Doce ou saudável? O dilema da General Mills

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A gigante americana de alimentos General Mills Inc. vem batalhando desde 2005 para tornar seus cereais matinais mais saudáveis, mas com alguns produtos ela diz que está atingindo um limite em termos de doçura.

Os cereais de aveia precisam não somente ser doces o suficiente para manter o interesse das crianças: eles também devem boiar sobre o leite por no mínimo três minutos. Isso foi um desafio para a companhia, em seu esforço para reduzir a dose de açúcar de 15 gramas para 10 gramas por porção. A General Mills, que no Brasil é dona da linha de sorvetes Häagen-Dazs e das barras de cereais Nature Valley, se comprometeu a diminuir a quantidade de açúcar em seus cereais para um único dígito nos próximos anos, mas seus experimentos às vezes encontram barreiras.

"Todos os ingredientes que colocamos nas nossas receitas estão lá por várias razões. Se simplesmente retirarmos o açúcar, ninguém vai querer comer o que sobra, independentemente do grau de doçura", diz John Mendesh, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da divisão de cereais Big G da companhia.

Alterar os produtos sem introduzir outros problemas - e manter o sabor agradável - é um desafio que todas as fabricantes de alimentos enfrentam. Ele vem aumentando à medida que os consumidores se tornam mais conscientes sobre os produtos industrializados que ingerem. Nos Estados Unidos, o problema é ainda mais grave porque os fabricantes são criticados com frequencia por impulsionar a obesidade do país.

Mas para as empresas de alimentos, mudar a fórmula de produtos não é apenas uma questão de relações públicas. A General Mills notou, por exemplo, que seus itens de maior crescimento são aqueles que possuem algum tipo de selo de qualidade aprovado pela agência de vigilância sanitária americana, conhecida pela sigla FDA.

Seis anos atrás, a General Mills, que tem sede em Mineápolis, no Estado americano de Minnesota, decidiu "repaginar" seu portfólio de produtos. Para aumentar o aspecto "saudável" de um produto em particular, ela determinava como meta tirar 10% de algum ingrediente da lista ruim, como sódio, açúcar, gordura ou calorias, ou aumentar em 10% algo da lista boa, como vitaminas, fibras ou grãos naturais.

Para garantir a durabilidade dos cereais no leite com a redução da dose de açúcar, a companhia adicionou grãos naturais ou fibra para reforçar a textura. E para atingir um nível de doçura que ainda despertasse o apetite das crianças, cientistas da área de alimentos adicionaram sabores naturais ou mudaram a posição do açúcar de dentro do floco para sua camada externa, o que, segundo Mendesh, "muda a forma como seu paladar recebe o doce".

Mas no que se refere à diminuição do açúcar, a General Mills não acredita que pode ir muito mais longe.

"Nós sabemos que com nove gramas por porção você está num ponto em que a quantidade de açúcar é tão baixa que não será suficiente para levar uma criança a comer o cereal no segundo dia, depois de tê-lo experimentado no primeiro", diz Susan Crockett, que chefia o Instituto de Saúde e Nutrição Bell da General Mills, uma divisão de pesquisa sobre nutrição. "Estamos perto do limiar da doçura em cereais."

O avanço, é claro, só pode ser medido pela reação dos consumidores, e aqueles que se opõem aos cereais matinais açucarados dão pouco crédito aos esforços da companhia.

"A General Mills tem dado alguns passos positivos no sentido de reformular seus cereais. Mas eu ainda não usaria muitos de seus produtos para o público infantil na alimentação dos meus filhos", diz Margo Wootan, diretora de política nutricional para o Center for Science in the Public Interest, um grupo que fiscaliza a indústria de alimentos.

"Eles dizem que reduziram para dez gramas por porção a concentração de açúcar, mas o tamanho das porções é de 30 gramas ou menos. Um terço do que é servido ainda é açúcar", acrescenta Margo. "Fabricantes de alimentos fazem cereais mais saudáveis e com pouquíssimo açúcar para adultos. Então por que eles não conseguem fazer e vender cereais mais saudáveis para crianças?"

Baixar o nível de sódio também é difícil. Quando a General Mills tentou reduzir o sódio de um tipo de croissant de baixo nível de gordura, o produto embolorou rapidamente. "O sódio tem um papel no balanceamento da umidade e retarda o crescimento do bolor", diz Crockett.

Muitas fabricantes de alimentos mudaram suas receitas num esforço para apaziguar tanto ativistas quanto consumidores atentos a questões ligadas à saúde, frequentemente sem chamar atenção para as alterações.

A McDonald's Corp. teve receio de que se fritasse suas batatas em óleo sem gordura trans estragaria o sabor desse ícone da marca. Então quando a mudança finalmente foi feita, não houve nenhuma divulgação até bastante tempo depois de completada a transição. Da mesma forma, a Kraft Foods Inc. tirou a gordura trans das bolachas Oreo sem chamar atenção para a mudança na embalagem.

A Kellogg Co. também reduziu a quantidade de açúcar de seus cereais. Antes de 2007, a média de açúcar por porção nos seus produtos das marcas Froot Loops, Apple Jacks e Corn Pops era de 15 a 16 gramas; hoje esse nível varia de 10 a 12 gramas na média.

A Generall Mills ainda não fez publicidade sobre a redução de açúcar nas caixas de seus cereais porque as mudanças foram feitas gradualmente. Essa abordagem "discreta" de eliminação do açúcar, diz Crockett, ensina os consumidores a se acostumar aos poucos com a menor quantidade do ingrediente.

No último ano fiscal, terminado em 29 de maio, a companhia informou que melhorou seu portfólio de produtos que representavam 25% de seu volume de vendas de varejo nos EUA, elevando para 64% o percentual total de produtos que já tiverem a fórmula alterada.

A General Mills não divulga quanto gastou para adaptar seus produtos, mas diz que desde 2004 aumentou suas despesas de pesquisa e desenvolvimento em iniciativas na área de saúde e bem-estar em 75%.

No último ano fiscal, 56% de suas vendas globais vieram de produtos que a companhia classifica como "melhor para você".


Veículo: Valor Econômico


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