A escassez de motoboys em BH compromete as entregas rápidas
Sobram vagas e faltam profissionais qualificados para a função de motoboys em Belo Horizonte. A constatação é dos empresários do setor de entregas rápidas. A ausência de qualificação profissional e as exigências da nova lei que regulamenta a atividade estão entre os principais motivos do não preenchimento das vagas em aberto.
Dos cerca de 1,3 milhão de motos que, segundo o órgão municipal de trânsito, a BHTrans, circulam pelas ruas da Capital (13% da frota do município), apenas 30 mil, de acordo com estimativa do Sindicato dos Motociclistas Profissionais de Minas Gerais, oferecem o motofrete. Mas nem todos estão disponíveis ou adequados para atender o mercado.
"Eles estão se adaptando às exigências da lei. A demanda é grande, com três a seis vagas em aberto por dia no sindicato, e a tendência é aumentar já que com as vendas pela internet quem faz a entrega são os motoboys", disse o diretor do sindicato Geraldo Andrade.
A escassez já reflete no setor de entregas rápidas e gera reclamações, como da empresária Stela Maris, proprietária da Prontoboy Express, que diz estar sendo obrigada a recusar clientes.
"Não se acha motoboy com facilidade. Os bons profissionais estão saindo para trabalhar em outras profissões. Não sei o que está havendo, mas já perdi vários serviços e se continuar desse jeito vamos ter problemas em atender as demandas do final do ano", avalia a empresária. Com mais de 20 anos no mercado, a Prontoboy Express oferece salário de R$ 1.100, além da ajuda de custo, para conseguir manter os funcionários contratados.
O mesmo dilema vive a Expresso Classe A, que há semanas está com pelo menos 20 vagas em aberto. Segundo o gerente Alexandre de Paula, nem o salário que pode chegar a R$ 1.400 tem sido atrativo para os profissionais.
"A falta de motoboys vem desde o ano passado, mas se agravou agora com a chegada do fim do ano em que a demanda por entregas rápidas é maior. A gente conta com 20 trabalhadores e precisaria dobrar esse número para atender a demanda. Mas há evasão desses profissionais para outras áreas e os poucos que restam no mercado fazem leilão para tentar altos salários", disse.
O gerente da Dukar Despachante, Luiz Carlos Batista, teve mais sorte e há uma semana contratou um profissional com registro em carteira, salário de R$ 800, mais R$ 250 pelo aluguel da moto. Mas ele admite que não foi fácil encontrá-lo no mercado. "Eu tive sorte de conseguir a indicação de uma pessoa, mas a empresa que não tem essa facilidade chega a esperar até dois meses para contratar. Os motoboys que estão circulando hoje pela cidade preferem fazer bico, não se adequaram à nova exigência legal", explica.
Legislação - Sancionada em julho de 2009 pela Presidência da República, a lei que regulamenta a função de motoboy prevê que a profissão só pode ser exercida por pessoa com idade mínima de 21 anos, dois anos como condutor de motocicleta (categoria A). A atuação depende, ainda, do uso de coletes de segurança equipados com dispositivos refletivos.
Em Belo Horizonte, a fiscalização cabe à BHTrans, mas as empresas estabelecidas na Capital, que fazem entrega de produtos por motocicletas, deverão verificar se o profissional, seja ele autônomo ou contratado, trabalha de acordo com a legislação.
A Lei Municipal 10.220, sancionada em julho, regulamenta o exercício de transporte de pequenas cargas em motocicletas e similares no município de Belo Horizonte. Ela só entra em vigor a partir de 2012. A partir daí, as empresas de transporte deverão cadastrar o motoboy na BHTrans e exigir dos profissionais que se submetam a exame após curso especializado, ser proprietário, locatário ou comodatário da moto.
Sebrae-MG - O analista do Sebrae-MG, Cássio Duarte, lembra que os motoboys que trabalham informalmente têm mais um motivo para se tornarem empreendedores individuais. Para ele, "buscar a formalização pode ser a garantia para a continuidade da prestação de serviços, já que os estabelecimentos comerciais vão exigir a legalidade dos motoboys".
O excesso de informalidade no setor de motofrete é, hoje, o maior gargalo do ramo, segundo aponta Geraldo Andrade. "Isso nada mais é que reflexo do baixo piso da categoria, que recebe em média R$ 800, e obriga o profissional a fazer diversos bicos ou mesmo desistir da função. É difícil estabelecer a causa para a falta de profissional, mas o motoboy é uma profissão onde se arrisca por pouco salário", disse o sindicalista.
Veículo: Diário do Comércio - MG