Homem eclético busca uma nova fragrância

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Já houve um tempo em que um cheirinho de limpeza era tudo o que um homem de bem se permitia, no quesito perfumaria. Não foi à toa o sucesso da Eau Sauvage, de 1966. Primeira fragrância masculina criada pela Maison Dior, ela seguia a linha dos "cítricos aromáticos", com uma mistura de alecrim, manjericão, lavanda, limão, laranja e tangerina. Foi a primeira incursão masculina para além da loção pós-barba e da brilhantina. Nos anos 70, foi a vez da "família chipre" reinar, com uma combinação de notas críticas em contraste com um fundo de musgo, carvalho e patchuli. Os homens de hoje estão mais ecléticos e buscam uma fragrância nem tanto ao céu, de frescor total, nem tanto à terra, com cheiro de madeira intensa.

A tendência da vez pede uma fragrância levemente amadeirada, que evoca masculinidade e sofisticação. Embora a família olfativa mais apreciada no mercado masculino, globalmente, seja a "fougère" (fragrâncias refrescantes com notas de bergamota, lavanda, gerânio, rosa, musgo e madeiras), "os novos produtos estão explorando notas de madeira e âmbar", diz Claudia Collaço, responsável pela perfumaria fina da Symrise. O resultado dessa mistura são perfumes mais marcantes e sensuais.

A especialista em perfumes Renata Ashcar, autora do livro "Brasilessência - A cultura do perfume" (Ed. Best Seller) confirma o interesse do público masculino, atualmente, pelos amadeirados florais, representados pelos perfumes 212 for Men, de Carolina Herrera, e Fahrenheit, da Dior. Estes dois ocupam, respectivamente, o segundo e o nono lugares na lista dos mais vendidos no Brasil, na categoria prestígio, segundo dados de 2009 da Euromonitor. Os representantes nacionais dessa categoria são o Biografia, da Natura, e o Arbo, de O Boticário, que ocupam a 6ª e a 21ª posição, respectivamente.

Renata chama a atenção para o domínio ainda forte das fragrâncias chamadas de "aromáticas fougère" - o Azzaro pour Homme (1978), da Azzaro ainda é o best seller na categoria prestígio, no Brasil. Essas fragrâncias reúnem, além das notas tradicionais do "fougère", alecrim, manjericão, tomilho e frutas cítricas. "Esses produtos, que dificilmente sairão da liderança, agradam pelo frescor acentuado", diz Renata.

Entre as fragrâncias nacionais que se enquadram na categoria estão o Kaiak Pulso e o Essencial, ambos da Natura, que ocupam as posições quatro e onze, no ranking de vendas do chamado "mercado de massa" da perfumaria nacional.

A indústria de perfumaria tem o desafio de fazer o consumidor buscar com mais frequência as prateleiras das boas casas do ramo. A oferta de fragrâncias para as mulheres ainda é maior - 70% do que é lançado pela indústria mundial destina-se a elas.

Os fabricantes vêm investindo em novidades, principalmente nos desdobramentos de perfumes que são sucessos de venda, caso do já citado Fahrenheit.

Criado em 1988, ele sempre esteve entre os mais vendidos no Brasil, segundo o departamento de marketing da Dior, que pertence ao grupo LVMH Parfums. Em agosto, foi lançada a versão Aqua Fahrenheit - terceiro "filhote" da família. De acordo com a casa francesa, o Aqua Fahrenheit "é uma nova faceta amadeirada fresca, com notas de hortelã do Brasil, pomelo italiano e vetiver claro do Haiti".

Para 2012, está previsto o lançamento de um novo integrante da família Dior Homme, que já conta com as versões Intense e Sport, além do perfume original, de 2005. Atrair o consumidor por algo que ele já conhece parece ser o caminho mais fácil.

A vice-presidente de marketing da importadora RR Perfumes, Barbara Kern, diz que o brasileiro não se contenta mais em usar um único perfume a vida toda, como faziam as gerações passadas. "Agora, as fragrâncias refletem o estado de espírito do homem", diz Barbara.

Enquanto cheiros fortes, como o chipre, caíram de moda, entraram em cena odores mais agradáveis, que não "impregnam" o ambiente. A tendência, talvez, tenha a ver com o nosso clima. "Na França, por exemplo, os perfumes orientais fazem sucesso. Mas aqui, menos de 20% do que é consumido pertence a essa família."

"De 2005 pra cá, observamos que os homens estão gostando de fragrâncias que incorporem sensualidade, por meio de notas florais. Essa tendência traduz o novo homem", diz Ricardo Cosenza, superintendente de treinamento da Dior. Segundo Cosenza, os toques de madeira não vão desaparecer da perfumaria masculina, por seu poder de fixação mesmo diante da transpiração.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), a categoria perfumaria (que reúne produtos masculinos e femininos) teve um forte crescimento no Brasil entre 2003 e 2008. Em 2009, o segmento atingiu vendas de US$ 4,81 bilhões, registrando crescimento de 5% e participação de 13,1% no mercado mundial.


Veículo: Valor Econômico


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