made in Brazil" já poderá ser conferida pelos consumidores a partir do mês que vem. A Samsung está dobrando o seu atual mix de geladeiras e lavadoras, para 24 itens, com a importação de versões que serão fabricadas aqui. A partir de outubro, estarão no varejo refrigeradores, por exemplo, equipados com dois evaporadores que ajudam a manter temperaturas diferentes para o freezer e a parte que não deve congelar os alimentos. O preço inicial é de R$ 1.999. As lavadoras de roupa virão com um sistema que, segundo a Samsung, faz com que a roupa absorva o detergente mais rapidamente, com gasto menor de energia. O preço sugerido é de R$ 2.399.

"Com a fabricação local, os valores serão pelo menos 20% menores, considerando que não teremos mais o Imposto de Importação", diz Fuentes. A presença da marca também se tornará mais constante nos pontos de venda, uma vez que os produtos importados demoravam até quatro meses para chegar à loja, desde o momento do pedido. A empresa inicia agora as pesquisas de mercado para identificar quais produtos de linha branca vai começar a fabricar a partir de 2014 no país.

Segundo Fuentes, a proposta é trabalhar em eletrodomésticos top de linha e de preço médio. "Vamos trazer alta tecnologia a preços acessíveis, abrindo espaço para produtos como as lavadoras 'front load' [abertura frontal], que hoje são apenas 10% do mercado, mas que economizam energia".

O mercado brasileiro de linha branca é dominado no Brasil pela americana Whirlpool, dona de Brastemp e Consul, e pela sueca Electrolux. Essas três marcas têm cerca de 70% do mercado.

As vendas de linha branca no país cresceram 7% em valor e 5,6% em volume no primeiro semestre, em relação o mesmo período de 2010, segundo a GfK. No mesmo período, a venda de TVs de LCD e LED, categoria dominada por Samsung e LG, disparou: alta de 41,5% em unidades e 12,9% em valor.

Resta saber se Samsung e LG pretendem encabeçar, na linha branca, a guerra de preços que puxou para baixo o valor das TVs de tela plana. Fuentes descarta a possibilidade. "Não vamos trazer condições irreais para o mercado brasileiro", diz. "Queremos que ele seja auto-sustentável".


Veículo: Valor Econômico


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