Varejistas 'novatas' atraem fundos e concorrentes

Leia em 3min 10s

Há um grupo de redes varejistas novatas que surgiram na primeira metade da década de 90 - início do período de estabilidade econômica no país - que estão no radar de tradicionais cadeias nacionais e estrangeiras interessadas em futuras aquisições.

São redes jovens, discretas, com 15 a 20 anos no mercado e criadas num período de mudança drástica do varejo brasileiro, quando o fim da hiperinflação acabou com os ganhos financeiros que maquiavam as perdas operacionais das redes. Muitas dessas novas varejistas, ainda sob o comando da primeira geração, dizem não ter interesse em se desfazer do negócio. Algumas aceitariam negociar, conforme apurou o Valor, a depender da proposta na mesa.

Companhias como a rede Ricoy criada em 1994 com foco na classe C e 74 pontos em São Paulo, e a cearense Lojas Rabelo, de 1993, com 78 lojas e crescimento de 27% neste ano, se destacam nesse grupo de jovens empresas com ativos interessantes, na avaliação de consultores.

O comando da Rabelo, da família de mesmo nome, teria sido procurado no ano passado por Luiza Trajano, do Magazine Luiza, observam fontes do setor. Mas a ideia de vender o negócio não agrada a empresa agora. E a Ricoy (que em 2010 cresceu 75%) já foi discretamente sondada pelo Grupo Pão de Açúcar, há cerca de dois anos, mas não aceitou negociar, apurou o Valor. "Se pagarem o que eu quiser podem ficar com a empresa", comentou à época com um amigo próximo Paulo Tadao, sócio da rede Ricoy, criada com a união das redes Riviera e Yokoi.

Em outros dois segmentos, a catarinense Havan, uma das poucas lojas de departamento de grande porte no país, e a capixaba HortiFruti, com 23 lojas e R$ 530 milhões de receita prevista em 2011, já teriam sido sondadas por investidores e varejistas interessados no negócio. A Havan, do empresário Luciano Hang, 49 anos, tem sido constantemente assediada por fundos que investem em companhias, "mas Luciano é muito novo e pensa nisso antes de aceitar conversar com esses investidores", conta uma fonte próxima à rede, com 27 pontos.

Essas empresas com menos de 20 anos no mercado (só a Havan surgiu mais cedo, em 1986) se estabeleceram num momento de transição do setor. Até a abertura de mercado e início do Plano Real, varejistas no Brasil escondiam ineficiências nos ganhos inflacionários. "Elas tinham altos ganhos financeiros com juros elevados e especulavam com o estoque", disse Albertino Serretino, sócio da consultoria GS&MD Gouvêa de Souza. Com estoques mínimos, a empresa podia usar o capital para obter lucro alto no sistema financeiro.

O fim da inflação acabou com esse ganho, mas as redes criadas nas últimas duas décadas não enfrentaram essa mudança na forma como gerir o negócio. "Nós começamos a operar dentro de um cenário muito mais tranquilo. Era fácil nos organizarmos porque você sabia que os ganhos vinham da venda", disse Richard Saunders, fundador da Eletroshopping, criada em 1994 e com 148 lojas no país. Neste ano, a rede do Recife (PE) se uniu ao grupo Máquina de Vendas, companhia criada da união de Ricardo Eletro e Insinuante.

Na avaliação de Nelson Barrizzelli, professor de economia da USP e especialista em varejo, o bom desempenho dessas "novas" varejistas não é explicado apenas pelo período em que surgiram. "As redes criadas no início da fase de estabilidade não passaram pelo processo de ajuste em sua gestão como as mais antigas", disse. "Elas surgiram dentro de um ambiente em que regras básicas do varejo, como conhecer o seu público e ter um ambiente de loja adequado, eram fundamentais para a operação dar certo", afirmou ele. "Mas isso não quer dizer que elas sejam empresas melhores que as outras já existentes, que tiveram que se readequar após o fim da inflação".

As empresas citadas na reportagem foram procuradas, mas não quiseram se pronunciar.


Veículo: Valor Econômico


Veja também

Vendas de resinas devem cair em 2011

Contrariando as perspectivas otimistas de expansão do início do ano, as vendas de resinas termoplás...

Veja mais
Nova ecolimpeza

Alimentos orgânicos, roupas feitas por meios de produção sustentáveis, a busca pelo menor uso...

Veja mais
Austrália destrava exportação de trigo

O governo australiano decidiu abolir o órgão que regula suas exportações de trigo - Exporta&...

Veja mais
Grupo Pão de Açúcar contrata 50 profissionais com deficiência no Vale do Paraíba

Vagas são para São José dos Campos, Taubaté, Pindamonhangaba, Lorena e Campos do Jordã...

Veja mais
Mercado nacional de trigo esboça reação

O mercado brasileiro de trigo começou a dar sinais de recuperação em algumas regiões nesta q...

Veja mais
Brasil deve faturar US$ 8,9 bi com as exportações de café

Já o volume das vendas externas deve ficar parecido com o de 2010. Nem a crise europeia ou o retorno colombiano a...

Veja mais
Uso de redes sociais desafia as empresas

Grandes companhias se dizem em transição, sem definir se proíbem ou estimulam empregados a se conec...

Veja mais
Grupo Extra reposiciona marca em nova campanha

Com investimento de R$ 10 milhões, varejista quer mostrar a rede como multiformatos e foco na família O E...

Veja mais
Prazos de entrega de produtos são descumpridos

O número de queixas sobre descumprimento do prazo de entrega de produtos no Procon de Belo Horizonte, no per&iacu...

Veja mais